[presa em um assento de carro];;

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Levanto do sofá deixando as cobertas caírem sobre o gato de Krist de cor mesclada. Acordei com um som ensurdecedor de bateria e baixo que entravam em uma bela harmonia pesada.

- é 6:30 da manhã, o que vocês estão fazendo?- Eles pararam no mesmo instante em que eu entrava na sala apenas de blusa e calcinha bocejando. Todos ficamos em silêncio e o som da baqueta do Dave caindo no chão ecoava pelo quarto- ah qual foi? perderam a lingua?- me direcionei ao Dave que estava com um cigarro entre os lábios, tomei o mesmo colocando entre os meus.

- você... - Krist aparentemente estava lutando contra a sua vontade de olhar pras minhas coxas- ...está melhor? ontem estava tão bêbada que capotou no sofá

- estou sim, eu tenho que voltar pro inferno da minha casa antes que aquele velho coloque os tiras atrás de mim- dava mais uma tragada no cigarro e devolvia-o pra boca do Dave. Me inclinava um pouco para que pudesse pegar a baqueta do Dave, consigo sentir os olhos fixados dos dois sobre o meu quadril- Vocês são dois pervertidos, que caralho hein?- devolvi a baqueta do Dave com uma expressão seca, mas ele ainda me olhava de uma forma inexplicável

- você quer que eu te leve?- Ele sempre se oferecia pra me deixar em casa, mas a intenção dos garotos nunca era boa, não sei se posso confiar em algum deles

- não, dave, agradeço a ajuda, mas se o meu padrasto me ver com algum garoto ele faz picadinho de mim- andava rapidamente de volta pra sala na procura da minha calça. Sinto passos desajeitados vindo atrás de mim

- ahn... eu gostaria de saber se sei lá, qualquer dia desse você estivesse afim de tomar um sorvete ou só andar por aí- ele segurava uma risada desesperada, mas sem medir esforços nós dois tivemos uma crise de riso por alguns segundos enquanto vestia a minha calça que estava jogada no canto da sala- nossa, desculpa, isso foi muito brega- ele jogou o cigarro já apagado no chão e acho que desistiu do pedido, eu não iria insistir

- tchau garotos, qualquer dia eu passo por aqui- falei em tom alto pra quê Krist ouvisse da sala em que estivesse.

Vesti meu casaco desgastado e calcei meus tênis meio sujos. Nós nos despedimos e marcamos de nos ver outro dia, eles eram incríveis, talvez eu tenha feito bons amigo

andei umas 5 quadras em 12 minutos desde que sai da casa do Krist. Eu não queria voltar pra ele, eu não queria voltar para aquela barba espinhosa e para aquelas mãos grossas que tentavam me acariciar de forma indecente sempre que estava no cômodo

ele ainda me assusta

Paro em frente a uma cafeteria. Aquele cabelo loiro com raiz de cor castanho tinha me chamado a atenção, não era ninguém mais e, ninguém menos do que Mr. Kurt Cobain sentado em um volkswagen TL de 4 portas com uma garota no banco de passageiro

Eles finalmente notam a minha presença inusitada e em poucos segundos a mulher misteriosa sai do carro. Ela tinha cabelo ruivo tingido e usava uma jaqueta de couro. Dessa vez ele não estava fumando, talvez isso me impressionava mais do que o fato dele estar em um carro com outra garota.

- ei lizzie- ele acenava pra mim, com aquela mesma voz doce e infantil e aquele sorriso suave

automaticamente minhas pernas criaram vida própria e eu corri entre os carros pra chegar ao seu encontro. Ele usava um blazer com alguns botões fechados e uma blusa verde por baixo

- o quê você tá fazendo aqui?- falei quase como se fosse a mãe dele pedindo satisfações- eu amo o café daqui também- tentei redimir meu tom predominante de segundos atrás, eu nunca sequer tomei um gole do café daqui

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- o quê você tá fazendo aqui?- falei quase como se fosse a mãe dele pedindo satisfações- eu amo o café daqui também- tentei redimir meu tom predominante de segundos atrás, eu nunca sequer tomei um gole do café daqui

- entra- ele abria a porta do passageiro para que eu entrasse, que aparentemente estava com problema - a gente pode rodar por aí, ou eu te levo pra casa, você quem sabe

- Qual é o problema de vocês? sempre oferecendo carona- falei e nós rimos em conjunto

- nós só tentamos ser educados, caralho- eu podia ouvir claramente o som da sua risada enquanto rodeava o carro para chegar ao banco do passageiro.

ele parecia ter simplesmente esquecido o que aconteceu conosco a umas 3 semanas atrás, mas eu não queria exigir alguma explicação e arriscar parecer uma pessoa grudenta

nós cantávamos two of us e strawberry fields forever o caminho todo, ele era obcecado por beatles, e sua voz cairia bem em um cover, a voz dele era extremamente linda

- quem ela era?- digo me referindo a ruiva de jaqueta. Antes que ele pudesse falar minha curiosidade me faz descobrir sozinha. Abri o porta luvas e vários pacotes de heroína caíram nas minhas pernas.

ele percebe minha expressão de desespero e estaciona o carro em um beco vazio atrás de um bar, parecia ser aqueles becos de brooklyn, mas era apenas o lado obscuro e vazio de Seattle.

- são apenas medicamentos, apenas isso- ele parecia estar ficando exaltado, meio bravo. Ele começou a catar pacote por pacote de heroína e coloca-los de volta no porta luvas

- eu sei o que é isso, kurt- arranco um cigarro do maço de Marlboro e enfio na boca dele, isso parecia acalma-lo - o que você espera que eu vá fazer? ligar pra polícia?- tirei o isqueiro acendendo o cigarro que estava entre os lábios dele

o desespero sumia de seus olhos,
aqueles olhos azuis profundos como o mar, eles me traziam medo, e mesmo assim ainda me roubavam a cada instante em que encontravam os meus

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