Após a minha conversa com Claire no jardim. Nós entramos na casa da nossa mãe. A mesma estava entretida cantarolando músicas religiosas enquanto terminava de colocar a garrafa de café sobre a mesa.
— Estou sentindo a senhora muito animada, o que aconteceu? — Pergunto com um sorriso no rosto. Minha mãe suspira e sorri.
— Sim! Hoje mais cedo eu estive com a madre, e estou animada pelo festival de São João. Ainda fiquei sabendo que aquela diaba que esbarrei na igreja foi embora. — Eu e Claire nos entreolhamos. Minha mãe havia cismado com a Wanessa e sempre me pedia pra tomar cuidado porque ela conhecia a face do demônio.
— Mãe, se a senhora está falando da Wanessa, ela é uma ótima menina! Acho que é implicância sua. — Minha mãe encarou Claire como se pudesse matá-la com um olhar.
— Aquilo é o demônio disfarçado de mulher pra atentar seu irmão. Diversas vezes eu a peguei na missa o encarando de um jeito pecador. Ainda bem que seu irmão é um homem santo e não cai em tentação. — Eu pigarreei vermelho enquanto Claire escondeu o riso com as mãos no rosto.
— Mamãe, vamos mudar de assunto. Que tal se rezássemos para começar a comer esse lindo banquete que preparou, hum? — Ela prontamente assentiu e então rezamos, logo após comemos tudo que aguentamos daquele banquete, e descansamos terminando de tomar um café.
— E você Claire, já marcou a data para o casamento? — Minha mãe perguntou. Minha irmã fechou o semblante e suspirou se servindo de uma xícara de café. Ela me olhou como se buscasse apoio e eu a olhei com carinho.
— Não mãe, não vai ter mais casamento. — Minha mãe franziu o cenho.
— Como? Como assim, não vai ter mais casamento? — Minha irmã bufou.
— É isso mesmo que você escutou, mãe. Eu não quero e não pretendo casar!
— É por isso que eu gosto mais do Peter. Ele pelo menos seguiu os meus conselhos, soube ir pelo caminho de Deus! Já você... você é uma desviada! Um desgosto para mim. Como assim não vai casar? Você precisa ter um marido! O seu marido tem que tomar conta de tudo e você ser submissa a ele como a bíblia diz! Não uma mundana que quer se igualar aos homens.
— Mamãe... — Tentei intervir. Claire se levantou alterada e chateada.
— Ah sim, eu tenho que ser submissa a um homem se isso não é para mim? Ser obrigada a me deitar a força com ele? O que mais? Lavar, passar, cozinhar e viver uma vida de merda sendo traída, aguentando tudo calada enquanto viro escrava dele, fingindo ser uma "família feliz" perante a sociedade. Igual você foi com o meu pai? — Claire desferiu as palavras com agressividade e minha mãe se aproximou de Claire e desferiu um tapa em seu rosto. Eu rapidamente me levantei me colocando entre as duas.
— Não fala assim comigo nesse tom! Eu sou sua mãe!
— Será que é minha mãe mesmo? Por que pensando bem, acho que uma mãe, uma verdadeira mãe, iria querer a felicidade dos filhos a cima de tudo. Iria apoia-los em suas escolhas se este lhe faz bem. Iria amá-los, daria carinho, cuidado e proteção. Coisa que eu nunca tive com a senhora! — Claire gritou já chorando. — Outra coisa, saiba que eu não curto homens. Eu gosto de mulher e eu estou me apaixonando por uma! — Minha mãe encarou Claire horrorizada. Colocou a mão no peito e começou o drama...
— Meu Deus! Eu não estou passando bem... O que está acontecendo aqui? Eu... você... sai da minha casa sua pecadora! Eu não perdi meu tempo criando uma herege ao invés de uma pessoa normal!
— Já chega, mãe! Não vê que está magoando a Claire? Ela é sua filha! — Minha mãe sorriu negando com a cabeça.
