Patrícia
Eu não era uma professora e todo o meu contato com crianças se resumia ao meu filho, que tinha pouco mais de um ano. Por isso, sempre me senti insegura diante da minha própria ideia de dar aulas de equitação na fazenda. Sabia que boa parte do público – se não a maioria – seria de crianças e adolescentes, e sentia um pouco de receio de não levar o mínimo de jeito com aquilo.
Aquela primeira aula gratuita para Cecília, no entanto, me encheu de confiança, me mostrando que eu poderia, sim, ser capaz.
Na saída do celeiro havia uma extensa área cercada, que era onde eu pretendia oferecer os primeiros treinos aos iniciantes. Começamos apenas caminhando ao redor do local e deixei que Cecília segurasse em um dos lados das rédeas de Amora, enquanto eu mantinha o controle segurando o outro lado. Enquanto andávamos, em um exercício simples para que as duas fossem desenvolvendo confiança uma na outra, a menina me fazia diversas perguntas e eu fui passando a ela o básico sobre como tudo aquilo funcionava.
— Agora eu posso montar? — ela me perguntou depois de algum tempo, parecendo já estar impaciente de tanto andar.
— Pode. Mas não agora.
— Mas você disse que eu podia!
— Disse que você poderia montar, mas não falei que seria hoje. Vou providenciar um equipamento de segurança para você e amanhã te guiarei em uma voltinha com ela, certo?
— Mas ela já gosta de mim, não acredito que vá me derrubar.
— Ponto para você, ela realmente não vai. Mas você pode se desequilibrar. Faremos isso amanhã, com um equipamento de segurança. Hoje foi apenas para te passar algumas instruções e para você se familiarizar com a Amora. Aliás, temos outros cavalos igualmente mansos. Alguns até menores, que seriam mais indicados para você. Estou certa de que sua avó te daria um deles se você quisesse.
Os olhos dela brilharam ainda mais.
— Acha mesmo? ...Mas eu não teria como levá-lo para o Rio.
— Ele pode continuar aqui, esperando para todas as vezes que você quiser voltar.
Ela deixou de sorrir.
— Não sei se meu pai vai querer algum dia voltar para cá. Eu já tenho dez anos e essa é a primeira vez que venho aqui.
Eu não queria opinar a respeito daquilo. Minha opinião sobre o pai dela não era nada adequada para ser compartilhada. Então, voltei a me focar em Amora, passando a mão pelo seu pescoço. Cecília fez o mesmo, mostrando-se encantada com o contato com o animal.
Porém, o encanto foi quebrado quando ouvimos um grito nervoso:
— Cecília, saia já daí, agora!
Nós duas nos viramos na direção em que vinha aquela voz e visualizamos Vinícius vindo apressado em nossa direção. Ele abriu o portão de madeira do cercado e se aproximou já agarrando Cecília pelo braço, puxando-a de forma violenta.
A menina gritou, tentando se soltar, e aquilo ativou em mim um instinto de proteção, fazendo com que eu praticamente me jogasse na frente dele, impedindo que continuasse a andar.
— O que pensa que está fazendo? — perguntei, encarando-o.
Ele era consideravelmente mais alto do que eu, o que me obrigava a virar meu pescoço para cima para poder olhá-lo. Ainda assim, não me intimidei.
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Seguindo o Coração [DEGUSTAÇÃO)
RomanceEle é um viúvo de coração partido que esqueceu de suas raízes. Ela é uma mãe solo, com um passado conturbado, que encontrou seu lar. Dois opostos, um primeiro encontro de gato e rato e segredos a serem revelados... Quando saí da fazenda onde nasci e...