O Terno (Metamorfose)

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Terno, interno, exposto pelas lamparinas

Longos braços e mãos tecidas pelo tempo.

Marca-passo no passo, rasteira e controle.

Sem olhos sem reconhecimento, meu alimento.


Cercas que pulei e muros que construí

Com ajuda desse ser que me consumiu.

Minha janela em chamas, enxergo-o a sorrir

Instigante força prestes a explodir.


Combustão, agora estou em chamas.

Olhe pela minha janela, tenha medo.

Agora seus braços são imensos e me recolhem.

Eu aceito teu abraço e eles me encolhem.


Ele me surge elegante, interessante, sufocante.

Me oferece a palma e me carrega pra devastação,

Me faz engolir o choro, me convence sobre os sonhos,

Pesadelos pesados como o medo do alvorecer.


Dentro da minha sombra, dentro de um terno.

Barulhento dentro de um grito eterno.

A guilhotina nunca cessa e nunca mata,

Espero na agonia uma ressalva.


Quem puder mande um aviso externo

Fui acolhido por algum tipo de inferno.

Alimentado pelo preto no branco,

Sentado num banco, esperando a aula acabar.


O lugar que a consciência se encontra

Não é escuro, é elegante como um palácio.

Essa sombra faz de tudo para tornar mais agradável,

Me embala, finge que cuida, logo ruína em pedaços.


Deslumbrante ela me encanta com sensações moribundas

Espera que eu ceda, e entenda, que não tem escapatória.

Quando vai embora, leva as minhas sobras, sorri

Igual a uma serpente na espreita esperando minha hora.


Pintura: Les fils d i'homme - Rene Magritte, 1964.

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