4 - Eu acredito, sinto que estive lá

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Nenhum de nós parecia estar a acreditar nas palavras da pequena Lucy e, até mesmo os irmãos dela, que a conheciam desde o seu nascimento, encontravam-se surpresos com o que havia acabado de acontecer. Mas o que ninguém conseguia explicar, era como eu tinha uma réstia de esperança em como Lucy não estava a mentir e apenas a chamar-nos para um lugar onde deveríamos ir. Era idiota, diria, talvez até infantil pensar nisso, e, por esse motivo, não ousava falar os meus pensamentos em voz alta, enquanto seguia os irmãos em direção do cómodo misterioso.

Ao chegarmos, estava mais do que óbvio que não passava de apenas um quarto normal. Um quarto vazio, com algumas janelas, adornadas com varetas de metal. Como estas estavam fechadas, não passava a menor brisa no local e podia se perceber algum pó alojado nas tábuas do chão ou outros pontos da divisão. Com tantos quartos na mansão, era possível que os empregados acabassem por esquecer de limpar alguns ou de apenas os acharem insignificantes para tal tarefa, mas se a Macready percebesse isso, os mesmos estariam em maus lençóis. A única coisa do quarto que não parecia ter sinais de pó era o grande armário mesmo encostado à parede em frente da porta. Nunca o tinha visto no passado, apesar de este parecer estar ali desde muito tempo antes de nascer.

À medida que nos aproximávamos do móvel suspeito, o qual Lucy afirmava tê-la levado para outro lugar onde teria passado horas a beber chá com um fauno, arrepios de frio percorriam-me as costas, seguido de borboletas no estômago, simbolizando uma certa ansiedade e nervosismo. Nunca me sentira assim antes quando achava que alguma afirmação era mentira, então, por que me sentia assim naquele instante?

- Lucy, tens mesmo a certeza do que estás a falar? – Perguntou Susan, ao mesmo tempo que afastava os casacos do armário e encarava o fundo do mesmo, tal como todos nós.

Edmund tinha decidido ir para trás do armário, garantir que não seria um fundo falso e que não haveria uma forma de este desaparecer. No entanto, foi bem audível o "toc toc" dos nós dos dedos deles contra a madeira.

A deceção atravessou-me o rosto e não demorou para baixar a cabeça e franzir as sobrancelhas. Algo dentro de mim estava a acreditar na Lucy, apesar de saber que o que ela havia dito era, cientificamente, impossível.

Por que me estou a sentir assim? É como se eu soubesse que é verdade, mas não o pudesse comprovar? Como se... estivesse com saudades...

Queria afastar esses pensamentos da minha mente e prestar atenção nas palavras trocadas entre os Pevensie e, portanto, trocava olhares entre os mesmos, enquanto estes falavam com a mais nova dos quatro. Os olhos dela pareciam estar tão tristes que o meu coração partia-se ao observa-la. Sentir que ninguém acreditava nas tuas palavras, por mais verdadeiras que elas pudessem ser, era horrível e eu já conhecia muito bem essa sensação, através daqueles sonhos estranhos de há bem pouco tempo. Foi nesse instante, que a minha mente teve uma luz de clareza.

Talvez o que Lucy falava pudesse ser real, ou pelo menos, estivesse relacionado aos meus sonhos. Não tinha idade para acreditar em contos de fadas ou em mundos fantasiosos, mas a partir do momento que uma pessoa totalmente desconhecida para mim até há 2 dias atrás descreve um cenário semelhante, é porque talvez estivessem relacionados de alguma forma.

Poderia ser por isso que o avô tinha dito que os sonhos não passavam da minha imaginação ao ler tantos livros? Pareciam quase as mesmas palavras dos mais velhos para com Lucy.

- Mas eu não estou a mentir, ouviram? – O grito da pequena Pevensie despertou-me dos pensamentos. Era como que um chamamento para aquela realidade, onde os mais velhos teriam acabado de virar-lhe as costas. E eu permanecia no mesmo lugar de antes, ao lado dela.

Quando encarei os outros irmãos, estes em nada pareciam aliviados com a situação. Era como se fosse tudo novo para eles e não soubessem como lidar com as palavras da mais nova, a qual se mantinha determinada em defender o que havia visto. E, por puro instinto, sentia-me tentada a também acreditar nela. Talvez fosse a intuição de mulher, embora eu não fosse ainda uma. Tudo me levava a crer que Lucy não mentiria sobre uma brincadeira assim, ainda mais quando as suas íris azuis brilhavam num tom tão inocente.

The Fifth Child [Narnia Fanfic]Onde histórias criam vida. Descubra agora