Capítulo dez

3.8K 647 157
                                    


Vinícius

O alerta estava claro: eu precisava ir mais devagar.

Ainda mais, se é que isso fosse possível.

Mesmo assim, tentei manter fixo em minha mente um prazo pré-estabelecido para aquilo. Apenas mais uma semana. E então, eu voltaria para casa, com o dinheiro para investir na V&L e preparado para o trabalho.

Voltaria já próximo ao Natal, quando a maior parte dos funcionários estaria entrando de recesso. Mas sabia que eu não poderia parar. Estávamos perdendo contratos pelos prazos longos de trabalho, e eu não me importava em passar as festas de fim de ano dentro do meu escritório tentando acelerar as coisas.

Desde que Luana morreu que eu não me importava mais com essas festividades.

Minha mãe tinha saído nesse dia, levando Rael a tiracolo, indo fiscalizar qualquer coisa na colheita dos maracujás, enquanto Patrícia resolvia qualquer coisa no celeiro, relacionada a adaptações na estrutura para começar a receber seus alunos depois do ano novo.

Porém, naquele dia ela receberia sua primeira discípula. Ou uma cobaia, já que aparentemente aquela mulher nunca tinha dado aulas de coisa alguma antes. E por mais que eu tivesse expressado minha total confiança a ela, eu pretendia ficar por perto para observar tudo.

Ela ainda era uma desconhecida, no fim das contas.

Já eu, estava meio entediado de ficar trancado dentro do quarto trabalhando, então decidi alterar um pouco o local de trabalho e levei o notebook para o lado de fora, usando a mesa de refeições próxima ao cercado. Estava um dia quente de dezembro e até mesmo um viciado em escritório como eu apreciava tomar um ar fresco de vez em quando.

Estava concentrado no computador quando vi alguém saindo pela porta da casa. Desviei os olhos para Cecília e não contive um sorriso ao vê-la usando um capacete, joelheiras e cotoveleiras. Mas a parte mais interessante de tudo aquilo era que ela não estava com o celular na mão.

Era quase um milagre.

Percebendo que eu a observava, ela se aproximou e reclamou, emburrada:

— Patrícia mandou eu usar isso tudo. Achei exagero.

— O nome disso é equipamento de segurança, não é exagero.

— Ela não usa nada disso para montar.

— Porque ela é uma adulta experiente. Você está apenas começando. — Desci os olhos devagar, segurando o riso ao ver que ela estava calçada com um par de all star. — Acho que você precisava de botas de montaria.

— A Paty disse isso também, mas ela não tem nenhuma no meu número. — 'Paty'? Minha filha e Patrícia já eram íntimas a esse ponto? — Você percebeu?

— Percebi o quê?

— A Paty.

— O que tem ela?

— Ela. Você percebeu? Tipo... Ela é muito bonita e muito legal.

Eu tinha dúvidas sobre a parte de ser legal, mas sobre ser bonita era um fato absolutamente inegável.

— É, eu percebi. Assim como percebi que você marcou com ela às duas da tarde, faltam cinco minutos para as duas e você ainda está aqui. Anda, vamos. — Fechei o notebook e me levantei do banco, causando surpresa a Cecília.

— Como assim 'vamos'?

— Ué, para a sua primeira aula.

— Dá para ver o celeiro daqui, pai. Não são nem três minutos andando até lá, não preciso que você me leve.

Seguindo o Coração [DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora