3 - A Lucy Acha Algo

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Odiava os dias chuvosos. Infelizmente, eram os mais difíceis de suportar, onde toda a casa se tornava sombria e fria e apenas as lareiras e xailes nos conseguiam aquecer do frio húmido, o qual se colavas aos vidros das janelas e nos gelava até aos ossos. E como se não bastasse, acabava também por impossibilitar a fuga para o jardim, prendendo-nos ao interior da casa como um labirinto faminto de calor

Os irmãos e eu havíamo-nos visto pela manhã, durante o pequeno almoço, onde todos tivemos a oportunidade de nos encontrar e desfrutar de uma deliciosa refeição, com torradas, fruta e algum chocolate quente para os mais novos. Nunca gostei muito de chocolate quente, possivelmente por ser muito açucarado, daí Adele ter preparado um café com leite para mim, sabendo que me aqueceria e seria melhor apreciado. Para a pequena Lucy e Edmund, foi uma surpresa perceberem que já bebia café e gostava mais deste do que chocolate, e pequena irmã decidiu chegar a provar um pouco.

A coitada fizera uma careta com o próprio rosto, fechando os olhos azuis claros com força e balançando a cabeça negativamente.

- É muito amargo! – Disse ela, deixando-nos todos a rir. Ou pelo menos, até Mrs. Macready indicar que estaríamos a fazer demasiado barulho para o sossego daquela casa e como era incorreto deixar as pessoas provarem os pedidos de outras.

Como sempre, uma desmancha prazeres da vida.

E ali estava eu de novo, no meu quarto, lendo e revendo os livros de filosofia e história. A minha cabeça apoiava-se contra a minha mãe esquerda, enquanto longos suspiros saiam entre os meus lábios. Ler era um ótimo hobbie, mas apenas quando era algo prazeroso e de livre vontade. Não quando os livros haviam sido cuidadosamente organizados por outros e ainda obrigados a ler no horário certo, onde a rotina precisava reinar. Isso deixava-me completamente desorientada, e ao mesmo tempo distraída. Todas as frases lidas ao longo dos últimos 10 minutos, haviam se esfumado da mente, e já me encontrava a ler o mesmo parágrafo mais do que 3 vezes.

Sabendo que estava sozinha, e que o risco de perceberem que não estaria a estudar no momento era mínimo, fechei os livros e inspirei fundo, sentindo com as pontas dos dedos as capas lisas e duras que protegiam as páginas escritas. Uma parte de mim reprovava as minhas atitudes, especialmente quando era tão amante de leitura e conhecimento, mas a outra reclamava por liberdade. E era exatamente isso que necessitava no momento. Algo que me deixasse animada e motivada para continuar.

Com alguns minutos para garantir que o meu cabelo estaria bem preso numa trança atrás da cabeça e que as minhas roupas não estariam tão mal apresentadas, pude sair do quarto de estudos, respirando fundo e começando a percorrer os corredores da casa. Os enormes corredores conhecidos por mim há já tanto tempo que não me conseguia lembrar do tempo onde eles eram aterradores para me perder.

Não conhecia todos os quartos da casa, ou pelo menos, não o seu interior. Haviam muitos que estavam fechados a visitas, inclusive a mim, e que apenas o avô ou Macready tinha as chaves para o seu acesso. Mas se me perguntassem se sabia onde cada quarto ficava, era possível que a resposta fosse afirmativa para a maioria deles. Normalmente, o motivo de tal era porque todos os quartos tinham algo diferente de outros: a vista para o jardim, um ramo de arvore impedindo a maior entrada de luz, um armário maior, um quadro diferente pendurado na parede. Qualquer coisa no ambiente era o suficiente para os diferenciar. E acaba sendo a estratégia com que também teria aprendido a guiar-me no labirinto que a casa era: seguindo elementos exclusivos de cada canto.

Naquele momento, com passos silenciosos, exceto e apenas quando exercia peso numa tábua de madeira mais barulhenta que outras, preocupava-me apenas em esticar as pernas. Não possuía um destino fixo, apesar de a cozinha ou a biblioteca serem tentadores.

The Fifth Child [Narnia Fanfic]Onde histórias criam vida. Descubra agora