Capítulo nove

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Patrícia

No dia seguinte, eu segui toda a rotina dos anteriores, saindo de casa bem cedo para evitar encontrar o CEO antipático, voltando apenas para almoçar e dar alguma atenção ao meu filho, antes de sair novamente.

Pensei no alívio que sentiria no dia seguinte, quando aquele insuportável fosse finalmente embora, já que ele provavelmente ainda levaria ao menos uma década para retornar.

Depois do almoço, realizei mais algumas inspeções pela fazenda, até que decidi ir ao celeiro. Estava ainda muito incomodada com toda aquela situação.

Na realidade, a presença de Vinícius e as merdas que ele tinha me dito no dia anterior eram o menor dos meus problemas. Eu tinha coisas muito mais graves para me preocupar.

A maior era, sem dúvidas, a decisão de Arthur Tavares em querer comprar aquela fazenda e toda a sua insistência. Eu sabia que aquele homem não costumava desistir das coisas que queria, e ele parecia querer muito realizar aquela compra. Por isso que aqueles dias todos sem que nenhum advogado aparecesse ali com propostas me preocupava muito mais do que aliviava.

Eu sabia que ele não tinha simplesmente desistido. Então, o silêncio dizia que ele deveria estar tramando algo.

E meu maior medo era de que ele próprio resolvesse ir até ali.

Sempre que eu me via daquele jeito, com minha mente funcionando a mil por hora, eu gostava de ir até o celeiro. Os cavalos tinham o poder de me acalmar.

Abri a baia de Amora e eu mesma a selei, saindo com ela para a parte externa do celeiro. Preparei-me para montá-la, já pronta para percorrer com ela boa parte daquela fazenda. Mas detive-me ao avistar Vinícius se aproximando.

Era só o que me faltava... Aquele homem ia mesmo querer mais uma briga na véspera do dia de ir embora?

Fiquei parada, observando-o em silêncio, até que parasse diante de mim. Ele ficou calado por alguns instantes, sustentando o meu olhar. Porém, notei que dessa vez existia algo diferente na forma como me olhava. Tinha bem menos petulância do que nas ocasiões anteriores.

— Nós podemos conversar?

Embora o tom de voz dele estivesse bem mais tranquilo que de costume, eu não me desarmei.

— Não acredito que nós dois tenhamos algum assunto para conversar. Se veio para me expulsar da fazenda, receio dizer que não tem poder para isso. Eu só vou embora se dona Helena não me quiser mais aqui.

— Não pretendo te expulsar. Você tem razão, isso compete apenas à minha mãe, não a mim. Na verdade, eu vim apenas te agradecer.

Imaginei que eu só podia ter compreendido mal.

Você quer me agradecer? Pelo quê?

— Não foi a minha intenção, mas... ontem eu acabei ouvindo uma parte da sua conversa com a minha filha. Apesar de tudo, você me defendeu.

— Chame de psicologia infantil. Foi muito mais para a menina se sentir melhor do que propriamente para te defender. Eu ainda acho que você é um idiota.

— Eu sei. Quero também pedir desculpas pela forma como falei com você. Foi totalmente estúpido da minha parte. Mas, como você mesma falou, pais às vezes perdem o controle. Cecília nunca teve contato com cavalos, tive medo de que ela pudesse se acidentar.

Seguindo o Coração [DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora