07 · Um Segundo para a Escuridão

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Lembro que a coisa mais assustadora quando eu era criança era quando eu fechava os olhos e ouvia aqueles tambores em ritmo de fúria ecoarem no canto mais obscuro da minha mente.

Não havia uma noite que eu não acordasse aos gritos.

Quando eu estava mais calma, me perguntavam o que havia acontecido, eu nunca sabia o que dizer. Formar palavras coerentes diante do terror daqueles tambores era um sacrifício desnecessário que eu não estava disposta a pagar.

A fadiga matutina era ruim para todos nós quando meus pais tinham a certeza de que só era uma fase, de que crianças tinham sonhos ruins toda hora. Quando passei a ver aquilo durante o dia me mantive calada. Pertubar a certeza deles de que tudo ia ficar bem seria cruel demais.

Eu dormia com a certeza de que veria aquela sombra de novo se mover ao meu redor em uma dança estranha enquanto o batuque dos tambores me perseguia.

Noites como essa eram rotina até a noite da vigília em que eu acordei presa dentro do meu próprio corpo e não mais me vi sozinha.

Um braço me envolvia e estava tão enrolado ao meu redor quanto uma cobra sobre sua presa. Passei a sufocar e aquela coisa me disse para ficar quieta, que ainda não tinha acabado.

Os tambores que eu não havia notado passaram a ascender até eu lacrimejar tamanha tortura. Foram os três minutos mais agonizantes pelo qual passei.

Eu tentava me mexer, gritar, berrar mas o braço passou a me apertar e eu vi algo se mexer embaixo da minha coberta e ganhar forma, e então eu me desesperei ainda mais até que eu acordei engolindo o meu próprio vômito.

A frequência dos sonhos passou a ser maior desde então.

Se eu dormir de novo, acho que morro de vez.

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Srta. W

Historietas Macabras: Para leitores que tem pressa | Vol. 01Onde histórias criam vida. Descubra agora