VII

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Olhando fixamente para o moço recostado à parede onde apoiava a cabeça molhada e que se mantinha sério, Eijirou travou o suspiro de alívio por ter chegado a tempo de qualquer besteira irreversível, assim como fez com o estalo de lábios carregado de bronca.

Ele era muito bom em suprimir o que pensava, mas seus olhos não tinham o mesmo talento e Katsuki os sentiu pesados e julgadores, não sobre sua atitude, mas sobre sua fraqueza – mesmo que o observador ainda o considerasse um dos mais fortes homens que já conhecera.

Para bom entendedor, o silêncio e a falta de coragem de encarar sua face bastavam como um sinal de que conversas não eram bem vinda. O medo de ouvir reclamações, jugos ou frases clichês de "você aguenta mais" ou "pense nos que ficarão" travavam sua garganta, até porque, no caso do último jargão, pensar na festa que os que deixaria para trás fariam sobre seu caixão só serviria de incentivo. Bastava que permanecesse ali. Já era o bastante para que Bakugou sentisse que ainda tinha o apoio de alguém. Pago para isso, mas ainda assim alguém que não hesitou a lhe oferecer a mão que segurou firme, acenando grato por ver nele quem não lhe deixasse cair ou, ao menos, lhe segurasse para amortecer a queda.

Devia agradecer? Agir como se fosse uma obrigação? Deixar para la? Não soube. Não fazia diferença pois Kirishima não lhe socorreu em busca de agrados financeiros, desculpa, gratidão ou afim de ter crédito com um cara importante e por simples humanidade.

A quietude começou a incomodar e a hora já estava se findando. O banho já estava de bom tamanho, os dois concordaram sem precisar debater. Aceitou a toalha que ele estendeu, sabendo que ele a deixaria sobre a pia para lhe dar a liberdade de se secar e colocar a muda de roupa limpa e seca que deixava ali para essas ocasiões.

Não demorou muito para se vestir, secar os cabelos e usar qualquer produto que estivesse à disposição para eles. Por sorte não estava inchado ou com olheiras, então foi moleza recolocar sua máscara impenetrável e inquebrável para os de fora.

Ajeitou a camisa e, do bolso da outra calça, tirou a pistola, a carteira e o celular, sacando da segunda o cache do dia e o deixando sob o jarro de flores de plástico no mesmo banheiro de onde saiu como se nada tivesse acontecido.

Um sorriso, um cigarro extra para fumar no caminho e a cortesia do auxílio para vestir seu casaco eram parte do pacote. O impulsivo beijo carinhoso que Eijirou depositou em sua testa como sinal de cuidado não. O riso carregados de sentimentos indefinidos que deu após isso, já com a porta fechada, muito menos.

Garoto de Aluguel | KiriBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora