19 - A Esperança nos Corações

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Os primeiros raios de sol ainda não tinham chegado até às colinas rodeando o acampamento, quando acordei. Achei estranho o facto de estar a acordar tão cedo, quando ainda deveria estar a repor as minhas energias do dia anterior, mas por incrível que parecesse, não estava mais cansada e sentia-me perfeitamente bem para iniciar o dia.

Por sua vez, as Pevensie ainda pareciam estar a desfrutar do que o bom sono era capaz de usufruir. Susan estava bastante mais pacífica, enquanto que Lucy esboçava um sorriso infantil, típico a sua idade. Sorri ao perceber que elas estariam bem, e apressei-me a escolher um vestido em silêncio e a equipar-me para o dia que vinha em frente. Com cuidado, retirei o livro debaixo do colchão, tomando com bastante atenção o facto de não esforçar as ligaduras sobre a mão direta. Ainda esperava que a ferida já tivesse curada o suficiente para me movimentar mais.

Quando estava, por fim, pronta, saí da tenda. Lá fora, tinham algumas criaturas que tinham começado a trabalhar mais cedo e esforçavam-se para manterem-se acordados da melhor forma que conseguiam. Ainda estava um ambiente bastante silencioso e alguns dos centauros de guarda olharam-me de forma surpresa, antes de assentirem com a cabeça. Ato que retribuí da mesma forma, antes de começar a andar em direção ao ribeiro.

A relva estava ainda fresca pelo orvalho da noite, o qual começava lentamente a ser absorvido pela terra. Estava completamente sozinha, quando me ajoelhei sobre o chão, igual na tarde anterior, e comecei a folhear as páginas do livro, olhando com bastante atenção aos feitiços. Havia alguns bastante úteis, outros que pareciam ser ainda bastante difíceis de usar, e outros com notas para só serem usados em casos de extremo perigo, devido à instabilidade dos seus efeitos.

O meu pai deveria ser um completo génio, e imaginei que se estivesse no mundo humano, teria sido um cientista ou então um professor, pela bela caligrafia com que escrevia e a forma como explicava as formações, efeitos e causas da magia. Infelizmente, não tinha deixado uma nota no livro com a sequência por onde deveria iniciar os meus ensinamentos.

- Acordou mais cedo do que eu esperava.

Assim que ouvi aquela voz familiar atrás de mim, voltei o pescoço o máximo que podia para a sua direção, esboçando um sorriso juvenil.

- Não tinha mais sono. - Admiti, içando-me do chão com o livro contra o peito e ficando numa altura relativamente próxima à de Rivnkar. - Achei melhor vir já para aqui. Estava a ler um pouco do livro.

- Espero que tenha evitado lançar algum feitiço, filha de Brayan. - Enquanto falava, Rivnkar andava lentamente na minha direção, colocando ambas as mãos atrás das costas. - Estive a pensar por onde começar o método de ensino consigo.

Ele ainda me tratava com a formalidade estranha do meu título na profecia, e quase senti um arrepio a percorrer-me o corpo só pelo facto de já me tratarem quase como uma adulta, com demasiada responsabilidade nos ombros. Se por um lado me sentia honrada por isso, uma pequena parte de mim avisava-me dos custos desse orgulho e das consequências que poderia ter por não ser humilde e realista.

- Por favor, trata-me por Sophia apenas. É estranho que usem esses títulos comigo.

- Um dia terás que te habituar a eles. Esse dia pode estar próximo. - Falou, retirando as mãos de trás das costas e se posicionando de frente para mim. A expressão no rosto de Rivnkar estava bastante séria.

Não sabia o que ele esperava, mas optei por não desviar o olhar naquele instante. Será que ele achava que conhecia alguma coisa sobre o funcionamento da magia ou dos elementos que nos rodeavam? Estava à espera de uma iniciativa da minha parte? Ou apenas estava a avaliar por onde eu deveria começar naquele instante?

The Fifth Child [Narnia Fanfic]Onde histórias criam vida. Descubra agora