IV

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Soprou a fumaça mais densa e inspirou com força, tragando e repetindo o primeiro ato e os seguintes em um loop interminável que lhe acalmava de forma misteriosa e inexplicável. Eram só movimentos repetitivos. O que tinha de especial? Não sabia, mas também não queria explicações lógicas, apenas que tudo funcionasse e o ajudasse a se reerguer.

Distraído, só notou que Eijirou colocou suco de limão fresco no copo que outrora teve alcoólicos quando ouviu o barulho da geladeira sendo fechada. Nem ele próprio percebera que havia bebido consideravelmente nesse meio tempo… O timing daquele filho da puta era foda demais para saber o que e quando precisava de algo.

Suspirou mais tranquilo quando, usando desse “poder”, o rapaz voltou para trás da poltrona e assim o abraçou forte, passando o apoio e a sensação de segurança que, de novo, nem o próprio Katsuki sabia precisar tanto até que sentiu o calor confortável de seus fortes e bem trabalhados braços junto do cheiro adocicado de perfume dito como feminino e barato de qualquer banca de esquina em promoção presente em seu pescoço. Gostos peculiares que ele não entendia, mas até que apreciava em segredo.

A segurança do abraço do moço era saborosa como a limonada, que era azeda como sua vida com leves traços doces como o sorriso do mesmo cara que esfregou o rosto por sua bochecha. Se fechasse bem os olhos, Bakugou até podia se imaginar em um universo paralelo onde tudo era simples, não tinha gente querendo sua cabeça, não estava prestes a trair a confiança de quem o considerava como melhor amigo por causa de dinheiro e nem que passou anos construindo uma reputação temível no mesmo nível em que era respeitável em seu submundo.

Abriu os olhos por não confiar em ninguém, mesmo que fosse Kirishima e nele sentisse um conforto diferente. Ossos do ofício – isso para não chamar de traumas oriundos dele e se é que podia chamar de ofício o mar de corrupção em que se banhava todos os dias e colocava comida em sua mesa.

Mas será mesmo que não confiava em Eijirou? Falar tanto para ele não era algo de quem desconfiava de uma pessoa, pelo contrário. Talvez fosse o medo de se decepcionar com mais essa pessoa por quem, não sabia porque, nutria certo carinho.

Agradeceu o suporte com um aceno e logo cheirou o copo que não viu ser preparado, só sentindo-se seguro quando, ousado, o rapaz bebericou seu suco. Sorriu acariciando seu rosto. Aquele filho da puta podia ler mentes? Não soube, mas teve a impressão de que ele pensou em dizer “Beba o quanto quiser” e não disse por ter noção de que não devia tripudiar de um cliente tão importante.

Em vez disso, o “excepcional” Kirishima esperou que terminasse e lhe estendeu a mão com um riso mais ameno, querendo lhe levar até outro cômodo.

“Acho que um banho relaxante vai te fazer bem”.

Bakugou achou graça de ver aquele idiota sempre antecipando suas necessidades.

Garoto de Aluguel | KiriBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora