Não existe coisa mais macabra que crianças mortas que viram entidades e que se alimentam do medo. Essas são travessas e muito espertas, se você se esconder elas vão te achar. As criaturinhas são benignas, não machucam de verdade. Só se atente, o medo do escuro as chama.
O medo, a paranóia são as frequências certas para eles. Não dizem que quem crê, vê? Sente?
Não recomendo desconsiderar aquele instinto de estar sendo observado. Quando você olha a escuridão, é normal que ela olhe para você também.
Naquela noite, lembro de estar de costas para o breu, tinha acabado de secar a garrafa quando notei pelo canto olho uma movimentação estranha embaixo do armário de louças. De lá, parecia que alguém se acomodava desconfortavelmente, e mesmo com a luz vinda da geladeira, eu não via nada sob aquele negrume.
Devia ser um rato, não devia?
A parte racional de mim acreditava que sim, até o som que eu estivera ouvindo mudar. Enquanto eu enchia a garrafa na pia da cozinha, o som parecia vir debaixo de mim.
Entenda, minha pia tem um pano que cobre toda a encanação. O que ainda estivesse lá, permaneceria no escuro. Então eu liguei todas as luzes e me muni de uma faca. Eu não era cética mas isso não eximia a parte racional de mim de desconsiderar aquela possibilidade.
O rato na minha cozinha estava vivo ou morto na parte oca da minha pia? Eu só descobriria vendo. Então eu estiquei a mão e abri o pano.
Tinha uma criança ali.
Ele estava encolhido entre os canos e levava algo escuro aos lábios. No mesmo momento me afastei e escondi a faca encima da pia.
"Que diabos tu tá fazendo aí, menino?" perguntei e ele continuou me olhando como se eu fosse um ratinho que ele levaria a boca.
Ele não falava e ficava me observando de um modo tão desconcertante e travesso. Eu sabia que nada viria de bom no momento em que ele falasse. Só que isso não aconteceu, ele sumiu... E eu só, corri, corri daquela cozinha em direção ao meu quarto.
Esse foi o meu primeiro contato com um Carazi.
Minha mãe não sabe e ela morre de medo dessas coisas, se eu contasse para ela que aquele menino se senta ao seu lado na cozinha toda noite quando vamos jantar, ela enfartaria.
Eu ignoro ele às vezes porque é o que me resta.
Ele pode andar pelos corredores dessa casa o quanto quiser, roubar meus pertences e escondê-los aonde for, aquele moleque não vai me amedrontar.
Tente não olhar para escuridão, tudo bem?
Pode ser que você encontre algo que não queira.Gostou do que leu?
Que tal uma estrelinha ⭐?Srta. W
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Historietas Macabras: Para leitores que tem pressa | Vol. 01
ContoO ser humano é inegavelmente atraído por histórias que exprimam o horror desde os tempos imemoriais. Repassadas oralmente, elas colocam os filhos dos seus filhos para dormir, deixando subentendido o aviso de que o mal está sempre à espreita. Em "His...