I

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Deu fim no último fiapo de poeira que pôde encontrar na minuciosa faxina que fazia sempre que ele estava por vir graças ao nervosismo e apreço pelo moço da vez Tremia como se não estivesse mais do que acostumado a ser anfitrião de outros, mas é que com o daquele horário era diferente e devia ser perfeito.

Incensos espalhados davam um toque aconchegante ao apartamento minúsculo onde morava e realizava seus encontros. Sândalo e rosas era uma mistura atraente, ele havia dito uma vez. Cuidado, Eijirou zelava para que tudo estivesse a seu gosto, fazendo valer a boa fama e o dinheiro considerável que lhe pagava a cada nova visita.

Borrifou perfume contra sua pele e contra o ambiente só para garantir que nada sairia errado, olhando para o relógio e não crendo que ele chegaria atrasado apesar dos poucos 2 minutos até a hora marcada. Katsuki era metódico demais para se atrasar.

Tomou um gole de água e, em seguida, usou do hidratante para amaciar suas mãos que muito seriam usadas pelo rapaz que, como previu, bateu à porta no instante certo. A respiração travou no momento e suas pernas gambas por pouco não atrapalharam seus atos, o que logo conteve aliás.

Fez como sempre, sem tirar nem pôr. Abriu-lhe passagem e pendurou seu casaco, tentando decifrar em seu rosto suas necessidades e por isso ficou quieto, deixando que ele se ajeitasse, sem nem precisar dizer para que ele se sentisse em casa.

Não havia silêncio, mas a música ambiente não era de todo ruim. A mistura de cajón e chocalho que ecoava pelo espaço de péssima acústica e vinha do estabelecimento de má fama à frente era forte. Um instrumental daqueles cujo letra não era necessária para arrebentar os corações que com ela se conectavam e permitiam sua invasão em vossos sentimentos. Era bom para pensar.

Serviu o whisky sem gelo com pouco de açúcar e limão na borda do copo. Não era um enfeite ou mero agrado diferencial, era um gosto à parte do cliente que repousou na poltrona e mirou o teto com a fase apática apesar de rude.

Ele bebeu enquanto o outro acendeu seu cigarro, com a fruta saborizando o forte trago que veio junto de todas as mágoas e frustrações do dia. Agarrou os próprios cabelos, rangendo os dentes enquanto chorava e Eijirou massageava seus tensos ombros como um sutil recado:

Estava livre. Estava seguro. Estava tranquilo. Estavam só os dois. Só não estava em paz, mas quem sabe ao seu lado ia ficar - ao menos pelos 59 minutos restantes que seu cachê pagava.

Garoto de Aluguel | KiriBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora