XII

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A festa animada em contraste com sua literalmente mórbida razão.

A queda de uma grande barão com um tiro único na testa e algumas marcas de tortura deixou em polvorosa a sociedade oculta que fora das portas fechadas do local mal frequentado fingia lamentos e lá dentro serviam drinks à todos por conta dos felizes por perderem mais essa pedra no sapato.

Ora político importante na cidade, ora parceiro daqueles que se elegia dizendo combater. Os inimigos só não eram tantos quanto a lista de crimes e qualquer daqueles homens ou mulheres gozaria com o feito de ter seu sangue nas mãos, mas apenas um tinha esse poder e não o reivindicaria.

Seria um segredo que apenas ele e o rapaz que preparava seu número na cochia dividiriam até que o funeral celebrado fosse o de um deles.

A decepção seria geral se descobrissem que alguém tão forte, poderoso e intocável foi morto não por poder, dinheiro ou pelas drogas que traficava por baixo da pose de pai de família e sim pelo grave erro de tocar no garoto de programa errado. A apreensão tomou conta de Kirishima por mais que a culpa de tudo não lhe pertencesse.

Teria poupado uma vida se disfarçasse melhor suas dores? Se mais perfeito fosse? A vergonha do golpe apossou-se de quem levou como não achou repouso em quem bateu e, frágil por baixo da máscula postura de bom moço confiante que se envoaçava pelo teto da boate, se perguntou até onde era responsável pela desgraça que teve encantou seus espectadores com a mesma força de seu show. Triste e trágico como os vocais arrastados com os quais Jirou embalava o ambiente e o público que não merecia talentos tão magistrais.

Diferente do outros, o recém chegado posando lindo em seu terno caro exaltando sua finesse sim valia o empenho, sendo o único toque de classe além da decoração do lugar.

Katsuki sentou rançoso como sempre. Não aceitaria os cumprimentos nem se soubessem o que fez. Qual a glória em ferir quem, no auge das insanas dores, chegou a clamar pela mãe antes do golpe fatal como criança assustada buscando proteção? Sujar suas mãos por impulsos de merda, como diria a sua? A cabeça do morto um troféu que não queria em sua estante, já o alívio escondido nos olhos úmidos e tensos que o sobrevoavam sim.

Eijirou não o pode julgar. Em meio ao turbilhão de sentimentos pesados, a gratidão se sobressaiu no fim e no fim sentia-se cuidado, o que não romantizava a selvageria da personalidade perigosa do guardião. Sorriu, contido, saindo da coreografia séria de sempre por menos de segundo, nada mais. Bastou. Encantou. Causou suspiro.

Mergulhado no frio da alma, foi a primeira vez em anos que o coração de Bakugou encontrou-se aquecido. Que merda de sensação era essa? Era boa afinal? Impossível confiar no que não conhecia, principalmente quando o fez sorrir de volta.

A baixa luz de sua mesa o escondeu, por sorte.

Garoto de Aluguel | KiriBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora