Capítulo sete

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Patrícia

Havia muito o que ser feito em uma fazenda. Ter tirado o dia anterior de folga por conta do almoço que dona Helena fez questão de preparar e me obrigar a participar deixou-me aflita com a quantidade de pequenos trabalhos acumulados.

Tínhamos alguns trabalhadores fixos responsáveis pela plantação de maracujá, que era de onde vinha a maior parte da renda da fazenda. Naquela época do ano, além da colheita, eles também trabalhavam preparando a terra. Sempre contratávamos mais pessoas em fevereiro, que era a melhor época para o plantio da safra, que dava frutos de dezembro a julho. E tínhamos também um empregado responsável pelos cavalos. Para outros trabalhos eventuais, precisávamos contratar por fora, pois dona Helena não possuía, por enquanto, condições de ter muitos funcionários fixos.

Portanto, toda a fiscalização e administração ficava por minha conta, além de outras coisas, como o cuidado com os animais. Tínhamos porcos, galinhas, cabritos, patos, além de alguns bovinos.

Deixei Rael aos cuidados de dona Helena para fazer todo o trabalho do dia. Já era final de tarde quando fui ordenhar nossas vacas leiteiras.

— E aí, Linda? Como você está? — já cheguei cumprimentando uma delas, deslizando a mão sobre sua cabeça.

Ela fechou os olhos, gostando do carinho, e eu sorri. Era engraçado lembrar que nosso primeiro contato não tinha sido tão amigável assim. Apesar de ter sido criada no interior, eu vim de uma família muito humilde, não tínhamos animais em casa. Aos dezoito, saí de casa e passei a viver em uma vida completamente diferente, mas com ainda menos contato com a terra. Quando cheguei ali naquela fazenda, procurando um emprego, eu não fazia ideia do que poderia fazer, porque aquele era um universo completamente diferente.

Quando me aproximei pela primeira vez do curral das vacas, Linda me colocou literalmente para correr, mostrando que não tinha simpatizado nem um pouco comigo. Nossa aproximação foi lenta, mas agora ela já gostava de mim, e eu dela.

Fiz a ordenha com calma e estava completamente distraída no trabalho quando ouvi passos atrás de mim. Assustada, virei-me de súbito, com isso quase derrubando o balde de leite. Respirei aliviada ao ver que se tratava da filha de Vinícius.

— Foi mal, eu te assustei? — ela perguntou, parecendo confusa com minha reação tão aflita à sua presença.

— Não... eu só estava distraída... — rebati, enquanto tentava normalizar a respiração.

Ela continuou a me fitar de forma confusa.

— Quem achou que fosse?

— Ninguém. Não achei que fosse ninguém. O que está fazendo aqui?

— Eu estava entediada.

— ...O sinal do wi-fi caiu? — Ela movimentou a cabeça em uma confirmação e eu contive o riso. — Não se preocupe. Acontece às vezes, mas costuma voltar no mesmo dia.

— Eu perguntei para a minha avó onde você estava, ela me indicou o caminho e disse que eu podia vir aqui.

— Ah, é? E o que você quer comigo?

— É que eu perguntei para a minha avó o que dava para fazer para passar o tempo aqui. Ela disse que podíamos assistir à novela da tarde, ela podia me ensinar a fazer tricô ou poderíamos jogar damas ou dominó. Então eu achei que você talvez pudesse ter algumas ideias mais divertidas.

— E por que achou isso? Talvez eu também goste de jogar dominó.

— Não sei. Acho que você parece fazer coisas mais legais.

Seguindo o Coração [DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora