Cap 8 - Caçada

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Duncan passava a lâmina afiada com cuidado bem rente a pele de seu rosto coberto por uma espessa camada de espuma, era seu ritual matutino, tinha uma barba muito grossa e que crescia muito rápido, por isso todas as manhãs afeitava para manter-se apresentável, aparando seu bigode espesso para mantê-lo no formato correto. A noite fora longa e ele não havia dormido, durante horas, Zoar teve febre e em seu estado febril era atormentada pelas visões do passado e do futuro, perdida entre o tempo e o espaço revivendo momentos de vidas que nem sempre eram suas. Ele sabia que aquilo não poderia matá-la, ela estava bem além do alcance de qualquer doença mortal, e exatamente por isso também não haviam remédios que pudesse lhe administrar, só lhe restava amenizar seu sofrimento, fazer-lhe companhia e esperar que passasse. Aquilo acontecia por que ela havia deixado o Castelo de Grayskull em sua forma humana, tinha medo de que daqui alguns séculos talvez ela não pudesse sair daquele lugar nem mesmo na forma de falcão, mas não sabia se isso tinha algum fundamento e nem viveria para ver, caso esse dia chegasse.

Havia dentro do castelo um cômodo para ele, não que houvesse reivindicado algum, mas acabou acontecendo, conforme ele se recusava a deixa-la por muito tempo sozinha. Jamais se atreveu a trazer mais do que o necessário para sua estadia, era apenas um quarto de pedra com moveis simples de madeira e uma cama confortável com um banheiro em anexo. E ele só estava ali por que ela finalmente dormia tranquila, pretendia ficar apresentável e fazer uma refeição decente, não que ela precisasse comer de verdade, mas acelerava sua recuperação se mantivesse os hábitos regrados, e embora ela não sentisse mais a necessidade de se alimentar quase nunca, apreciava o sabor e o ato de dividir com ele uma refeição. Por isso ele fazia questão de lhe prover esses pequenos prazeres humanos era pouco, mas era o que poderia lhe oferecer, ou pelo menos, era o que ela poderia aceitar de tudo que ele lhe oferecia.

Jogou sua camisa por cima do ombro e pegou um arco velho de madeira e uma aljava que passou por cima do peito nu. Estava quente e ela dormia então não julgou inapropriado ficar apenas de bota e calças. Pegou uma pequena caixinha que trouxera em sua mala de viagem e retirou de lá uma de suas doses matinais que engoliu com uma careta. Saiu para caçar o almoço.

Pela janela de sua alcova ela o viu se afastando do Castelo, era belo mesmo com a chegada da idade, se perguntava como seria se tivesse tido a chance de envelhecer, pensar em seu rosto marcado pela passagem do tempo era algo que as vezes lhe vinha à mente. Tinha o hábito de observá-lo de longe, mas não se sentia bem o suficiente para mudar de forma e segui-lo com seus olhos de falcão. Sabia que deveria ocupar seu tempo vigiando a Chama Eterna, e controlando o fluxo mágico do planeta, mas não conseguia conter o impulso de pelo menos por algumas horas do dia mudar de forma e voar para poder vê-lo nem que fosse de longe, e ver sua menina também... essa pequena irresponsabilidade já era frequente a mais de trinta anos, mas foi só nos últimos vinte e seis que se intensificou, com o nascimento de Teela.

Andando pelos corredores de pedra seu olhar foi atraído pelo cômodo que lhe cedeu, estava exatamente como era antes dela tê-lo oferecido, com exceção das malas que ele trazia quando vinha para ficar, percebeu uma pequena caixinha em cima da cômoda, ao lado das coisas que ele usava para cuidar da barba e do bigode. Sabia que tipo de caixeta era aquela... já havia visto antes, e conhecia o conteúdo, geralmente papelotes de um pó branco de gosto amargo. Crispou os lábios aflita, sempre soube que eventualmente essas coisas aconteceriam, mas o tempo parecia lhe escorrer tão rápido pelos dedos...

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Adora acompanhava como podia, tinha um condicionamento físico invejável, mas não conseguia ser tão rápida quanto Catra, na verdade estava se sentindo pesada e lenta como se estivesse carregando uma carroça nas costas, isso por que as duas se juntaram a um bando para caçar logo pela manhã. Quando Linnus convidou a gata provavelmente não imaginava que a princesa iria querer se juntar a eles, mas ela praticamente se convidou antes mesmo que lhe oferecessem.

O Regresso da Princesa PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora