Capítulo quatro

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Patrícia

Olhando a forma como dona Helena chorava e abraçava aquele seu filho ingrato, eu me perguntava se tinha agido certo em não o ter colocado para correr na noite anterior.

Bem, dona Helena estava feliz, e isso era ótimo. Porém, eu sabia, de alguma forma eu sabia, que aquele idiota iria fazer alguma besteira.

Eu sequer o conhecia, mas o que eu sabia a seu respeito era mais do que suficiente para eu não confiar nem um pouco nele.

Sentada nos degraus da escada, eu observava o reencontro que acontecia na espaçosa sala da casa da fazenda. Dona Helena não parava de chorar e eu temia que ela acabasse passando mal devido àquela surpresa.

Aquele idiota... não poderia ter dado um jeito de avisar que estava indo para lá?

— Eu não acredito que finalmente vou conhecer pessoalmente a Cecília! — ela comemorou. Uma das coisas que dona Helena mais lamentava na vida era o fato de não conhecer a própria neta.

O filho sempre a convidava para ir para o Rio de Janeiro, nem que fosse apenas para uma visita, mas ela negava todas as vezes. Dona Helena tinha sido criada no interior e, apesar de saber dirigir muito bem, tinha medo de ir para qualquer lugar além das divisas das cidades vizinhas. Pegar uma autoestrada era algo que ela não tinha confiança suficiente para fazer. A verdade era que tinha medo até mesmo se fosse outra pessoa dirigindo, então mesmo a ideia de ir de ônibus a deixava assustada.

Mas nada impedia que aquele cara tivesse a decência de ir visitar a mãe de vez em quando.

— Esse será o melhor Natal de todos! — dona Helena vibrou, o que me deixou preocupada.

Ainda estávamos no início de dezembro, faltava muito para o Natal, e a quantidade de bagagem levada por aqueles dois me dava uma dica de que não pretendiam ficar por ali por tanto tempo assim.

E, sim, eu estava observando tudo. Qualquer merda que aquele estúpido fizesse para magoar a dona Helena, eu o colocaria para correr dali embaixo de balas.

Parecendo um pouco sem graça, ele respondeu exatamente o que eu já imaginava:

— Viemos para ficar apenas alguns dias, mãe. Não estaremos aqui no Natal.

A expressão de tristeza no rosto dela me abalou. Era incrível que não abalasse aquele filho de chocadeira.

— Ah, que pena. Mas serão dias incríveis. Que horas Cecília costuma acordar? Estou ansiosa para dar um abraço nela!

— Acredito que logo ela acorde. Posso ir chamá-la.

— Não, nem pensar! Deixe a menina dormir. Vocês fizeram uma viagem cansativa até aqui, pobrezinha, deve estar esgotada. Eu vou preparar um café da manhã bem reforçado para vocês. Não dará tempo de fazer muita coisa para agora, mas já vou preparar um bolo para o nosso lanche da tarde. — Ela olhou para mim. — Paty, você me ajuda, querida?

Forcei um sorriso.

— Claro, dona Helena. Vá na frente que já chego para te ajudar.

Concordando, ela seguiu para a cozinha. Estava tão feliz que parecia saltitar enquanto caminhava.

Enfim me vi a sós com o idiota, que, parecendo perder a noção do perigo, decidiu puxar assunto com um tom amistoso.

— Paty, né?

— Patrícia — eu o corrigi, sem dar brechas para intimidades. — O que veio fazer aqui?

— Vim visitar a minha mãe.

Seguindo o Coração [DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora