Capítulo 7___________________________
Bastou o sinal do intervalo bater, para eu sair que nem um louco pelos corredores da Queen Médias a procura de Antônella. Eu não sabia o que exatamente eu falaria com ela e muito menos como descobriria algo sobre o jogo que ela supostamente participava, se nem tinha certeza se ela participava mesmo, ou se era só mais umas das minhas paranoias inventadas pelo desespero, ou a verdade discrepante enfiada na minha frente... Fazia todo o sentido, ela morava na casa ao lado da minha, poderia fácil, fácil me vigiar... Ou só ter caído na armadilha que nem eu... Bom, eu só descobriria se conversasse com a garota e estava disposto a correr aquele risco, se minha colega soubesse de algo, poderia até propor que jogássemos juntos... Eu não sei, estava apavorado!
Atento e discretamente, observava todos os cantos da QM desejando esbarrar os olhos na minha vizinha o mais rápido que eu pudesse... Só que naquele recreio em especial, Antônella parecia ter literalmente evaporado! Sério, eu tinha até procurado onde o grupinho dela ficava e todos estavam lá, menos ela.
Tenso, suspirei forte e aceitei o fato de que não tive sorte naquele intervalo e que tentaria conversar com a menina na hora da saída, ou até ir na sua casa... Enfim, teria outras oportunidades. Mesmo a contragosto, fui para biblioteca, onde tradicionalmente passava todos os intervalos, e sentei em uma mesa desfrutando do meu lanche e voltando a ler o livro que eu estava me aventurando no momento, porém, meus pensamentos conturbados não deixavam a leitura fluir, eu estava totalmente desconcentrado, droga!
Insistia em me concentrar na história ainda, quando me deparei com Letícia Campos, uma garota do primeiro ano do EM, que tinha cabelos lisos, usava óculos, era gorda, de estatura baixa, muito simpática e bonita, que sempre conversava comigo na biblioteca (Confesso que ela e eu tínhamos uma amizade meio confusa, discutíamos sobre livros na biblioteca e depois fingíamos que nenhum dos dois existia no resto das aulas. Estranho, não?) debruçada sobre a minha mesa, pedindo:
— Oi, Théo! Será que você pode fazer um favor para mim?
Sorri. Mesmo que eu odiava que interrompessem as minhas leituras, eu gostava quando ela em específico interrompia, eu me sentia menos sozinho... Já que quando Eliza estava viva, mesmo que estivesse comigo na biblioteca, estava conversando com Heitor pelo celular, ou até mesmo indo ficar com Heitor em outro lugar, enfim, Letícia era uma companhia agradável.
— Claro — confirmei sabendo que deveria ser algo relacionado à biblioteca, já que sua mãe era a bibliotecária.
— Tem como você pôr esses livros nas estantes de clássicos, juvenil e literatura nacional, por favor? Eu até colocaria, mas eu estou muito apertada para ir ao banheiro e minha mãe foi na secretaria e falta cinco minutos para acabar o recreio e não vou poder fazer xixi depois. Será que você quebra esse galho para mim?
Assenti com um sorriso amigo e pegando os livros contente de ajudá-la.
— Vai lá — Assegurei de que faria o que me pediu.
Ela abriu o sorriso mais feliz e aliviado do mundo, agradecendo afobada e desaparecendo pelo corredor:
— Valeu! Você é o melhor, Théo! O melhor! — E sumiu.
Ri. Eu gostava de Letícia. Levantando preguiçosamente da mesa, peguei as histórias e comecei a guarda-las no lugar que ela indicou. Estava concentrado em pôr no lugar certo, quando tomei um susto ao me deparar com ninguém mais que Antônella agachada no chão vasculhando livros da estante que estava e segurando outros em suas mãos. Franzi as sobrancelhas. Então ela estava aqui esse tempo todo? Mas... A garota nunca vinha aqui. Por estar desconfiado e achar suspeito suas buscas nas páginas, chamei:
— Antônella?...
Ela até tomou um susto, mas ao reconhecer quem a chamou, abriu um largo sorriso e saudou:
— Oi, Théo!
— Oi... — Devolvi sem jeito e me aproximando dela reparando que os livros que ela segurava continha títulos do tipo: Bilogia, química e literatura. Tive uma ideia — Problemas com as matérias da escola?
Ela soltou uma risadinha.
— Não, não, é algo bem pior. A Felícia estar com problemas com as matérias da escola, e adivinha quem vai ter que a ajudar?
— Você? — Supus.
— Exatamente, eu. O que é uma lástima, já que ela muda do assunto estudantil o tempo todo, vai ser uma tarefa difícil, porém, não impossível.
— Boa sorte então — desejei comovido.
— Obrigada — sorriu se levantando. — Mas ensiná-la não é tão horrível assim, só preciso arranjar uma maneira que não a faça perder o foco. Livros? Filmes? Mapas mentais? O ensinamento é algo rico e que pode ser diferente para cada um, descubro qual ela se da bem e tcharam! Temos uma aluna nota dez! — compartilhou esperançosa.
— Nunca ouvi palavras tão sábias — concordei. Ela abriu um sorrisinho descontraído.
— Mas e aí? Só ler os livros não era o suficiente, não? Decidiu virar bibliotecário também? — Caçoou por me ver carregando o carrinho da biblioteca.
Corei.
— Ahhh... Isso? Não, não... Eu só estou ajudando a Letícia, ela pediu para eu pôr nos lugares enquanto ela ia no banheiro... E enfim... Estágio de dois minutos — me desconcertei.
— Hummmm — comentou desviando o olhar para a prateleira em sua frente. — Letícia do primeiro ano? A filha da bibliotecária que tem uma quedinha por você?
Arregalei os olhos.
— O quê?! — Quase gritei. — Não, não... Quedinha por mim? Pirou?! Ela e eu somos só amigos, Antônella,amigos.
— Ahhhhhhh! Assim como Heitor e Eliza diziam que eram para todo mundo também... Sei... — Se fez de sonsa.
Senti meu rosto pegar fogo, de vergonha.
— Nada a ver! — continuei na defensiva. — São casos completamente diferentes, os dois gostavam um do outro, agora, nem eu e Letícia gostamos de ninguém, ok?
Ela riu por me ver tão alarmado daquele jeito.
— Okkk, se está dizendoooo — Provocou soltando risinhos, me deixando mais irritado e constrangido ainda. — Relaxa, eu só estou brincando. Não precisa ficar nervosinho e ahhhh! Corado, que fofo! Acho que você gosta mesmo dela! — Bagunçou meu cabelo.
Bufei, resmungando:
— Você é tão idiota.
— Você é tão cabeça dura — devolveu sapeca e me seguindo saltitante corredor afora que nem uma criancinha querendo aprontar alguma coisa. — Mas e aí, há quanto tempo?
— Há quanto tempo o quê? — grunhi.
—... Você está a fim de Letícia, ué?
Virei a fuzilando pelo olhar com a expressão mais feia que eu seria capaz de reproduzir e ressaltei lentamente para que entrasse de vez em sua mente:
— Eu. Não. Gosto. Da. Letícia. E. De. Mais. Ninguém. Agora, me deixa em paz.
Porém o que ela entendeu, foi:
— Você. Gosta. Da. Letícia. E. Está. Caidinho. Por. Ela. Agora, me conte mais!
— O quê?! Antônella! Você ouviu mesmo alguma coisa que eu te disse? — Perguntei cansado daquele assunto. Letícia era legal, mas eu de verdade não estava a fim dela.
— Eu ouvi a verdade, meu caro amigo, a paixão por trás da frieza! A parte boa da história que seu pobre coração inocente não quer ser capaz de enxergar e muito menos confessar... Ai! Eu sempre soube que por debaixo desse gelo existia um coração pronto para ser amado e amar! — deu pulinhos eufóricos curtindo a sua fanfic imaginária.
— Sua mãe está te deixando assistir filmes demais — rosnei contrariado.
— Lethi! Won’t, eu shippo! — se iludia na própria mentira. — Fica tranquilo, eu vou te ajudar a conquistá-la! Eu tenho o plano perfeito, eu... — de repente, se calou de vez. Arqueei uma sobrancelha.
—... Você o quê?... — decidi influenciá-la em seu delírio para ver se passava logo.
Entretanto, tudo o que contemplei foi seu olhar perdido para algum lugar além da biblioteca. Se acanhando e entreolhando seus dois lados totalmente avoada, balbuciou:
— Desculpa, Théo... Eu, eu... Tenho que ir... Te vejo mais tarde.
Franzi o cenho preocupado. Percebendo que algo muito grave deveria estar acontecendo no local em que sua vista alcançou e fez sua expressão tão alegre se transformar naquela nervosa e obscura, a segurei de leve, questionando:
— Ei, está tudo bem?
A menina me encarou meio aflita e sussurrou se soltando rapidamente das minhas mãos:
— Está sim, ou vai ficar...
— Como assim? Tem algo acontecendo? Você quer que eu vá com você?... — murmurei confuso e no mesmo instante indo seguí-la, no entanto, ela me parou.
Me olhando séria e deixando claro que eu estava proibido de dar qualquer passo atrás de si, repetiu:
— Nos. Vemos. Mais. Tarde.
— Antônella... — ainda insisti, porém ela saiu e se despistou de minha vista com tamanha agilidade que não pude sequer chutar para onde ela iria.
Até parecendo adivinhar que eu acabara de entrar em um momento de tensão, um barulho de notificação chegou no meu celular, anunciando pela tela de bloqueio:
“*Loucuras da aventura time três.*
[Tentando fazer aliança e contar sobre o jogo para Antônella? Que coisa feia, Théo, estamos muitos insatisfeitos por isso! Como consequência, terá um presentinho desagradável te esperando essa tarde. Já avisamos a você, antes de ficar se perguntando quem somos nós, descubra quem é você! 15 horas, casa da árvore.]”
Estremeci. Ai meu Deus! Estavam me vigiando na escola?! Mas... Mas... Como eles sabiam dos meus planos se eu não tinha contado a ninguém?! Como?!
Olhei ao redor com o coração na mão. Mais uma vez alvos, todos os estudantes da Queen Médias viravam alvos... Porém, algo bem pior começou a rodear a minha cabeça, uma certa frase que dizia: Terá um presentinho desagradável te esperando essa tarde. 15 horas, casa da árvore.
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Ps: Ft de representação da Letícia lá em cima!
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Loucuras da aventura
Mistério / SuspenseProblemas psicológicos, ansiedade, fobia social e falta de motivação para viver de longe era um dos maiores problemas de Théo, um garoto totalmente fechado e incompreensível que tinha como companhia somente uma amiga doente, prestes a morrer, que al...