14 - Ferramentas para a Jornada

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No dia seguinte, erguemo-nos logo que os primeiros raios de sol começaram lentamente a fazer-se sentir entre as nuvens. Os castores diziam que quanto mais cedo regressamos ao caminho, mais rápido chegaríamos até à Mesa de Pedra, onde Aslan e as restantes tropas estavam reunidas. Ao que tudo indicava, o Raposo tinha dado algumas últimas indicações na noite anterior sobre para onde deveríamos ir se queríamos chegar mais depressa ao outro lado do Rio de Gelo. Quando ouvi esse termo pela primeira vez, tinha ficado um tanto confusa, pois não me recordava de haver um lugar com esse nome há 100 anos atrás, mas optei por apenas concordar com a cabeça e ajudar os restantes irmãos a se preparem para a continuação da viagem.

A Senhora Castor deixou que comêssemos algumas tostas com compota, garantindo que não iriamos de estômago vazio e que possuiríamos energia para atravessarmos os próximos obstáculos. E ao fim de uns minutos, já estávamos a caminhar sobre rochedos e declives de florestas. Sempre que saiamos para um lugar mais aberto, era possível perceber o manto de cinza e branco que percorria toda a paisagem. Era uma visão tão neutra que chegava a ser desanimador imaginar que tinham passado 100 anos com ela assim.

Enquanto andávamos, em fila indiana quando assim tínhamos oportunidade, ia tentando recordar-me se alguma vez teria estado naquele lugar. Podia ainda ser bastante nova quando saíra de Nárnia, mas algumas memórias permaneciam bem vivas na minha cabeça. E talvez fosse por isso que algumas dúvidas também tinham surgido.

Ao longo das últimas horas, tinha avaliado as minhas memórias e analisado as mesmas com atenção.

Eu tinha a certeza que aos 6 anos tinha caído do cavalo nos estábulos do avô... mas agora que olho para o antebraço com atenção, percebo que não tenho sequer vestígios da cicatriz que fiz na altura... e tenho a certeza de que nessa altura, o avô não tinha sequer contado a ninguém que eu existia. Então, como é possível que eu tenha estado na mansão e feito isso sem ninguém saber?, era algo muito confuso.

E antes que percebesse, estávamos sobre o arco através da erosão de uma rocha, enquanto do nosso lado direito se encontrava uma vista aberta do que parecia ser um lago, quando ao horizonte haveriam mais montanhas a contornar os raios de sol e a erguerem-se contra as nuvens.

- O acampamento do Aslan fica ao lado da Mesa de Pedra, para lá do Rio de Gelo. – Disse o Castor.

Foi nesse momento que percebi como a zona aberta era enorme e que era suposto percorrermos a mesma até ao outro lado.

- Qual rio? – Perguntou inocentemente Peter.

- Ah, há já cem anos que o rio está congelado. – A Senhora Castor explicou de forma dócil para nós.

Fazia sentido o motivo de não reconhecer aquela paisagem. Senti saudades da antiga paisagem de Nárnia. No entanto, se queríamos atravessar para a Mesa de Pedra, ter o rio congelado não era algo tão mau assim. Permitia-nos um atalho para chegarmos mais depressa e o gelo deveria ser forte o suficiente para aguentar com o nosso peso até la.

- É tão longe... - Comentou o mais velho dos Pevensie.

Instintivamente, sorri.

Ele ainda não tinha visto nem metade de Nárnia, mas já começava a perceber que não era tão pequena quanto se poderia julgar.

- É um mundo, querido. Pensavas que era mais pequeno?

- Um pouco mais. – Susan encarou o irmão, sorrindo de forma irónica, antes de regressar ao caminho com todos nós.

Se continuássemos na conversa, era possível que ainda nos atrasássemos ainda mais. O Raposo tinha nos comprado dias, horas no mínimo, se os lobos conseguissem perceber que não havia rastos nossos para norte. Com certeza eles regressariam o mais rápido possível para a Feiticeira e ela mesma iria atrás de nós, o que nos obrigaria a apressarmo-nos ainda mais para chegarmos com vida a Aslan.

The Fifth Child [Narnia Fanfic]Onde histórias criam vida. Descubra agora