24 - Um filho?

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    Adrien foi embora e Mari ficou com Luka. Ele ainda estava assimilando toda aquela história enquanto ela estava sentada no sofá, olhando pra Tikki deitada ao seu lado.

Luka:—Você está bem?

Mari:—Eu não sei. Um lado meu  se compadeceu da história dele, de tudo o que ele passou. Deve ter sido terrível não saber dela, não conseguir se comunicar com ela...e agora, depois de todos esses anos, descobrir que pode ter uma filha, ainda mais que agora ele não pode mais ser pai. Mas outro lado meu o odeia por ele ter aparecido, por ter vindo virar minha vida de cabeça pra baixo com a possibilidade dele querer tirar ela de mim. 

Luka:—Eu não sei, Mari. Ele me pareceu ser uma pessoa decente. Ele sabe que você é a mãe dela. Talvez queira uma guarda compartilhada, ou o direito de visita nos fins de semana. Eu o entendo, é bem complicado pra ele também. Se a Emma estivesse ainda no orfanato, tudo seria mais fácil pra ele. Era só ir lá e pegar a menina de volta. Mas ela agora está com você, e isso complica tudo!

Mari:—De que lado você está, Luka?

Luka:—Nesse caso não tem lado, Mari. Sabe, eu nunca te contei uma coisa da minha vida.

Mari:—Não me diga que você também tem um filho!

Luka:—Não, mas poderia. Sabe, quando eu tinha 17 anos, eu tinha um amigo que era muito próximo. Morávamos perto e eu sempre ia jogar vídeo game na casa dele. O nome dele era Cristian. E ele tinha uma irmã mais velha, Manuela. Ela era linda! Mas era só a irmã do meu melhor amigo. Uma noite, a gente estava jogando e os pais dele não estavam em casa. Eles trabalhavam num hospital à noite e eu ficava fazendo companhia pra ele. Então os pais dele ligaram, pedindo que ele fosse no hospital levar uma pasta com alguns documentos, eu acho. Eu estava quase zerando o jogo, então falei com ele que ia ficar jogando até ele voltar. Ele saiu e eu fiquei sozinho. Então Manuela chegou. Estava chorando, com a maquiagem borrada. Eu não entendi nada. Ela me perguntou onde estavam todos e eu expliquei. Ela então sentou no chão, desesperada. Eu larguei o jogo e fui ajudá-la, não sabia bem o que fazer. Ela tinha terminado com o namorado, estava arrasada. Disse que ele a trocara por uma "novinha", e olha que ela só tinha 21. Eu disse que ela era muito bonita pra ficar arrasada por alguém que não merecia suas lágrimas. Ela me abraçou e logo estávamos nos beijando. Foi tudo tão rápido...quando dei por mim tínhamos acabado de transar no sofá, e sem camisinha. Ela me pediu desculpas, que não devia ter feito aquilo e tal...mas já era tarde: eu estava apaixonado por aquela mulher.

Mari:—Nossa! E o que aconteceu depois? Seu amigo implicou com o namoro?

Luka:—Antes fosse...não teve namoro. Eu a procurava, queria conversar sobre nós, mas ela disse que "não tinha nós". Pouco mais de um mês depois ela veio falar comigo que estava grávida, mas que iria abortar. Só falou porque eu tinha o direito de saber. Eu fiz de tudo para que ela não fizesse isso! Eu disse que assumia ela e o bebê, que me casava com ela se ela quisesse, que assumia o bebê sozinho...mas ela estava irredutível. Disse que uma criança só atrapalharia a vida dela e que não era a hora. Uma semana depois ela disse que já tinha abortado. Aquilo acabou comigo! Não tem um dia que eu não pense em como as coisas poderiam ter sido diferentes...

Mari:—Meu Deus meu amor, eu sinto muito...

Luka:—Pois é...eu poderia ter um filho de 13 anos agora...por isso eu entendo o Adrien. É claro que eu estarei com você sempre, mas como eu disse, não tem lado certo nessa história...Imagina você saber que não poderá nunca ter um filho e ao mesmo tempo descobrir que já tem um...é desesperador e ao mesmo tempo eufórico! Mas eu sei pelo que você passou para ter a guarda da Emma, e todo o amor que tem por ela. Por isso que eu disse que não tem lado...de qualquer maneira alguém vai sofrer nessa história, e eu espero que não seja a Emma.

Mari:—Jamais! Eu jamais faria qualquer coisa que fizesse ela sofrer! Eu morro por ela, Luka. Ela ainda é muito pequena para entender, mas eu sacrificaria a minha felicidade pela dela, sabe? É um amor que eu não consigo explicar...acho que é ainda maior do que se ela fosse minha filha natural. Eu não sei...só sei que farei tudo para que ela fique bem sempre.

Luka:—É assim que se fala, meu amor. Sei que vai ser difícil, mas pelo menos ele veio aqui e conversou com a gente. Podia ter sido pior: poderíamos estar recebendo a notificação de um advogado a respeito de uma disputa judicial. Em todo caso, acho que devemos falar com sua advogada, ela tem que saber de tudo para nos orientar da melhor forma possível.

Mari:—Ele também me pareceu uma boa pessoa. Amanhã saberemos mais quando ele estiver cara a cara com ela. Quero ver o olhar dele, como vai se comportar. Os olhos dizem muita coisa sobre as pessoas. Você vai estar aqui comigo, não vai?

Luka:—Claro que vou! Eu te amo e amo a pequenina também, como se fosse minha. Quero ter certeza que vocês duas estarão bem. Mas o que acha de agora irmos buscar nossa menina?

Mari:—Acho perfeito! - disse e deu um selinho no seu amor 

Luka:—No caminho, liga pra Chloe e conta pra ela o que  sabemos. Veja se ela precisa de um encontro com você.

Mari:—Com a gente, né?

Luka:—Se você prefere assim...ah, e tem a Alya também. Precisamos contar pra ela, né? Afinal, ela tem nos ajudado muito esse tempo todo.

Mari:—A Alya é minha melhor amiga, minha confidente, minha consciência...ela é muito importante na minha vida! Vamos fazer o seguinte: a gente pega a Emma e eu ligo pra Alya pra ver se ela e o Nino querem ir ao parque com a gente, daí enquanto Emma brinca, a gente conversa. O que acha?

Luka:—Acho excelente!!

Mari:—Show! Então vamos. Vou ligar pra mamãe avisando que já estamos indo e logo eu ligo pra Chloe.

   Assim Mari fez. Avisou Sabine, pedindo para que ela arrumasse Emma para eles irem ao parque e logo depois ligou pra Chloe. Os 20 minutos de carro até chegarem na casa dos pais dela foram suficientes para que ela contasse tudo para Chloe, que disse que só poderiam fazer algo mais concreto depois que o teste de DNA ficasse pronto.

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