Capítulo 63 ____________________________
Arregalei os olhos duvidando que eu estivesse ouvindo certo. Passos pesados e ágeis inundaram o eco do corredor e uma Ana Luiza ofegante apareceu na porta do quartinho velho e mofado, informando:
— PAI! Letícia fugiu do quarto! E-Eu tentei ir atrás, tentei! Estava correndo a procurando, mas a traidora pegou uma trilha que eu não conhecia e me fez ficar perdida dentro do labirinto do quintal! Estava presa nele até agora, tentando gritar que ela havia escapado!... — engoliu em seco ao ver o quanto Theodoro parecia furioso. —... acho que ela correu até o grupo LDA 2.0 e contou o que está acontecendo... Vi... Vi o vulto de Eliza no gramado quando estava vindo para cá... Estão indo na direção da janela aberta.
Alvarez perdeu o controle e numa crise de ódio, xingou socando uma parede:
— Porra! PORRA! PORRA!
Samuel sorriu feito um besta e direcionou um olhar comemorativo para mim, enquanto caçoava:
— O que foi, papai? O Sr não se sente mais tão confiante com o jogo assim? Achei que tinha tudo sob controle...
Alvarez grunhiu, pisando firme no chão enquanto ordenava:
— CALA A BOCA, SAMUEL!
O filho ficou quieto, mas não removeu do rosto a satisfação em ver o pai se ferrando.
— Papai — Analu o chamou. — O que vamos fazer? Eles estão adentrando a mansão pela janela leste!
Faísca, que até então estava na sua apoiada na porta, deu um passo à frente, questionando:
— Quer que eu mande trancar todas as passagens, Senhor?
— Não — o agiota negou frio e com uma agressividade medonha. Seu olhar se tornou sombrio quando completou encarando diretamente meu corpo semimorto no chão — deixe que entrem. Afinal, isso já fazia parte do nosso plano, só será adiado... Deixe que entrem.
Um desespero incomum se apossou dos olhos de Ana Luiza ao ouvir essa frase. Com uma mão no peito, tentou se contrapor, apreensiva:
— Mas, papai... O jatinho...
Alvarez a olhou com um olhar que desafiava ela a terminar a frase, e a menina perdeu toda a coragem, abaixando trêmula a cabeça. Andando até mim com uma impaciência notória, apanhou ele mesmo meu corpo frágil e me arrastou quarto afora, sem se importar em me erguer. Gemi, porque era tudo o que eu podia fazer. Theodoro olhava para todos os lados de um jeito estranho, com a respiração afoita. Passando a mão nos cabelos úmidos de suor, sussurrava para si, como se tentasse resgatar a razão:
— Hoje não vai ser você a se ferrar dentro de uma mansão. Você não é mais o Theodoro... O Theodoro está sendo carregado nos seus braços. Hoje você é o Alvarez... O Alvarez que matou seus avós e te pôs no orfanato. Hoje você é ele. Você é o Alvarez, seja o Alvarez!
Mesmo que minha consciência estivesse se esvaindo a cada móvel diferente que se batia contra mim, tomei um susto com aquela revelação. Meu coração parou de bater por cerca de alguns segundos ao entender o porquê da escolha daquele codinome.
"O Alvarez que matou seus avós e te pôs no orfanato. Hoje você é ele", a frase se repetiu em minha mente.
Não tive tempo suficiente para pensar sobre isso, pois, de forma brusca, Theodoro puxou meu corpo de supetão e me tacou no carpete do chão. Rolei de mal jeito no piso, tentando salvar meu braço engessado e gemi alto. Logo atrás de mim, Sam era escoltado, e carregava no rosto um sorriso maior que eu já o vira dar. Alienado, Alvarez remexeu numa gaveta no canto da sala, bradando:
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Loucuras da aventura
Mistero / ThrillerProblemas psicológicos, ansiedade, fobia social e falta de motivação para viver de longe era um dos maiores problemas de Théo, um garoto totalmente fechado e incompreensível que tinha como companhia somente uma amiga doente, prestes a morrer, que al...