Kioko sabia que não poderia ficar naquele quarto de hotel por muito tempo ou seu dinheiro acabaria. No dia seguinte, sentindo-se ainda abalada por ter visto Adrien com outra mas tendo que ser forte por seu bebê, saiu a procura de um quarto para alugar, já que essa seria a opção mais barata no momento. Conseguiu na casa de uma senhora de idade alugar uma vaga em um quarto, que dividiria com uma estudante. Pagaria 200 euros por mês, o que a deixava com uma reserva para comida e outras necessidades. Mesmo assim pensou em procurar um emprego, mas não queria aparecer muito. Voltou ao hotel e fechou a conta, levando consigo sua pequena mala e suas economias. Não queria que Adrien descobrisse que ela estava ali e ainda mais grávida. Graças aos seus estudos, tinha fluência em inglês, francês e italiano, além do seu idioma materno que era o japonês. Descobriu com sua colega de quarto Mylene que poderia fazer trabalhos de tradução on line para alunos de faculdades e assim fez. Com a ajuda de Mylene que emprestava seu laptop para ela, conseguiu trabalho dentro do próprio quarto.
Kioko era muito calada. Como Mylene trabalhava e estudava, só a via na hora de dormir. Conversavam pouco. Mylene via a barriguinha da colega crescer, mas ela quase não falava nada de sua família ou sobre o pai da criança. Poucas vezes Kioko ia à rua, só mesmo para mercado ou farmácia. Usava a internet para acompanhar a gestação, já que não tinha dinheiro para médicos. Não sabia como iria se virar na hora do parto, até que Mylene uma vez a perguntou isso. Sem resposta, Mylene disse que tinha uma maternidade pública um pouco distante dali, mas que lá ela teria total assistência, sem pagar nada. Kioko agradeceu a informação e no dia seguinte foi lá para fazer uma ficha. Disse que tinha vindo do Japão e perdera seus documentos na estação de trem, não tendo nada que comprovasse seu nome. Registrou-se com o nome de Kagami Long, para que sua mãe nunca a encontrasse. Prometeu na maternidade que pediria que enviassem cópias dos seus documentos do Japão e que assim que chegassem ela os levaria para o hospital.
Um pouco mais tranquila por isso, sabendo agora que teria uma menina, Kioko começou a comprar umas roupinhas para o bebê. Sua menina merecia tudo o que ela pudesse dar! Todo dinheiro que ganhava do trabalho era para isso. Comprou uma bolsa branca com detalhes em joaninhas vermelhinhas, roupinhas, fraldas, mamadeira...coisinhas que um bebê precisaria. Estava feliz! Já tinha conversado com a dona da casa se poderia continuar ali por um tempo depois que a bebê nascesse e a proprietária concordou. Mylene também não se opôs, pois viu que a colega não tinha muitas opções. Sabia que a menina tinha vindo do Japão fugida da mãe por conta da gravidez, então no fundo, se compadecia dos problemas da mesma. Kioko tinha muito medo que a mãe descobrisse que ela estava ali e que a forçasse a voltar para o Japão, coisa que ela não queria. Certa noite contou para Mylene a história do celular e de como sua mãe era autoritária em relação a ela. Não duvidava que ela poderia aparecer ali a qualquer momento, arrastando-a pelo braço e retomando o controle de sua vida.
Kioko tinha uma coleção de folhas com reportagens e fotos de Adrien Agreste dentro de uma pasta vermelha, junto a alguns papeis de carta, envelopes e uma canetinha. Uma vez chegou a dizer para a colega que ele era muito mais bonito pessoalmente. Mylene achava que ela era uma super fã...nunca poderia imaginar que Adrien era o pai da bebê da colega! Kioko nunca falara nada sobre o pai da criança, apenas que ele tinha sido o grande e único amor de sua vida e que se foi tão de repente como chegou.
O tempo passou e Kioko entrava no 9° mês de gestação. Sentia umas dores estranhas, mas achava que era coisa do peso da barriga. Sua bebê se mexia bastante, o que a deixava feliz, mas também com dores. Os poucos exames que fez mostravam que estava tudo bem com as duas, então não tinha motivos para se preocupar.
Estava com 38 semanas. Era uma segunda feira e ela saiu para ir ao mercado, pois queria comprar umas frutas. Mylene estava se arrumando para ir para a faculdade e Kioko também se arrumava para sair. As duas se despediram e cada uma foi para o seu lado. Kioko tinha deixado seu celular carregando, afinal só ia no mercadinho ali perto com o dinheiro no bolso. Quando saiu do mercado, a menina sentiu que algo não estava bem. Um líquido escorria pelas suas pernas e ela sabia que aquilo não era bom sinal. Começou a sentir uma pressão grande na cabeça e muita dor no baixo ventre. Não tinha certeza se era uma contração, pois ninguém tinha lhe explicado como seria. Carregava duas sacolas pesadas com frutas, mas já não estava conseguindo andar. Fez sinal para um taxi que passava e pediu que a levasse para o hospital mais próximo, pois não daria tempo de chegar na maternidade. O motorista , vendo seu estado, a levou para a Maternidade Port Royal, onde ela seria bem atendida. Assim que chegou lá, deixou as sacolas de frutas no carro e jogou uma nota de 10 euros para o motorista, que era mais que suficiente para pagar a corrida. O coitado pensou em estacionar e ajudar a pobre moça, mas quando olhou ela já tinha sumido de sua vista e entrado ni hospital. "Ela teria ajuda ali", pensou, então simplesmente foi embora.
Quando Kioko entrou na recepção, já não conseguia enxergar as coisas a sua volta. Tudo estava ficando escuro e ela já não conseguia respirar direito. Tonta e com muita dor, só teve forças para uma frase:
"Por favor, alguém me ajude...minha bolsa estourou e não me sinto bem..."
Dizendo isso, desmaiou ali mesmo...e não acordou mais...
Ao fim do dia, Mylene chegou e não encontrou a colega. Seu celular estava carregando e tudo estava exatamente como quando ela tinha saído. Perguntou a dona da casa, que respondeu que não via a menina desde cedo, mas que ela também tinha passado o dia fora, então não podia dar melhores informações. Mylene ficou preocupada: ligou para a maternidade pública, perguntando por Kioko, mas não havia registro de ninguém com esse nome. Será que Kioko tinha mentido para ela, dizendo que estava indo lá mas na verdade não estava? Depois lembrou da história da sua mãe e do medo que a menina tinha dela aparecer...será que a mulher tinha conseguido encontrar a filha? Não tinha muito o que fazer...então resolveu esperar...
As semanas passaram e nenhuma notícia de Kioko. A essa altura ela já teria dado à luz, com certeza! Mylene então deduziu que a colega deveria ter voltado para o Japão com sua mãe. Juntou todas as suas coisas e colocou numa caixa. Caso ela voltasse um dia, tudo estaria ali guardado com carinho. Achava estranho a menina não ter levado nada, nem o dinheiro que tinha guardado em uma caixinha rosa que ficava embaixo do colchão. Nem seu celular ou as coisas da bebê, que ainda não tinha nome. Kioko disse que só daria um nome depois que visse seu rostinho. Ela era muito carinhosa com a bebê. Cantava baixinho para a barriga antes de dormir e sempre fazia massagem com um creme com cheirinho de cereja. Dizia que daria para aquela criança todo o amor que sua mãe nunca lhe dera. Mylene achava aquela mulher incrível! Estava sozinha em um país estranho, grávida, morando num quarto, sem nenhuma família ou amigos por perto e sem o apoio do pai. E, mesmo com isso tudo, amava aquela criança mais do que a si mesma.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Nossa filha
RomanceAdotar uma criança talvez seja considerado um dos maiores atos de amor à vida! Marinette sabia que a felicidade dela estava só começando, assim como todos os seus problemas...