III

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“Eu não aguento mais!”

Katsuki suspirou e foi bonito e até cômico. Bonito porque ele continuava suportando, como em todas as outras incontáveis vezes em que o ouviu proferir tal frase é dizer que estava há muito pouco de largar tudo e fazer o que nunca sabia explicar que desejava. Cômico porque era um ciclo vicioso que ambos sabiam que não havia como se livrar e ele saía como tonto e manipulável à mão daqueles que o movimentavam como um peão em um jogo deluxe de xadrez.

Um pensar tão claro quanto água que gotejou sobre sua perna, amenizando o calor que se fez presente apesar da climatização. Bebeu mais um gole e deu um sorriso nervoso ao constatar o óbvio já citado.

“Mas eu sempre acabo aguentando mais um pouco.”

Melhor que ninguém, ele se conhecia. Sabia que falaria um monte, praguejaria gerações e gerações dos inimigos que só faltavam lhe fuzilar, literalmente, quando viam sua sombra. Xingaria os mandos e desmandos de sua mãe e falaria do quanto não se importava com o que “a velha” dizia, mesmo que isso não fosse verdade.

Falaria dos novos golpes sem saber se podia ou não se dizer tão inocente e manipulado a realizá-los. Olharia, mesmo que assim, de canto, para o rapaz que ainda coçava sua cabeça, e se perguntaria porque confiava detalhes tão confidenciais e incriminantes de sua vida à um garoto de programa a quem não fodia mas que a qualquer momento poderia lhe foder em sentido figurado.

Não seria a primeira vez que seria traído por confiar nas pessoas erradas e nem o último idiota que mandaria para o inferno na primeira chantagem – agora de forma literal.

Sentindo a desconfiança, Eijirou sorriu. Esse era um sinal de melhora e já se preocupava. Quando enfim desabafou tais palavras, Bakugou já estava no apartamento há 20 minutos. A essa altura, conseguiam escutar o solo de saxofone que agora fazia o espetáculo de jazz no Heroes. Um show finíssimo que logo foi acompanhado por um real piano tocado com maestria. Era uma pena que não conseguissem ouvir com tanta clareza a voz melodiosa de Jirou que de certo traria calmaria, mesmo que deformada pela distância.

Sabe o que combinava com o som gostoso e inebriante? Outro cliente teria na face “sexo” como resposta, mas Katsuki era único nessa questão e nem precisou de um erguer de sobrancelhas ou do cair das últimas cinzas aproveitáveis da agora bituca de nicotina para se virar para a estante e de lá tirar sua caixa de charutos. Cubanos. Dos melhores!

Deixou-o curtir seu “ritual”, cheirando e apurando não sei o que até ver uma abertura para cortar o fumo e acendê-lo em cortesia, acompanhando o fim de seu raciocínio, se pegando aberto até demais ao moço quando confessou pela décima vez desde que voltou a contar.

“Eu só não sei quanto tempo mais vou aguentar!”

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Quero agradecer à Nih_Agnelli pela belíssima capa.

Garoto de Aluguel | KiriBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora