Prólogo

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Vinícius

2009

Eu tinha recém-completados dezoito anos quando tive a minha última briga com o meu pai. A mais acalorada delas. Aquela que, eu estava certo, nos levaria a um afastamento sem volta.

Não que em algum momento da vida nós tivéssemos sido próximos.

Eu tinha conseguido uma bolsa de estudos em uma universidade no Rio de Janeiro, e tinha deixado muito claro que iria me mudar para lá. Mas no dia da mudança, meu pai decidiu que não permitiria aquilo, usando como argumentos a alegação de que eu tinha que me tornar um homem da fazenda.

Como se ele próprio fosse um.

Desde que meus avós haviam morrido e meu pai tinha assumido completamente a fazenda, que tudo ia de mal a pior. Não que a terra não desse retorno, mas meu pai, além de ser um péssimo administrador, ainda gastava grande parte dos lucros com suas amantes.

Mas o que mais me revoltava era que ele sequer se esforçava para esconder seus casos. Todos nos arredores sabiam. Minha mãe sabia, e ele não tinha qualquer vergonha disso.

— Se sair por essa porta, não precisa mais voltar! — ele ameaçou. Foi a última frase que permiti que ele dissesse a mim.

Simplesmente peguei minha mala no chão da sala e saí. Um amigo, que também estava indo estudar no Rio de Janeiro, me esperava em frente à casa com sua caminhonete, para irmos juntos.

Eu descia os degraus da varanda quando minha mãe me alcançou.

— Meu filho, por favor... Não vá embora assim, brigado com o seu pai. Se conversar direito com ele, estou certa de que ele vai entender...

— Eu não quero que ele entenda, mãe. O que eu não consigo aceitar é que, mesmo sabendo de tudo o que ele fez, você ainda o perdoe.

— Não é tão simples como você pensa, filho... — Ela levou a mão ao meu rosto em um gesto de carinho.

— Como não? Venha comigo, mãe. Vamos para o Rio de Janeiro. Além do auxílio da bolsa, eu pretendo arrumar um emprego, e vou conseguir sustentar nós dois. Eu vou cuidar de você. Não tem que permanecer ao lado desse homem.

— Seu pai tem problemas de saúde, meu filho. Eu não posso deixá-lo.

— Ele tem uma amante que pode muito bem cuidar dele. Você não precisa seguir sendo humilhada por ele desse jeito.

— Você não entende, meu filho. Minha vida está nessa fazenda.

— Tem razão, mãe. Eu realmente não entendo.

Meu amigo buzinou, demonstrando que estava com pressa para seguir viagem. A mão que minha mãe mantinha em minha face caiu no vazio quando eu me afastei. Eu odiava ver aquela dor nos olhos dela, mas realmente não conseguia entender tal decisão. Sabia que começar uma nova vida, do zero, em uma cidade grande poderia ser uma ideia difícil e até mesmo um pouco assustadora para ela, mas eu estaria ao seu lado. Estava disposto a cuidar dela.

Ainda assim, ela preferiu ficar naquela vida de humilhação à qual o estúpido do meu pai a submetia.

Eu não poderia forçá-la a nada, embora estivesse disposto a, quando me visse já estabelecido no Rio de Janeiro, ligar para ela e voltar a insistir na ideia de que fosse morar comigo.

Naquele momento, não me restava mais nada a dizer, a não ser a frase que pronunciei quando já me aproximava da caminhonete:

— Eu te ligo quando chegar lá.

Entrei no veículo e fomos embora, sem que eu olhasse nem uma vez para trás.

*****

Patrícia

2019

Eu sabia que não conseguiria ir longe.

Estava com a roupa do corpo e sem um mísero centavo no bolso.

Tudo o que eu carregava comigo era o meu filho, que ainda era apenas um embrião de poucas semanas dentro do meu ventre.

Na minha última consulta, apenas alguns dias antes, a médica me informou que ele, naquele tempo gestacional, media algo entre 6 e 8 milímetros. Era minúsculo, menor que os botões da camisa de marca que eu usava. Mas, ainda assim, foi aquela coisinha tão pequena que me deu a coragem necessária para me libertar.

Sem dinheiro e sem ter ninguém a quem recorrer, saí caminhando sem rumo. Até que, ao passar por um posto de gasolina, vi um caminhão abastecendo e pensei que talvez aquele veículo pudesse me levar a algum lugar o mais distante possível dali.

Sem que o motorista me visse, usei as rodas como apoio para conseguir subir na caçamba. O recipiente transportava placas de madeira e me encolhi em meio a elas, agradecendo pelos meus um metro e cinquenta e seis de altura, que me permitiam caber em um espaço tão pequeno. Fiquei ali deitada de lado, encolhida, de frente para a parte de trás da caçamba.

A viagem começou e eu torci para que fosse o mais longa possível, embora não tivesse levado sequer uma hora até que o veículo parasse. Ouvi vozes do lado de fora do veículo e torci para que aquela fosse apenas uma parada rápida antes de seguir para qualquer lugar longe da cidade, da região ou até mesmo do estado sem que eu fosse descoberta ali.

Contudo, logo percebi que aquilo não seria possível. Foi um enorme susto quando a parte de trás da caçamba foi aberta. E o susto não foi só meu.

O motorista, seu ajudante e uma senhora estavam ali, os três me olhando com seus olhos arregalados, provavelmente confusos com o que se depararam.

*****

Este prólogo é dedicado às queridas Dany e Gi, que fazem aniversário hoje! 😍 Parabéns, lindonas! Que esse seu novo ano seja repleto de felicidades, saúde e realizações! 🥳🎉🎂


Boa noite, meninas! Estou muito feliz em dar início a mais uma história por aqui! ❤️

E aí? contem para mim qual foi a primeira impressão de vocês sobre o Vinícius e a Patrícia ❤️

Beijos e até terça com o primeiro capítulo! Tenham uma linda semana!

Beijos e até terça com o primeiro capítulo! Tenham uma linda semana!

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