Cap 09 - O festival

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Edwina ouviu uma batida em sua porta, se apressou em abrir com a melhor expressão de simpatia que conseguiu, sua prima carregava nos ombros quatro grandes baldes de madeira utilizando um bastão dourado, provavelmente chutou sua porta. Quando entrou e colocou os baldes no chão o bastão desapareceu, e a loira movia os braços em movimentos circulares lentos para aliviar a tensão do peso.

- Isso parece muito pesado. – A morena observou.

- Nem tanto, mas depois de carregar aquele veado até a vila meus ombros estão reclamando. – A loira respondeu enquanto massageava com a mão direita o ombro esquerdo.

- Posso? – a mais velha perguntou apontando para um dos baldes e a loira assentiu curiosa em ver no que daria. A dama segurou com firmeza a alça do balde e o ergueu com esforço, era pesado, provavelmente ela não sustentaria aquele único recipiente cheio por um trajeto um pouco mais longo, quiçá quatro. O colocou no chão e observou suas mãos vermelhas, marcadas e já doloridas. – Como você ficou tão forte?

Adora agora havia invertido a massagem e embora ainda estivesse irritada por estar trancada pra fora do próprio quarto tentou não descontar sua frustração. Pensou um pouco, a prima parecia interessada e aberta... nos três dias em que viajaram juntas era a primeira vez que ela tentava uma conversa de verdade, então achou que talvez fosse bom tentar também.

- Fui criada no exército para ser um soldado perfeito, desde criança era obrigada a treinar, e a mulher que me criou era muito exigente. – Ela respondeu tentando não transparecer mágoa, mas ainda tinha muitos ressentimentos de Shadow Weaver. – Minha oficial superior queria que eu fosse uma arma, e ela era o mais próximo de uma mãe que tive.

- É horrível crescer com o peso da perfeição, isso eu posso compreender, meu pai exigia que eu me tornasse uma dama perfeita para conseguir um bom casamento que fosse beneficiar o reino. – Edwina se sentou na própria cama, não imaginava que a melhor forma de conseguir alguma conexão com alguém de sua família seria pelos seus traumas, mas já que era o que tinham em comum... que seja.

- Quando falhava quem era punida era a Catra, por isso eu me dedicava muito, ela passou por muitas coisas no meu lugar, algumas que nunca quis me contar. – Sentia-se culpada, sempre se sentia quando pensava no passado, talvez por isso as vezes perdesse um pouco a medida no instinto protetor. - Mas quando sai em missão a primeira vez e vi o que a Horda fazia, não pude voltar, eu desertei. A gente não precisa ser aquilo que nos criaram para ser.

- Quantos anos tinha quando desertou? – a duquesa estava legitimamente curiosa, era bom conversar com alguém no fim das contas.

- Dezesseis, e Catra ficou para trás, ela foi punida quando eu fugi, e depois acabamos tendo de lutar uma contra a outra por um tempo. – Falar do que viveram parecia não fazer jus ao que de fato foi. As palavras pareciam deixar tudo mais fácil.

- Estou tentando algo do gênero aos vinte e cinco, espero não ser tarde. – Ela suspirou cansada. – Mas o mundo é bem diferente do que eu imaginava... e não vamos fingir que estou mudando por altruísmo, eu sei que fugi por motivos egoístas.

- Tarde não é, quer dizer... sempre dá para tentar consertar as coisas, mas você sabe ser desagradável quando quer, e eu até entendo a parte de ter sido criada por alguém sombrio, mesmo, muito! – Adora tentou ser o mais gentil que podia com as palavras por que sabia que elas soariam duras. – Mas não dá para se esconder atrás disso para sempre, se seu pai é um babaca você pode optar por não ser, você não está mais com ele, mas continua reproduzindo o que ele te ensinou... parece que você usa seu pai como carta branca para ser desagradável e depois culpa-lo.

O Regresso da Princesa PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora