Dois

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Podia jurar que sua vida estava sobrando naquela grande tensão que se instalou no salão, os dois homens estavam perdidos em tantos pensamentos junto com aquela mulher de cabelos pretos que, Sakura mal podia se mexer.
Não daria ao luxo ficar ali e presenciar um reencontro maçante — pelo que parecia. Não queria saber qual era a história e muito menos como aquele garoto se encaixava ali.
Segurou a vontade de desmaiar e endireitou o corpo, cruzou os braços e sem dizer qualquer palavra que fosse cortou o salão indo em direção ao seu quarto, não queria mais sentir a tensão de quem já teve algo. Conhecia muito bem aquela sensação, Shikamaru a fazia sentir aquilo. Descalça subiu as escadas e não se deu trabalho de virar o rosto quando ouviu seu nome ser chamado, estava cansada de tanta emoção e sua cabeça precisava de descanso.
Não voltou para o quarto principal, seu humor era como uma grande bola de fogo. Sabia que, por mais que fosse um passado, eles estavam ali e era evidente o envolvimento que um dia tiveram, pôde ver nos olhos castanhos avermelhados daquela mulher. Sakura não estava preparada para uma onda de sentimentos dessa.

Bateu com força a porta do quarto florido, passou o trinco e seguiu para a pequena sala de banho. Acabou de sair de um turbilhão de sentimentos e não tinha estruturas para aguentar o que estava prestes a acontecer, se seu amado não tivesse demonstrado tal surpresa talvez Sakura não estivesse tão perdida. Mas ele se prendeu em algo que ela não podia ver, apenas sentiu o peso que já carregou quando estava de certa forma presa a Shikamaru. Imaginava onde tudo iria dar e se por acaso isso acontecesse não ficaria para presenciar.

Encheu a banheira de água, tirou apenas a chemise que usava se afundou dentro da água. Estava tão inconformada com o que estava acontecendo que seu inconsciente ignorou os gritos e batidas que davam em sua porta, talvez estivesse dando muita importância para a tensão que sentiu mas a conhecia bem.
Lavou seu corpo sem se importar com as súplicas que davam, não deixariam com que abalassem sua cabeça novamente. Secou seu corpo com cuidado para não machucar ainda mais sua pele sensível e enrolada naquela toalha seguiu para o quarto.

Sempre tinham vestidos seus ali, se aproveitou de um deles e penteou apenas o necessário de seus cabelos. Os gritos e batidas cessaram, e ela não se importava com quem quer que fosse.

Já havia passado da hora de buscar seu pequeno, pronta e decentemente vestida. Segurou parte da saia de seu vestido e destrancou a porta, os dois homens estavam sentados um de cada lado do corredor. Com os rostos perdidos em pensamentos de algo que não conhecia, Sakura simplesmente fechou a porta atrás de si e partiu em direção as escadas.

— Sakura, por favor espere. — Shikamaru a parou no meio do corredor. — Não faça isso, deixe ao menos que ele explique a situação.

Sakura respirou fundo e virou o corpo. — Quando ele souber me explicar o peso que eu senti em seu olhar quando aquela mulher o encarou, — Disse passando a mão sob o pingente que carregava em seu pescoço. — Estarei pronta para ouvi-lo. Agora se me der licença, um pequeno garotinho me espera.

Ela girou em seus calcanhares e desceu as escadas, respirou fundo ao ver aquela mulher ainda dentro daquele salão e seguiu para as portas principais. A puxou com força e rumou para o jardim dos fundos.
Em vez de seguir para a casa de Ino — Onde seu pequeno Akumi estaria, provavelmente — Desceu as escadas de pedra e deu a volta nos arbustos, entrou no calabouço depois de verificar se não havia sido seguida.
Aquele lugar havia se transformado em seu refúgio, um lugar silencioso para que pudesse pensar sem que acabasse enlouquecendo. Agora que podia pensar claramente, depois de passar dias sem saber o que estava acontecendo, desceu as escadas e entrou na mesma cela de sempre. Não havia o que pensar na verdade, estava tudo escancarado em sua frente.
Viu nos olhos negros de seu marido que ainda havia resquícios de algum sentimento por aquela mulher, além do garoto que tinha as mesmas características que seu pequeno Akumi. Exagero ou não, poderia afirmar que a presença daquela mulher havia mexido com os sentimentos dele.

