Capítulo dois

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Vinícius

O dia seguinte foi bem parecido com o anterior. Após um café da manhã nada amistoso com Cecília, levei-a para a escola e, de lá, segui para a empresa. Como sempre acontecia, Rebeca me acompanhou da entrada até a minha sala, passando-me os recados do dia.

Outra coisa em comum com o dia anterior foi o fato de Arthur Tavares ter voltado a me ligar.

Tentei retrucar a insistência dele de forma mais enfática:

— Como já disse ontem, senhor Tavares, reforço: apenas quem pode decidir sobre a venda da fazenda é a minha mãe.

— A senhora Helena está irredutível. Tanto, que nenhum dos meus advogados quer retornar lá. Foram todos escorraçados.

Achei que deveria haver algum exagero na informação. Minha mãe era uma senhora de sessenta e seis anos totalmente pacífica, de fala calma e com uma paciência que seria invejável pelo mais zen dos monges budistas. Ela não seria capaz de escorraçar nem mesmo um mosquito.

— Sinto muito por isso — rebati. — Infelizmente, como já falei, a decisão é dela.

— Senhor Vinícius, o senhor é um jovem empresário... Sua empresa criada há poucos anos vem tendo um crescimento invejável. Pense no quanto poderia investir nela com a sua parte nesse negócio. Pelo que sei, o senhor não tem outras fontes de onde possa tirar um capital assim para investir no crescimento.

— O senhor andou pesquisando a meu respeito, pelo que vejo. Nada disso altera tudo o que eu informei. A decisão de venda pertence apenas à minha mãe.

— Farei o envio de uma nova proposta por e-mail, com mais um aumento do valor. Será minha oferta final, analise com cautela. Pense bem no quanto isso será vantajoso para o senhor e para a senhora Helena.

— Não há o que ser analisado. Não por mim, pelo menos.

— Estou enviando, de qualquer maneira. Voltaremos a nos falar.

Ele deligou a ligação e eu bufei, incomodado. O sujeito sabia como ser impertinente. Justo naquele dia, que eu tinha tantos projetos para analisar e aprovar.

Foquei em meu trabalho e assim fiquei por minutos ou horas – já que sequer senti o tempo passar. Até que meu telefone voltou a tocar. Atendi de mal humor, já que imaginei que seria novamente aquele homem insistente. Para a minha surpresa, minha secretária anunciou que era a minha mãe na linha.

A primeira coisa que pensei em perguntar era a respeito dos tais advogados supostamente escorraçados por ela, mas distraí-me desse foco ao ouvir um falatório de vozes ao fundo.

— Mãe? Onde você está?

— Estou ligando da casa da Carmem, querido. Vim para o almoço de aniversário dela, e aproveitei para pedir para usar o telefone e falar com você. O lá de casa está ruim.

Carmem era uma amiga da minha mãe, que morava em uma fazenda próxima. Minha mãe a visitava com frequência e nunca perdia seus almoços de aniversário. Portanto, a informação não me trouxe surpresa, assim como não era novidade que seu telefone de casa estivesse com problemas.

— Mãe, eu vou comprar um novo celular para você. Não pode ficar dependente de telefones fixos, especialmente porque o serviço aí é péssimo.

— Nem gaste seu dinheiro com isso, filho. Sabe que o último que você comprou não durou muito. Eu não sei usar esses aparelhos modernos. Mas apenas liguei para saber como você e Cecília estão. Tem quase um mês que não nos falamos. Se eu não ligo para você, você nunca liga para mim...

Seguindo o Coração [DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora