11 - Uma Profecia, Duas Famílias

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Peter tinha-me carregado por uma boa parte do caminho que agora percorríamos. Os meus olhos, no entanto, permaneciam-se firmemente fechados, como se ainda fosse capaz de rever todas aquelas memórias e aqueles momentos do meu passado. Queria tanto poder chorar, mas até isso se tornava impossível quando sentia as minhas pálpebras fechadas e pestanas congeladas com o frio e gelo formado pelas lágrimas antes dos Pevensie terem me encontrado.

Eles falavam entre si, conseguia ouvir as suas conversas, mesmo que o tom usado para as mesmas fosse baixo. Susan permanecia ao lado do mais velho, juntamente com Lucy, a qual, pela sua voz fina, podia perceber ser uma das mais preocupadas com os motivos para estar assim.

- Ela vai ficar bem, Peter? – Perguntou a mais nova.

- Não sei, Lucy. Eu nem sei o que lhe aconteceu para ela ficar assim... - A voz do mais velho ribombava dentro da sua caixa torácica, criando uma vibração contra a minha cabeça. E por muito que quisesse responder, o nó na minha garganta impossibilitava-me disso no momento.

Como fui tão idiota...? Como não percebi de imediato que havia um motivo de me sentir tão familiar com Nárnia? Maldita, Jadis..., nunca tinha usado aquelas palavras com alguém, mas o que me consumia era um sentimento de dor tão grande que era semelhante a ter desligado a minha compaixão por outra criatura devido aos seus crimes.

- Talvez devêssemos voltar para casa. A nossa amiga não está bem. – Ouvi Susan a dizer ao lado de Peter.

- Se voltarem atrás agora, não vão chegar a tempo de irem embora. Não vão estar seguros a menos que consigamos chegar até à minha casa a tempo. Daí vou dar-vos as respostas que precisam.

Seguro? Respostas? Havia respostas para tudo que estava a acontecer?, pensei comigo mesma, ao mesmo tempo que buscava esforçar-me para abrir os olhos.

Não reconhecia aquela voz de lugar algum. Nem ao menos sabia quem era e o motivo de os Pevensie estarem a confiar nele, mas queria acreditar que era uma boa criatura e com intenções do bem para os irmãos. Não me perdoaria se algo lhes acontecesse.

Assim que pude finalmente abrir as minhas pálpebras, percebi que o céu estava mais escuro do que o habitual. Por quanto tempo teríamos nós andado? Já dava os sinais de anoitecer em Nárnia, o que só poderia querer dizer que teriam já passado horas desde que tínhamos chegado ali. E a derradeira pergunta era: quanto tempo já teria passado na mansão do avô? Pensar nisso tinha-me deixado novamente com os olhos vidrados por lágrimas, lágrimas essas que ainda não poderia derramar. Não podia, mesmo que quisesse. Recordava-me das palavras que o avô tinha dito quando lhe perguntara sobre ser humana: "Quero que saibas quem tu és e sempre vais ser. Sophia Kirke.".

Eu não sabia que alguém estava a olhar para mim nesse instante. E que esse alguém era Susan, que logo se aproximou para me tocar nos cabelos.

- Sophia. Estás bem? O que aconteceu? – Perguntou-me ela, logo atraindo a atenção dos outros irmãos.

Lucy puxou o casaco de Peter, pelo que senti através do contacto que tinha contra o tecido dele, e este abrandou ligeiramente os passos.

- Sophia! Como te sentes? – Lucy estava assustada. Só de ouvir a sua voz pude distinguir esse sentimento.

No entanto, apenas consegui balançar negativamente a cabeça. Sentia-me tão dormente a tudo e a todos. Nem mesmo era capaz de saber onde me doía, pois era como se todo o meu corpo estivesse preenchido por aquele vazio. O pior de tudo era não saber como me exprimir para aquelas pessoas, as quais estavam tão preocupadas comigo.

O mais velho dos irmãos olhou para o meu rosto. Não sei o que ele percebeu através disso, mas quando que pude perceber um maior aconchego dos braços deste, antes de ele encarar brevemente o caminho à sua frente e depois olhar para mim de novo.

The Fifth Child [Narnia Fanfic]Onde histórias criam vida. Descubra agora