Vinícius
Eu odiava, com todas as minhas forças, admitir que aquela mulher mexia comigo. Tentava me convencer de que era o meu corpo traindo a minha mente. Tanto tempo sem sexo obviamente tinha um peso grande nisso.
Porém, eu odiava admitir, mas sentia que, no fundo, existia algo mais. Talvez fossem os dois desafios em minha mente. O primeiro, de encontrar brechas para convencê-la a fazer a minha mãe entender que vender a fazenda era a melhor coisa a ser feita. O segundo, era ela em si. Ela representava um desafio para mim. Eu a observava o tempo todo na expectativa de que algum de seus movimentos ou palavras desse alguma dica de quem ela era.
O que eu sabia até então era apenas o seu nome, que ela tinha habilidades com uma espingarda e que montava cavalos com uma técnica e classe que alertavam que ela tinha aprendido aquilo de maneira formal e não intuitiva. E que ela tinha chegado lá sozinha e grávida. Mas nunca havia mencionado um ex-namorado ou ex-marido... Ou talvez fosse viúva, como eu. Ou tinha engravidado em uma relação sem compromisso.
Mas do que, afinal, ela e o filho fugiam?
Pensava a respeito de tudo isso enquanto tomava café da manhã sozinho na cozinha. Eu costumava acordar cedo, mas nesse dia tinha dormido um pouco mais, levantando-me às oito – o que, para a rotina da fazenda, já era tarde. Até mesmo Cecília tinha criado o hábito de se levantar antes das sete da manhã. Ela gostava de acompanhar Patrícia na ordenha das vacas.
Sei que até uns dias antes eu jamais deixaria que minha filha saísse sozinha com aquela mulher. Mas agora eu já estava bem menos desconfiado. Não que confiasse plenamente nela. Ainda achava que podia ser uma fugitiva da polícia ou alguém tentando aplicar um golpe em uma senhora idosa. Contudo, não acreditava que fosse fazer mal a uma criança.
E Cecília parecia gostar muito dela. E eu não me recordava de minha filha ser antes tão simpática com outras pessoas. Depois da morte de Luana, ela havia se tornado mais calada e introspectiva, mas parecia outra criança desde que chegamos naquela fazenda. Confesso que isso me deixava feliz.
Chequei ainda meus e-mails quando acordei, por isso já passava das nove da manhã quando desci para tomar café. Terminava de comer quando a porta da cozinha se abriu. Patrícia fez uma rápida pausa em seus passos quando me viu – certamente não esperava me encontrar ali – mas logo voltou a caminhar, adentrando a casa.
— Bom dia — ela me cumprimentou. Equilibrava três garrafas de leite nas mãos.
— Bom dia. A Cecília não estava com você? — preocupei-me.
— Estava, mas ela voltou antes. Disse que tinha que ajudar a avó em sei lá o quê. — Ela colocou as garrafas sobre a pia, indo até o armário, onde pegou uma leiteira. — E você, ainda não está trabalhando no seu computador?
— Ainda não. Mas irei daqui a pouco.
— Sei. — Era só uma palavra pequena, mas seu tom de voz era puro julgamento. Porém, ela logo mudou de assunto. — Liguei agora há pouco para a madeireira e fiz a encomenda do material para a cerca. Chega tudo amanhã à tarde.
— Como fez isso sem estar em casa?
Ela parou o que fazia por um momento, tirando um celular do bolso e mostrando para mim.
— Dona Helena é avessa a tecnologias, mas insistiu muito que eu precisava de um e me deu de presente ano passado. Espero que isso não reforce suas ideias de que eu seja uma golpista.
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Seguindo o Coração [DEGUSTAÇÃO)
RomanceEle é um viúvo de coração partido que esqueceu de suas raízes. Ela é uma mãe solo, com um passado conturbado, que encontrou seu lar. Dois opostos, um primeiro encontro de gato e rato e segredos a serem revelados... Quando saí da fazenda onde nasci e...