Capítulo seis

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Patrícia

Eu tinha conseguido me manter afastada durante a maior parte do dia. Fui ao banco e retornei para ajudar dona Helena com o bolo, saindo logo depois do almoço com o pretexto de verificar os trabalhos pela fazenda. Tínhamos poucos funcionários, mas todos eram muito empenhados. Aquele lugar era realmente especial para algumas pessoas.

Muito mais do que aquele babaca do Vinícius poderia imaginar.

Levei Rael comigo em todas as saídas. Confiava inteiramente em dona Helena para cuidar do meu bebê, mas achava que aquele era o momento de ela dar sua total atenção à neta que tanto sonhava em conhecer.

Porém, no dia seguinte, eu não consegui fugir de dona Helena. Desci um pouco mais tarde que de costume para o café da manhã, mas ela me esperou e pediu para que eu a ajudasse em um almoço, deixando claro que fazia questão de que eu participasse, junto com Rael.

Eu conhecia bem os pedidos de ajuda de dona Helena na cozinha. Ela era uma cozinheira de mão cheia, e eu muito mal conhecia o básico. Ficava perto apenas para ajudá-la pegando algumas coisas, lavando as louças, e, principalmente, para fazer companhia a ela.

Nesse dia, contei sobre as novidades da fazenda, até que ela própria decidisse mudar o assunto, indo justamente para o que eu vinha evitando.

— E aí, o que achou do meu filho?

— A senhora sabe muito bem o que eu acho do seu filho, dona Helena. — Eu não tinha meias palavras para dizer tudo o que eu pensava. Sempre fui assim, sincera e direta.

— Acho que tem uma impressão errada sobre ele, querida. Quando o conhecer melhor, vai ver que é um bom homem.

— Acho que nem terei como conhecê-lo melhor, dona Helena. Ele já disse que vai embora em três dias.

Rael estava sentado em um cadeirão de bebê, brincando com alguns biscoitos amanteigados ao invés de comê-los. Fui até ele, pegando sua toalhinha para limpar os cantos de sua boquinha, quase que como uma fuga do assunto.

Mas dona Helena não permitiu que eu escapasse.

— Ele ficou bem curioso a seu respeito.

Eu a olhei, preocupada.

— A senhora não contou nada a ele, não é?

— Claro que não, Paty. Não tenho qualquer direito de contar sobre sua vida a ninguém, nem mesmo ao meu filho. Especialmente porque você me pediu para guardar esse segredo. Mas não vejo qualquer necessidade disso, porque, como eu já disse, ele é um bom homem.

— Não tem a ver com ser bom ou ruim, dona Helena. Eu apenas não quero ninguém sabendo da minha história. As coisas podem acabar vazando e indo parar nos ouvidos errados.

— Eu entendo. Mas fique tranquila, minha filha. Você e Rael estão seguros aqui.

Sorri, sentindo-me grata por aquele carinho.

Dona Helena tinha se tornado uma verdadeira mãe para mim. Ela me acolheu, cuidou de mim quando precisei, amava meu filho como um neto... e também me amava, mais do que eu já tinha sido amada em toda a minha vida.

Eu mal conseguia me lembrar da minha mãe, então dona Helena tinha, mesmo que tardiamente, substituído essa figura materna na minha vida.

Terminamos de preparar tudo e arrumamos sobre a mesa de madeira que ficava do lado de fora, na área gramada em frente à casa, à sombra de uma árvore. Era muito bom fazer as refeições ali em dias quentes como aquele. Eu simplesmente amava aquele lugar. O ventinho fresco que batia em qualquer horário, o cheiro da vegetação, o canto dos pássaros... tudo aquilo me trazia uma sensação de paz interior que eu levei uma vida inteira para encontrar.

Seguindo o Coração [DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora