IX

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Melodia triste, tocada em contra-baixo e violino. Sôfrega. Pesada. Difícil de engolir com uma letra desgostosa pois Katsuki não era tão fã assim das músicas melosas, mas o canto belo de Jirou era só um plano de fundo para a bela arte de Eijirou, que despencou de volta ao centro do palco. Nuvens enfeitando o céu onde ele voava.

Por mais que fosse experiente, a plateia temeu, em vão, por sua segurança. Logo ele girou sem parecer se esforçar para que os véus que o agarravam se movessem de forma única enquanto ele bailava como em um recital poético de balé, jogando seu corpo para trás, entregue à canção que agora embalava os delírios do expectador surpreso ao ver que, de novo, voava. 

Deixa o destino levar... E levou, o trouxe até seu anjo. Ou seria ele um dragão queimando com furia e devastando seu peito? Devaneios de bebida, da música ou tinha a ver com a dança emblemática de quem enrolava o pano ao pé, prendendo-o a perna para se pendurar de cabeça para baixo, jogando lenços avulsos sobre a plateia em quem avançou.

Havia sensualidade e atraência em seu número ou foi mais uma ilusão da psiquê doentia que poderia criado a imagem dele beijando a oferta assim que seus olhos pousaram em seu mais fiel cliente. Merecia tal agrado? Despudorado, Eijirou encarou-o de perto, tão perto que que quase caía, mas a entrega foi veloz. Katsuki ergueu a mão e por ela desceu o tecido, fluido, leve. Contrastava com sua essência e o peso em seu corpo, sua mente, sua violência, sua raiva, sua mente. Seu eu. O mesmo eu impressionado que mantinha os olhos sob o encalço de Kirishima... 

E ele voava! 

E era como se voasse o convidando para segui-lo. Para despir-se de toda a culpa e toda a dor que massacrava seu ser. Como se o bater de suas asas fosse capaz de afastar de si os males.  A respiração ofegante marcava seu sutil abrir de guarda. Seu descuido protegido pelo escuro da plateia, mas não adiantava. Ele podia vê-lo de boca estava úmida de seu drink, mas a garganta secava a cada movimento novo, sentindo-se entrelaçado nas teias e garras do artista.

E ele voava... E Katsuki voou junto. Permitiu-se o desapego e deixou no chão tudo o que o fazia sentir sujo e deixou sua mente planar junto aos pés descalços que agora sobrevoavam sua cabeça, como se ele fosse uma criança travessa o convidando para mais uma de suas traquinagens. O gosto de doçura, o sabor de liberdade, o cheiro fresco de ser por si próprio e não por pressões. 

Combinava tão bem com o ritmo agora acelerado e gostoso de várias promessas, daquelas feitas em momentos doces e que eram levadas pelo mesmo vento no qual ele se aventurava. Seu incômodo com a canção teria a ver com isso?, Pensou ao fim. Riu de desgosto, tragando outra dose de algo mais forte e sacudindo a cabeça em reprovação.

Homens como ele não podiam amar.

Garoto de Aluguel | KiriBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora