XV

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Gotas caindo pesadas em seu ombro. O sopro expulsou a fumaça de tabaco junto à tensão que as mãos ágeis e gostosas arrancava de seus ombros. Inspirou a umidade misturada ao perfume forte.

Nenhum incenso o acalmava mais que o cheiro de Kirishima.

E por falar nele, a massagem prosseguia como se tocasse um piano delicado. Em vez de música, um ou outro arfar ou até gemer. Cara, Bakugou precisava disso. E Eijirou sempre sabia o que ele precisava antes mesmo dele saber.

Unhas arrastadas pelo pescoço, arrepiando a nuca. Dedos por entre os cabelos molhados. Puxou-os para trás e pôde ver feições serenas tão preciosas quanto raras. Bonitas. Um privilégio assisti-las.

Chamaria de arte – e nas obras de arte é proibido tocar.

Respirou fundo para ser imitado, sinal para que prendesse a respiração. Se sua pele não poderia tocar a dele, a água que derramou cuidadoso, aos pingos, pelo rosto rude faria seu papel. O canto direito do lábio superior trêmulo, uma reclamação pelo choque término. Havia quentura e não só pela febre.

— Eu vou cuidar de você! – um sussurro e uma promessa.

Só assim houve o conforto e a resistência se foi junto do que escoou pelo ralo.

Bakugou estava fraco, frágil e vulnerável, por mais que odiasse reconhecer. O ódio envenena e ele como um poço, contaminava-se apesar da recusa, algumas lutas não se podia ganhar.

Da banheira para a toalha morna. Engoliu o próprio orgulho para se apoiar nos ombros dele, uma dose feroz e insuportável. Deslizou como um tecido nos braços do trapezista e nem a mais pura seda de sua coleção caiu tão gentil sobre seu corpo. Meia lua circense girada na ponta dos pés de um literal acrobata que alternou força, firmeza e doçura ao dependurá-lo antes que os dois fossem ao chão, trazendo-o de volta à pose inicial para saírem do banheiro.

Cuidado para não esbarrar, derrubar ou mesmo acordá-lo. Nos acordos, nada de cama mas esse era um extremo em que se desprezava cláusulas em prol do conforto e o deitou na sua. Resultou numa escultura profana e mui bela, daquelas que se devia cobrir para proteger do pó, do sereno, do frio. Uma pena que manta alguma o guardaria do frio rebelde interior.

Se apartando de metáforas, tratou de algo que tratasse o inferno do organismo dele, uma boa infusão poderosa até no aroma. A xícara sobre um banco baixo. Deitou seu rosto para o lado e deixou a fumaça branda fazer seu efeito a cada novo respirar.

Ajeitou suas coisas, roupas e pelo bem de seu pescoço, soube que em nada deveria mexer. A curiosidade em partes sanada quando dos bolsos do paletó caíram envelopes. Tantas carteiras, documentos e identidades? Seria mesmo Katsuki o seu nome? O que mais ele guardava consigo num fundo falso? Se reservou à ignorância e devolveu tudo a seu lugar, refazendo a costura desfeita para que não acontecesse mais.

Prometeu cuidados, não intromissão. Seria incapaz de o trair.

Garoto de Aluguel | KiriBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora