Capítulo onze

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Patrícia

Dependendo do horário que eu saísse e do tempo que eu ficaria fora, eu gostava de levar Rael comigo nas minhas inspeções pela fazenda. Tomar um ar fresco fazia bem a ele, e estarmos juntos fazia bem a nós dois.

Aquele foi o segundo dia oficial de aula da Cecília – que seguia aprendendo alguns comandos e parecia cada vez mais à vontade naquilo. Já era fim de tarde quando acabamos, então, como o celeiro ficava bem próximo à casa, decidi ir até lá e pegar o meu bebê para me acompanhar no restante das minhas atividades do dia.

O sol estava começando a se por quando retornei, trazendo-o comigo junto ao meu peito, em um suporte tipo canguru. A cena que avistei logo que avistei a casa me deixou um tanto curiosa.

Vinícius estava novamente mexendo na cerca, aparentemente consertando outra parte quebrada. Parecia bem entretido nisso.

Inconscientemente, lamentei o fato de que dessa vez ele estava com camisa.

Conscientemente, repreendi-me por tal pensamento. Eu devia estar completamente fora do meu juízo normal.

Logo que passei para o lado de dentro da cerca, fui até ele para entender o que estava acontecendo. Não precisei perguntar nada, porque logo que me viu ele já explicou:

— Não adianta muito continuar fazendo emendas. Essa cerca precisa ser totalmente trocada, a madeira está podre.

Nada que eu já não soubesse.

— Estamos planejando isso há algum tempo, mas os custos com material e mão de obra são meio altos para o momento.

— Bem, pelos próximos dias vocês têm a mão de obra em casa. E essa fazenda também é um pouco minha, então eu acho justo arcar com os custos do material. Eu só não sei onde encomendar as madeiras por aqui, você pode me ajudar nisso?

O que era aquilo? Ele estava se esforçando para ser legal?

Bem, ele tinha razão no que dizia sobre ser dono de uma parte da fazenda, e também sobre aquela cerca estar em uma situação que não havia mais como continuar fazendo emendas e consertos. Por isso, concordei.

— Posso ver isso para você. Temos o contato de uma boa madeireira, eles sempre nos fazem bons descontos quando precisamos de algo. Vou ligar para lá amanhã.

— Perfeito. Vou tirar as medidas e te passo a quantidade de material que vamos precisar.

Aquilo era curioso. O cara que eu vi chegar ali há alguns dias enfiado dentro de um terno, e que passava a maior parte de seu dia enfurnado em um quarto diante de um computador. Eu sinceramente havia duvidado da capacidade dele em trabalhos mais manuais e braçais.

— Rael chegou! — A voz empolgada de Cecília, vinda da porta da casa, chamou a minha atenção. Ela veio correndo até mim, sendo seguida por dona Helena. — Paty, eu vou daqui a pouco fazer uma chamada de vídeo com as minhas amigas, você me deixa mostrar o Rael para elas, deixa?

— Deixo. Mas antes ele precisa comer alguma coisa, já começou a reclamar de fome.

— Eu cuido disso, querida! — dona Helena informou. E logo que eu soltei o suporte, ela agarrou Rael no colo. Meu filho soltou uma gargalhada de felicidade quando foi para os braços dela. — Estava com saudades da vovó, meu amor?

Cecília se aproximou, dando um beijo no rosto dele e segurando sua mãozinha. Ele continuou a sorrir e balbuciou alguma coisa sem muito sentido. Ele já adorava aquela menina, o que parecia ser completamente recíproco.

Dona Helena entrou na casa, levando Rael, e Cecília começou segui-la, mas parou, olhando para mim.

— Ei, Paty, eu queria te apresentar às minhas amigas também.

Seguindo o Coração [DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora