17 - A Vingança não é Resposta

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O acampamento estava bem organizado para qualquer um que desejasse apoiar a causa. Devido a isso, após o primeiro contato entre os irmãos, foi nos oferecidas tendas onde poderíamos repousar, roupas novas, e até cuidados. Fui levada por um fauno até uma das tendas do local, onde me retiraram o lenço usado por Susan no meu corte. E agora que olhava para o mesmo com maior intenção, pensava na história que este carregava e numa revisão de todas as emoções que sentia. Um ser humano, um ser vivo, eles sangravam. Será que Jadis também sangraria quando fosse derrotada?

Por muito estranho que fosse pensar daquela forma, era algo que começava lentamente a tomar conta da minha mente e das minhas intenções. Aquela frustração de quando estávamos na cascata estava a regressar. Não com a mesma força, mas ainda assim, crescia-me dentro do peito sem forma de a apaziguar.

- Isto vai ficar uma cicatriz na tua mão. Talvez nunca venha a desaparecer, conselheira. – Ouvi o fauno a dizer, enquanto me limpava cuidadosamente o sangue seco em redor e as feridas. Já estava à espera que fosse algo permanente. Só esperava não ser prejudicial.

- Quanto tempo até isto melhorar? Preciso ficar bem o mais rápido possível se quiser juntar-me à batalha...

A criatura narniana fez uma ligeira pausa, encarando-me diretamente nos olhos. Não sabia o que possivelmente ele estaria a conseguir ler, mas antes que desse por isso, já o mesmo suspirava e começava a aplicar uma pasta de ervas sobre o local da ferida.

Ao início, esta teria ardido. Quase que puxei involuntariamente a mão para fugir àquele contacto, mas o Fauno segurou-ma com mais força, sendo mais gentil na aplicação do remédio.

- Não foi muito profundo. Talvez em três dias já esteja capaz de abrir e fechar os dedos. – Foi um alívio ouvir aquelas palavras. Três dias não era muito e apesar de estar com os dedos daquela forma, ainda poderia tentar ajudar com a mão saudável. – Mas se a sua intenção é lutar, vai ser difícil manter uma espada nesta mão ou qualquer objeto que implique esforço. A cicatrização da ferida deve demorar mais para executar essas atividades.

As esperanças tinham diminuído ligeiramente. Era dextra, o que, em contrapartida, era bom para a situação. No entanto, o hábito de dispor de ambas as mãos para algumas tarefas poderia implicar que me sentisse mais desconfortável ao saber que a esquerda necessitava de repouso para curar devidamente os cortes horizontais cravados na pele.

- Não devemos ter tanto tempo...

Teria murmurado para mim mesma. O fauno inclinou-se na minha direção, colocando uma de suas mãos sobre o meu ombro.

- Confie em Aslan. Mesmo que não tenhamos esse tempo, sairemos vitoriosos nessa guerra.

Aquelas pessoas confiavam em Aslan, mas sabia que não era só nele que confiavam. Peter, Susan, Lucy e possivelmente até Edmund. Eles eram os escolhidos para estarem ao lado de Aslan na luta contra a Feiticeira. E eu era a escolhida para me manter ao lado dos irmãos e protege-los. Quanto mais me afundasse em outras ideias e ou no negativismo, menos seria capaz de cumprir aquilo que desejava.

Lutar pelos meus.

Após aquela breve conversa com Siler, este teria enfaixado os meus dedos e a palma da minha mão, de forma a evitar que flexionasse arriscadamente os mesmos e que a ferida aberta estivesse em contato com alguma bactéria do ar. Fora bastante delicado e simpático comigo e quis guardar a sua gentileza no meu coração, pois não sabia o que o destino aguardava para os dias no futuro.

No exterior da tenda, ainda se sentia o mesmo cheiro da brisa fresca, da terra e do metal. E, não querendo ser negativa, era também possível perceber o cheiro a pelo e gado em alguns lugares. Esse cheiro não me era estranho e inclusive levava-me a recordar-me do avô e de como já tinha passado algum tempo desde que saíramos pelo armário até Nárnia.

The Fifth Child [Narnia Fanfic]Onde histórias criam vida. Descubra agora