[prateleiras vazias];;

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─ Daniel, você viu meu meião? ─ gritei do quarto em que estava esperando uma resposta da sala

─ Por que eu saberia onde ta a sua meia?

vasculho por cada canto da minha gaveta, porém acabo achando-a jogada de baixo da cama.
Vesti o meião de cor bege que alcançava minha cintura, o vestido branco justo, e o mini saltinho preto.

─ Daniel, o mesmo horário de sempre, beleza? Se você fizer algo que destrua essa casa, eu destruo você ─ Dizia em voz alta, lutando contra o som dos saltinhos batendo nos degraus.

Ele me olhou de cima abaixo e pude analisar sua expressão, estava segurando risadas, o que me deixara passada. Como ele pode querer rir da irmã tão linda que ele têm?

─ O que você ta olhando, garoto? nós precisamos disso até você virar uma
estrela do rock famoso ─ Ri dele. Ao entender meu tom de irônia ele mostrou seu dedo do meio, semi cerrando seus olhos para mim.

─ Você ta parecendo uma puta ─ ele voltou seus olhos pra tv a qual passava um filme que não conhecia, mas era possível ouvir sons de tiro

─ E quando não estou? ─ arqueei as sobrancelhas e passei por detrás do sofá amarrando meu cabelo em um coque bem alto ─ a chave esta na estante e a comida tá no fogo, é só esquentar

─ Eu sei cuidar de mim. Mas e você? não vai tomar café da... ─ ele foi interrompido pelo som da porta fechando

── • ──

Andava pelas ruas com passos largos, eu estava atrasada, como sempre. Fui contratada pela farmácia man's pharmacy. Eles só devem ser muito burros mesmo pra me contratarem, mas eu preciso daquele dinheiro, não tenho mais a ajuda do meu padrasto, e precisava pagar o aluguel.

"Aluguel" Kurt surgiu em minha mente, ele e Krist tinham discutido sobre algo assim há algumas semanas atrás, e agora ele está de mudança. É uma pena não poder ajuda-lo, mas o emprego começou a tomar muito do meu tempo

Andava prateleira por prateleira, simplesmente por tédio, ninguém nunca entrava naquela droga de farmácia

─ Nós contratamos uma ótima funcionária. Está verificando alguma falta de remédio, jovem? ─ Sobressalto  devido ao susto que levo ao ouvir a voz de uma senhora que fumava.

─ Ah! ─ a observei nervosa, com receio de responde-la ─ Sim, verificando alguma falta de remédio e organizando por marcas ─ Menti.

─ Mas não é aí que você deveria estar, você tem que estar na caixa registradora ─ é possível ouvir o silêncio por alguns segundos

─ Lori, meu bem, nós precisamos arrumar as malas pra esse fim de semana. Marie não virá até nós, vamos ─ O meu patrão abre a porta dos fundos (onde era sua casa), seus olhos me encontraram perdida no meio das prateleiras de remédio nasal. Soltou um sorriso, balançou a cabeça em sinal positivo. Olhou uma última vez para a mulher que aparentemente era sua esposa, logo em seguida voltou de onde saiu.

─ Desculpa, Sra Lori, eu não queria... ─ A velha pôs seu braço por detrás de algumas caixas de remédio e o deu impulso, derrubando DIVERSAS caixas

─ Agora você tem um motivo para não estar cuidando do meu dinheiro. Cuide da minha economia, caso contrário, acabo com a sua. ─ ela caminhou com passos elegantes até a porta de onde seu marido saira alguns minutos antes. ─ Você pensa que eu não vi a forma com que olha pro meu marido? lute mais um pouco para achar sua mina de ouro, esta mina é minha ─ Disse sem olhar pra mim. Abriu a porta da mesma forma em que andava, elegantemente, e se retirou do cômodo deixando-me sozinha com o constrangimento.

Lembro-me bem de me sentir observada enquanto conversava com o Sr. Ben, mas eu nunca estive mal intencionada quanto a ele. Aparentemente deixei a velha insegura. Daniel tem razão, talvez eu esteja parecendo uma puta.

Olhei para o meu relógio de pulso e faltava 10 minutos pras 17:00, que era o horário em que eu saía.
Suspirei fundo tentando juntar o resto da paciência que ainda sobrara em mim. Organizei caixa por caixa, remédios de dor de cabeça e remédio para á melhora da digestão.

Olhei o relógio novamente depois da cansativa organização. Era 17:15 e eu tinha que ir pra casa. Mesmo que não parecesse, eu me preocupava com aquele cabeça oca do Daniel.
Joguei alguns analgésicos na minha bolsa e o dinheiro naquela porcaria de caixa registradora.

Tranquei as portas da Farmácia e comecei a caminhar pelas ruas.
Eu realmente queria não poder reclamar daquele emprego, por quê seria nossa fonte de sobrevivência por um tempo, mas aquela velha... Aquela velha é maluca! Alguém avisa pra ela que não estamos mais nos anos 40 pra se vestir daquela forma.

Nos últimos dias me aproximei bastante dos garotos. Eu lembro de ter tido algumas amigas no fundamental, mas nada que me faça sentir da forma em que me sinto perto deles. Kurt esta de mudança, Krist e Dave estão o ajudando, eu espero. Nas horas vagas nós nos encontramos naquele fundo de bar, eu assisto os ensaios deles, eles tocam pra mim.

Eu e Kurt, bem, eu acho que não exista 'Eu e o Kurt', a ultima vez que nossos lábios se encontraram foi quando estive em sua casa, queria poder voltar atrás e agir de forma diferente, mas ao invés disso me ofereci para tirar a barba dele.

── • ──

Me debrucei sentada na cama de casal do meu padrasto a qual dormia sozinha ja tinha algumas semanas. Um "tiririm tiririm" repetitivo foi a causa de eu não estar mais dormindo. Por um instante fiquei brava, quem caralhos estaria nos ligando no meio da madrugada?

─ alho quem nhe ─ devido ao meu sono excessivo não conseguia falar corretamente, eu estava lutando contra minha vontade de dormir

É possível ouvir uma respiração forte do outro lado da ligação, ouço a pessoa fungar algumas vezes como se estivesse tentando conter o corrimento do catarro que desce pelo nariz quando estamos gripados

─pOrfabo enspero que boCe nao estena me passandu um tronte esa ora ora da noite ─ bocejei com os olhos quase se fechando

─ Lizzie, é... sou, sou eu... Eu preciso de você, não para de doer, eu usei de mais, eu usei demais, de novo, demais de novo, de novo, de novo, eu usei demais... ─ Ficamos em silêncio. Eu sussurrei o seu nome e pude ouvir soluços, ele chorava como uma criança ─ eu nao sei o que fazer, eu quero você aqui, Lizzie. EU PRECISO DE VOCÊ AQUI ─ Kurt gritou como uma criança fazendo birra e depois sussurrou um 'por favor' baixando a sua guarda

─ Me espere, Kurt. Eu te amo, eu te amo, por favor, não faça nada ─ eu desliguei o telefone e então corri para o guarda roupa.

Eu não acredito que isso estava acontecendo. Kurt abusou novamente da Heroína, e eu teria que cuidar dele.

Calcei minha coturno e um sobretudo com a intenção de que não sentisse frio no caminho até a casa do Kurt. Corri até o quarto do Daniel e o entreguei as chaves, expliquei tudo para ele e pedi que tivesse cuidado, eu estaria de volta amanhã de manhã bem cedo.

─ Por quê sempre você corre quando ele precisa, Lizz? ─ ele coçou os olhos e eu fiquei pensativa, ali parada, de costas pra ele

─ Como você mesmo diz, "Ele precisa" ─ disse com a voz meio rouca por ter acordado não fazia 1 hora

Chego na sala com passos rápidos evitando qualquer argumentação sobre o assunto. Abri a porta e tranquei a mesma. É estranho, não estar fugindo pela janela, como eu costumava fazer.
O frio tomou conta de mim, apesar de estar usando roupas apropriadas para que não ficasse com frio.

"Eu te amo, Eu te amo" aquilo também estava me congelando, eu estava envergonhada por ter dito que o amava, e nem sequer pude ouvir o mesmo, e na verdade nem sei se é o que realmente sinto. Eu espero que ele não toque nesse assunto.

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