05 · E se...

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Imagine você estar bebendo os restos mortais de alguém sem saber. A cor da água é límpida e cristalina quando passada pelo filtro, mas o gosto estranho e o cheiro denunciam que há alguma coisa errada.

Por um momento você deixa para lá, mas você é curioso e já viu casos na internet em que corpos foram parar na rede de abastecimento do prédio ou no poço de alguém.

Nessa hora você resolve conferir, ver corpos esfolados ou decapitados não satisfaz a sua mórbida necessidade em ver algo definhar.

Você sobe por aquelas escadas e se debruça sobre a grande caixa d'água. Empurra a tampa e se inclina. Sob a luz do sol você enxerga algo boiar e ao se aproximar, você é bombardeado por aquele cheiro de morte.

Você tampa o nariz e ri. Há um gato morto boiando naquelas águas.

Passa pela sua cabeça repetir o mistério que aquela pobre garota passou. Decidido, você escolhe o momento apropriado e uma vítima disposta a testar sua teoria.

Você é um sociopata, não burro.

Escolhe gente que não faria falta, vai em abrigos e conversa com estranhos e os seduz. Eles são muito desconfiados com você, alguém que oferece ajuda sempre quer algo em troca. Em contrapartida, você muda a sua aparência e se torna alguém "normal" entre eles. As mulheres são as mais desconfiadas sobre as suas intenções, os homens agem na maior camaradagem.

Chega gente todo o dia, você observa e se esgueira entre eles. Lá conhece uma garota, dezesseis anos e recém fugida de casa.

Os dois se aproximam e iniciam um relacionamento, ela deposita a sua confiança em você. Você mina suas atitudes e sentimentos, e reforça seus desejos.

Você a leva para a sua casa como um filhote que acabou de adotar. Tola, ela se deslumbra com a ostentação do seu apartamento e se acomoda em seu quarto.

Noites se passam e você resolve fazer um jantar para ela. Prepara algo forte para mascarar o gosto e o cheiro do remédio. Ela come e se sente esgotada, enjoada. Os olhos pesam e a você a pega antes que ela caia.

Você sai pela porta dos fundos e passa pelos pontos cegos da rede de segurança do prédio. Ela é pesada demais e você sabe o que fazer.

Com as partes separadas e jogadas em sacos plásticos de lixo, você sobe pelas escadas arrastando sobre os ombros a metade de um torso. Chegando lá, deposita sobre a caixa d'água o saco. Parte do corpo cai com um ploft sobre a água.

Os restos mortais estão escondidos como uma caça ao tesouro em diferentes partes da cidade. Vaidoso do jeito que é, aposta contra a polícia quem achará primeiro. Logo uma cabeça é encontrada no viaduto da cidade e o lugar é cercado.

Elétrico do jeito que está, você volta há um dos locais de desova e observa com satisfação a Polícia Científica trabalhar fazendo parte da multidão como um mero espectador curioso.

Semanas se passam e o mistério perdura. Não conseguem identificar a menina pela destruição da arcada dentária e pelos dedos amputados.

Chega a hora de agir um pouco mais.

Você atrai e mata mais gente tomando gosto pela anatomia e detalhes dos cortes. Você manda posts em redes anônimas e elas se propagam feito pólvora, a Polícia deve estar monitorando qualquer movimentação suspeita. O jeito é colocar entre eles um bode expiatório.

Seu caso ganha proporções gigantescas ao o apelidarem como "Carrasco da Meia-Noite".

Desconhecidos saem as ruas e ligam para a Polícia assumindo a indentidade do autor dos homicídios. Como em um jogo de espelhos, você aproveita a atenção necessária e desvia o foco para um outro crime.

O da sua morte.

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Srta. W

Historietas Macabras: Para leitores que tem pressa | Vol. 01Onde histórias criam vida. Descubra agora