— Essa maldita nunca foi minha filha! Ela foi um fruto de uma traição do seu pai! A mãe dela morreu no parto por castigo de Deus! E eu a peguei para criar, se eu soubesse que ela se transformaria nisso... teria deixado ir para um orfanato qualquer! — Eu fiquei estático escutando aquilo. Então Claire não era filha da minha mãe. A mesma parecia tão surpresa quanto eu. Mas mesmo em lágrimas, ela voltou a debater.
— Não sabe o alívio que me dá em escutar isso. Eu não sou sua filha! Obrigada, senhor! Obrigada por me livrar desse tormento. Por tanto, senhora, eu faço da minha vida o que eu bem entender. A senhora não se meta em minha opção sexual. Eu vou assumir meu relacionamento com essa garota custe o que custar e nem adianta fingir pra mim que está passando mal. Eu já conheço o seu jogo, Peter que é ingênuo demais para cair nas suas mentiras. Bom, eu estou saindo. — Claire disse apanhando sua bolsa em seguida em cima da cadeira. Mas logo eu a segurei pelo braço e respirei fundo sentindo a coragem que eu precisava.
— Eu também, mãe. Eu também estou indo embora.
— Oh, meu filho... já vai? Eu... eu vou assistir a sua missa mais tarde. — Minha mãe parecia transtornada, porém calma. Olhei para Claire que me olhou de volta e assentiu já sabendo o que eu estava fazendo.
— Não, mãe. Eu vou embora da cidade. Vou largar o sacerdócio. Eu não me sinto feliz sendo padre, e eu quero viver a minha vida. — Minha mãe rapidamente ficou branca.
— Você está brincando comigo, Peter! Você está com raiva porque eu escondi esse segredo... não é possível. Você não pode estar falando sério.
— Sim, eu estou. — Minha mãe começou chorar puxando os seus cabelos fortemente para baixo.
— Meu Deus! Me diz aonde foi que eu errei? Eu sofri tanto para criar esses malditos... Tive que deixar de viver o meu sonho de ser freira, para ser obrigada a me casar e a me deitar com aquele homem asqueroso e aguentar todas as agressões, abusos e traições daquele maldito para no final, vocês me desapontarem! — Minha mãe gritou com desespero. Nesse momento, ao saber disso eu senti pena dela. Ela também não era feliz, foi obrigada a cumprir um caminho que também não era pra ela e agora eu entendia essa obsessão por ela querer que eu siga o sacerdócio. Era o desejo dela de menina e graças a escolha de seus pais, ela não pode viver.
— Mãe... está vendo? A senhora não é feliz! — Ela me encarou ríspida.
— Eu seria se você cumprisse com a promessa. Você está me destruindo. — Abaixei a cabeça cabisbaixo. Claire ergueu meu rosto e sorriu triste.
— Não fraqueje agora meu irmão. É isso que ela quer... ela quer te deixar mal para que você continue cedendo aos desejos dela. Você não é uma marionete, não vê como ela é amargurada? Justamente porque seus pais a obrigaram fazer o que ela não queria. Não faça isso, ou você será destinado a ir pelo mesmo caminho. — Suspirei sentindo meus olhos arderem e assenti.
— Está certo. Eu vou mandar um e-mail para o arcebispo pedindo uma carta de dispensa para o sacerdotal explicando os meus motivos. Vou aguardar a carta e finalmente irei atrás da minha felicidade. — Eu disse certo do que eu queria. Claire sorriu em meio ao seu rosto triste.
— Isso mesmo meu irmão. Eu estou com você para o que precisar! — Assenti e saí de lá com Claire, largando a minha mãe quebrando a casa inteira com sua fúria. Eu estava cansado de ser manipulável e Claire foi de extrema importância para isso.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Meu Irresistível Pecado (COMPLETA)
Literatura FemininaEle: Um padre jovem, apenas 25 anos de idade. Abdicou de tudo para viver o sonho da sua mãe: servir o sacerdócio. Ela: Uma jovem inconsequente de 17 anos que pensa apenas em curtir a vida. A vida desses dois jovens tão distintos irá se cruzar quando...