O candelabro que costumava permanecer aceso diminuiu seu fogo até que apagasse, no escuro, não podia ver um palmo a frente. Sakura não se importava com a escuridão, passou dias perdida nela para que lhe fizesse algum mal.
Encostou sua cabeça na parede fria de pedra e deixou seus muros ruírem antes que se encontrasse com o único homem que a queria por inteira, Akumi provavelmente era o único que a amava por inteiro e sempre a iria ter.
Deixou o busto de seu vestido molhar enquanto as lágrimas desciam pesadas por suas bochechas. Agora que tinha melhorado e tudo estava voltando a se encaixar os deuses apenas chegaram e chutaram cada um de seus alicerces, estava abalada, não por ele ter tido um outro filho mas por se perder naquele olhar castanho avermelhado.
Já havia passado por isso com Shikamaru quando retornou para o castelo, mas não com essa intensidade.

Naquele lugar silencioso, Sakura se deixou soluçar. Seu coração palpitava em seus ouvidos e seu corpo tremia levemente.
Não ouviu os passos que, até então, eram silenciosos. Seu rosto foi acariciado levemente e sem que abrisse os olhos novamente desabou naquele carinho, naquele momento precisava apenas de um colo e mesmo que fosse um dos guardas que não costumava ter liberdade alguma o usaria de apoio.
Chorou mais forte enquanto seu corpo era abraçado ainda sentada naquela cadeira, o cheiro do homem que a abraçava era doce e tão calmante que se encolheu em seu abraço.

Preferia desabar ali do que fazer isso na frente de Kakashi, que até algumas horas mais cedo direcionava todos os seus olhares profundos apenas a ela. Seus cabelos foram carinhosamente acariciados e o peito forte dele a segurava firme para que não caísse no chão, não se importou em deixar seu uniforme molhar com suas lágrimas. Conhecia aquele tecido, já o tirou do corpo de Shikamaru.

— Senhora, Sakura...? — Conhecia aquela voz, mas com tanto tempo sem ouvi-la e depois de todo esse turbilhão de emoções não conseguia distinguir quem era. — A senhora está bem?

Sakura se afastou do corpo dele devagar, fungou e limpou o rosto antes de abrir os olhos. — Estou, é apenas um dia ruim. — Disse olhando para os olhos brilhantes daquele que era designado a sua guarda pessoal.

Ele a olhava sério e podia sentir ser examinada na fraca luz da tocha que ele havia trago consigo. — Não costumo me intrometer nos assuntos do castelo, mas não pude deixar a senhora descer sozinha para esse lugar horrível. — Disse puxando uma mexa rosada de seus cabelos que havia molhado em seu rosto. — Não devia estar aqui, não é apropriado para uma dama, quanto mais para a senhora.

Sua preocupação era palpável, talvez fosse apenas pelo fato de ser designado para que a protegesse, mas fez com que Sakura se sentisse um pouco mais querida naquele momento.

— Sinto muito, não queria molhar suas roupas. — Disse se afastando um pouco mais daquele cheiro doce. — Por favor, não diga a ninguém que me escondo aqui. — Pediu para seus olhos perolados e preocupados. — É o único lugar que tenho um pouco de paz.

A luz do fogo chicoteava e fazia estalos enquanto ele a olhava talvez pensando ou não se deveria contar ao seu marido de suas fugas.
Ele passou o polegar em uma das lágrimas que ainda teimou em descer e respirou fundo.

— Não direi, mas mesmo sendo dentro dos limites do castelo é perigoso que fique sozinha num lugar como este, deveria estar com sua dama de companhia no mínimo.

Sakura olhou agradecida a sua gentileza e suspirou. — É bem mais complicado que apenas andar acompanhada, — Disse olhando para os próprios dedos.

Ele apoiou um de seus joelhos no chão e sem exitar levantou seu rosto após enxugar outra lágrima teimosa. — Não é da minha conta o que acontece, mas precisa levantar sua cabeça e não deixar quaisquer coisa que for te abalar. Faço sua guarda de longe mas vejo o suficiente para saber que não é fraca, mas precisa parar de descer aqui já que pode ir para qualquer outro lugar. A acompanharei se necessário, mas não venha para esse lugar onde coisas horríveis aconteceram.

Ela acenou fitando seus olhos perolados, talvez realmente precisasse ir para qualquer lugar que não a fizesse lembrar de todas as coisas que viveu no castelo. Ele suavizou o olhar e com a sombra de um sorriso se levantou, segurando o cabo de sua espada que estava presa em sua cintura. Lhe estendeu a mão, aceitaria seu conselho e iria para outro lugar.

Aos Seus Pés - Parte 3 - Kakasaku/ShikaSakuOnde histórias criam vida. Descubra agora