VI

2.7K 365 56
                                    

A água aquecida lhe convidou a afundar, relaxando com seu conforto e, inspirando o vapor que nublava os azulejos. Repousou a nuca na borda da escorregadia banheira com dificuldade, sendo essa a única parte não submersa no banho – e a única imersa em sua maior confusão.

Fechou os olhos com a mesma força com a qual sua alma era massacrada por suas próprias decisões mal tomadas, amargando o sabor das consequências que mais pareciam marretadas dadas em sua cabeça pesada graças à pressão que andava sofrendo.

Ah, o grande e temido Katsuki, aquele que só de ser citado poderosos tremem com medo de serem finalizados ou, pior, desmascarados. A grande ameaça ao reinado de hipócritas e a vida de quem ousava sair de seus trilhos. Porra nenhuma, era só um contrabandista chinfrim metido a influente no tráfico de produtos e drogas ilegais que soube aumentar os negócios enquanto servia de boneco nas mãos da mãe ou qualquer outra pessoa do tipo. Uma imagem tão frágil quanto seu psicológico derrubado e exausto.

Estalou os lábios em frustração. Dificilmente o cansaço mental escoaria pelo ralo, quando esse fosse aberto, junto com o físico. Suas boas projeções de futuro já haviam seguido tal caminho há tanto tempo que ele nem saberia contar quanto tempo fazia.

Uma gota salgada não faria diferença na imensidão já não tão potável assim onde seu corpo mergulhava, assim como uma gota de alívio não escoaria o denso e profundo oceano onde seu eu se afogava. Sendo assim, não se importou de soltar mais lágrimas, apesar delas não saírem mais tão fluidas quanto antes.

Queria ele que isso fosse um bom sinal de resiliência e superação. Estava mais para mais uma demonstração do quanto podia se enrijecer e encarnar sua face carrancuda e impenetrável que servia para protegê-lo do mundo, mas perdia função uma vez que era seu maior inimigo e que, se não desmoronasse a qualquer momento por fora, o expondo para o mundo, explodiria-o por dentro de forma desastrosa e irreversível. Não ia mudar nada também, pensou.

No final das contas, nada mudava e isso lhe arrancou um tristonho suspiro. Era grato aos cuidados de Kirishima, mas infelizmente nem ele era capaz de dar conta de cuidar de todos seus problemas e necessidades apesar de seus muito bem vindos esforços que, pra ser sincero, iam muito além do que seu dinheiro e olha que pagava o dobro da hora habitual do moço por todos os serviços, seu precioso silêncio e valioso tempo, esse de forma literal.

O sempre excepcional Eijirou. Que merda estava fazendo ali, afinal? Tomando o tempo de alguém que se divertiria mais com outro cliente menos problemático e o envolvendo em negócios perigosos que não o diziam respeito? Trazê-lo para tão perto de seu furacão particular não parecia leal como o rapaz.

Merda, merda... Era só o que sabia fazer? Pensou nisso quando notou seu rosto afundado por completo na água sem se preocupar. Kirishima sempre sabia quando precisava de socorro.

Garoto de Aluguel | KiriBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora