7 - A Um Passo de Distância

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Qual foi o meu espanto quando, num piscar de pálpebras, encontrei os irmãos Pevensie frente ao meu avô e á senhora Macready. Ou isso significava uma grande sorte ou um terrível azar e, mesmo com a intenção de aproximar-me, pude sentir as pernas tornarem-se gelatina ao perceber como o avô parecia estar incomodado com o estado em que Lucy se encontrava. Ele já me tinha visto a chorar noutros momentos, claro que não a meio da noite, a menos que significasse um terrível pesadelo, mas o que via nos olhos dele era como se um sermão dirigido aos mais velhos se seguisse.

Nenhum dos cinco viu-me. Isso seria considerado algo bom, não fosse o facto de ainda estar preocupada com a situação.

Foi nesse instante que percebi os olhos de Susan, que milésimos de segundos antes estavam postos em Peter, olharem diretamente nos meus. A íris dela era muito parecida com as dos irmãos e, naquele instante, pude perceber uma mensagem indireta nestes. A forma como ela encarava-me a mim e depois punha os olhos na Lucy disse-me o seu desejo: fazer companhia à Lucy enquanto eles não estivessem por perto e depois de Macready afastar-se.

Por momentos, pensei em apenas aproximar-me deles. Dizer que também tinha testemunhado a discussão e defender o lado da Lucy. No entanto, se fizesse isso, deixaria a mais nova sozinha com a Macready, que já não parecia estar de muito bom humor. Além de ter sido feito barulho durante a noite, o suficiente para a acordar, tinha visto o meu avô a oferecer um sermão aos mais velhos. O que se poderia esperar se me colocasse no meio era apenas mais aulas e mais responsabilidades, além de um possível castigo. Era a última coisa que precisava.

E então, enquanto os Pevensie se afastaram com o avô, a mais nova seguiu a governanta para a cozinha, onde lhe seria oferecido um copo de leite antes de dormir.

Quando já se encontravam bem afastados, comecei o meu percurso na direção do quarto das meninas, até sentir uma mão a segurar-me o pulso. Edmund tinha saído do quarto de Peter e olhava-me com uma expressão estranha.

- O que foi, Edmund? – Perguntei, erguendo uma das minhas sobrancelhas. Questionava-me por que me teria seguido até ao quarto das raparigas.

- A Lucy está no quarto? – A vergonha estava estampada no rosto dele, mesmo que ele não o dissesse em voz alta.

Lentamente, deixei que um suspiro deixasse os meus lábios, enquanto levava a minha mão direita a fazer com que os dedos do rapaz me soltassem a pele. Ele entendeu o gesto, embora isso tenha gerado uma certa confusão e pouca coordenação nos seus movimentos, como se nem percebesse que ainda me estava a segurar e como me soltar. Sinceramente, aquele irmão era um mistério para mim. Um dos grandes, maior até que os livros de aventura e mistérios, empoeirados, dentro da biblioteca do avô.

- Ela foi à cozinha com a Macready. Queres ir lá ou esperar por ela?

Edmund não me respondeu. Em vez disso, virou as costas e regressou ao quarto dele, como se tivesse acabado de arrepender-se de algo. E novamente, franzi o cenho com aquela atitude. Qual era o problema dele esperar pela irmã? Só teria que lhe pedir desculpas e com certeza a Lucy o perdoaria, além que isso poderia transmitir-lhe alguma coragem para ser honesto com os outros irmãos.

Parece que desde que os Pevensie chegaram, esta casa se tornou uma montanha russa de eventos e confusões...

Novamente, acenei negativamente com a cabeça. Sentia que estava a envolver-me em problemas alheios quando eu mesma ainda tinha tantas questões na minha cabeça. Ainda lembrava da conversa do Fauno. Aquela questão sobre ser mesmo filha de Eva estava a deixar-me mais pensativa sobre o por quê daquela pergunta e o que isso poderia significar. Claro que a minha mãe não se chamava de Eva. E eu sabia que era humana. Então por que ele pareceu tão confuso com os sonhos?

The Fifth Child [Narnia Fanfic]Onde histórias criam vida. Descubra agora