CAP 48- Me abriguei na casa dela✉

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Capítulo 48 ____________________________

Não sei em que momento as lágrimas de tristeza por causa da minha discussão com a Nice se transformaram em lágrimas de um tipo de aconchego no coração que eu nunca havia sentido antes.
Meu peito sacudia soluçando ao ouvir a palavra que o pastor pregava, ela parecia toda direcionada para mim, mesmo que estivesse se referindo aos jovens em geral. Mas foi no período de louvor que eu senti um toque no meu coração aquecendo a minha alma. Foi o toque de Deus. Era como se eu realmente pudesse sentir que Ele estivesse me abraçando e dizendo: Filho, eu estou aqui, você não está sozinho, todos os seus problemas vão se resolver, confia em mim. Depois disso, não tive mais controle sobre o meu choro, não consegui mais disfarçar ou segurar os soluços. Me entreguei aquele sentimento bom, me joguei naquele calor, vivi aquilo com tudo o que há dentro de mim. Deus tinha falado comigo! Tinha me tocado! Era real! Se eu contasse para meus pais ou para outras pessoas, talvez duvisassem da veracidade das minhas palavras. Mas eu senti, FOI REAL! NÃO UMA MENTIRA. E eu não queria me afastar daquilo, não mesmo!
Abraçava meu próprio corpo esperando o momento em que a pessoa que conduzia o culto nos seus últimos segundos liberasse a todos o encerrando com: A paz do Senhor, quando um grupo de homens, que julguei ser diáconos ou obreiros, juntamente com o pastor, pediram:

— Podemos orar por você?

Entreolhei a todos, com a visão ainda embaçada por causa do choro. Minha cara deveria estar toda inchada. Com fervor, assenti já me ajoelhando. Eu queria receber aquela oração, necessitava.
O clamor começou e, dentro de mim, no meu coração, comecei a suplicar para ter certeza que aquilo realmente estava acontecendo, que eu não era louco:

"Pai, por favor, se for real, fale comigo agora, me dê um sinal."

Dois segundos depois, dois diáconos, que eu nunca vi na minha vida, começaram a falar em línguas estranhas. Comecei a chorar mais forte quando um deles começou a interpretação, a interpretação que vinha de Deus!

"Meu filho, sou eu que falo contigo, por que ainda há dúvidas disso? E me pedes dentro do teu coração para confirmar que tudo o que realmente aconteceu é real? Sei de todas as coisas que acontecem na sua vida e sei de cada momento que chorou escondido no seu quarto, que desejou acabar com tudo e tirar a vida que EU concedi a você e fiz com tanto amor. Eu, o Senhor, estive do seu lado em todos os momentos, colhendo as suas lágrimas, aquecendo seu coração em todas às vezes que pedia socorro. Sei das batalhas que enfrenta agora, que parecem maiores que você. Mas eu te preparei e te escolhi para vencer essa história. Meu futuro para você é grande e feliz. Não vai ser fácil lutar contra tudo isso, mas eu te dou minhas forças para ter as armas para vencer. Ainda vai doer, muito, mas sua vitória está guardada."

Intensifiquei o choro. Eu nem conseguia respirar mais. DEUS FALOU COMIGO! COMIGO! Me deu a certeza que eu precisava! Vou ser vitorioso na caça ao tesouro. Me encolhi abraçando meu corpo desnorteado, maravilhado! Aquilo era real! Meu Deus!
A oração terminou e algumas visões e revelações que tiveram comigo foram relatadas, o pastor me explicou a interpretação e eu ouvi tudo com muita atenção, tratando de controlar o choro e voltar ao meu estado normal. 
No término do período, funguei e avisei, não sabendo se era necessário comunicar para entrar na obra:

— Eu quero fazer parte da igreja. Eu quero continuar aqui, ser um membro.

Eles sorriram. Me dando tapinhas encorajadores, o pai da Berenice informou:

— Se é o que quer, você já é. Venha nos próximos cultos! Ficaremos felizes em recebê-lo em nossa congregação.

Assenti com um sorriso abobado confirmando que verdadeiramente estava disposto a continuar a trilhar aquele caminho. Enxuguei uma lágrima que pingou no meu gesso e quase não respirei quando olhei para frente novamente e me deparei com a Nice parada ao lado do pai. Por causa do susto, puxei o ar entre os dentes. Os outros homens começaram a se dispersar para encontrar suas famílias, pois pelo visto, a chuva do lado de fora estava intensa e ninguém sabia como faria para voltar para casa.
O pastor sorriu de forma graciosa, puxando a filha para debaixo de um de seus braços e apresentou:

Loucuras da aventuraOnde histórias criam vida. Descubra agora