Estou no meu antigo quarto, deitada e abraçando a Lady, não consigo parar de chorar. Dani já veio e ficou alguns minutos comigo. Até mesmo mamãe, que não é de fazer essas coisas, me trouxe um copo de leite quente e não disse uma palavra sequer sobre o Enzo.
Da para acreditar que nunca mais vamos terminar aquela conversa? Que nunca vou saber o que ele realmente queria? Nunca vou saber nenhuma dessas coisas por que ao invés dele estar viajando o mundo, na verdade ele estava combatendo inimigos em todos os lugares de onde mandou cartão postal.
Me levanto, vou ate meu esconderijo secreto, o que ficava na ultima gaveta da cômoda. De la eu tiro uma caixinha com várias fotos minhas, cartas apaixonadas, um bilhete que o Enzo escreveu para mim e uma foto dele.
Pego o papel e, como se tivesse acontecido ontem, me recordo de tudo.
Eu tinha um encontro com um cara, estava toda animada. Ele era super gracinha comigo e eu já estava pra lá de caída por ele. Então, um pouco antes de sair de casa, minha campainha tocou e alguém colocou um papel dobrado por baixo da porta. Claro que tentei ver quem era, mas a pessoa se escondeu antes.
No papel só tinha uma frase escrita “ele não sente por você nem a metade do que eu sinto.”. Lógico que pro meu cérebro adolescente e cheio de hormônio isso só podia significar uma coisa: alguém queria me impedir de me encontrar com o cara, não podia deixar isso acontecer!
Terminei de me arrumar e fui para o lugar que tínhamos marcado de nos encontrar, mal cheguei lá e já vi o cara beijando outra. Juro que achei que o mundo tinha acabado, afinal estava “apaixonada”, e sem nem mesmo falar com o cara dei meia volta e fui pra casa. Mal sabia eu que o Enzo tinha me seguido durante todo o caminho, sempre cuidando de mim, mesmo de longe.
Em certo momento ele me chamou, me abraçou e me disse : “Ele não te merecia, Florence”. Voltamos pra casa assim, ele me abraçando e eu me lamuriando pelo cara.
E ai você me pergunta: “Como você descobriu que foi o Enzo, Florence?”
Simples, um dia peguei um caderno do Enzo e percebi que as letras eram iguais. Achei até meu nome escrito nele! Me lembro que ele ficou vermelhinho, quando viu que eu tinha visto meu nome rabiscado no caderno.
Depois dessas provas tentei, muitas vezes, me aproximar dele mas ele sempre me ignorava. Até o dia que eu parei de tentar e deixei pra lá.
Volto para a realidade quando escuto minha mãe me dizer para me levantar do chão e dormir na cama. Fiquei tão perdida no mundo das lembranças que nem percebi que adormeci.
Escuto a voz da Dona Marta vindo de outro quarto e sei, por instinto, que minha mãe a chamou para dormir aqui, o que é compreensível.
Pego a foto do Enzo e guardo todo o resto na caixinha. Volto para a minha cama, dessa vez abraçando a lembrança dele, e assim eu adormeço.
-*-
O dia seguinte chega, mas minha vontade é de nunca mais acordar. É dramático, eu sei, mas é assim que me sinto. Resolvo me levantar e quase morro de susto quando vejo a Cecí deitada na outra cama que tem no meu quarto. Mamãe deve ter ligado pra ela ontem e pedido reforços.
Meus olhos se enchem de lágrimas outra vez e devo ter feito algum barulho por que, do nada, sinto os braços da Cecí ao meu redor. E então, outros braços me envolvem também, são os da Dani.
Ficamos as três chorando, elas por me verem sofrer e eu por estar sofrendo.
-*-
Sinceramente, não fazia ideia do quanto ainda gostava do Enzo. Aquela frase “perder pra dar valor” se encaixa quase perfeitamente aqui. Quase.
Mas olhando pra trás, até que faz sentido. Explica o porquê de nunca ter dado certo com ninguém, dos meus namorados sempre terem me dito que eu parecia distante emocionalmente. O problema não era ser distante, na verdade eu só não era disponível emocionalmente.
Decido parar de pensar nisso, por enquanto, e desço para comer alguma coisa. O café já esta na mesa, Dona Marta já esta sentada, quietinha, calada. Meus olhos se enchem de lágrimas novamente, mas dessa vez não vou chorar, vou ser forte, preciso ser forte.
Dona Marta me vê e solta um soluço, ela da um pulo da cadeira e vem me abraçar. Já era meu plano de ser forte, minhas lágrimas caem feito cachoeira e abraço Dona Marta mais forte.
Nós nos separamos, digo que tudo vai ficar bem e me sento do lado dela à mesa. Ela come um pouquinho e sobe para o quarto novamente. É triste ver alguém desabando assim.
Estou na sala, olhando para o nada e fazendo carinhos na Lady. Dona Marta ainda esta no quarto e as meninas estão na cozinha ajudando minha mãe a preparar o almoço, eu bem tentei ajudar, mas me enxotaram de lá. Devem achar que no estado em que eu estou vou estar mais desastrada e acabar arrumando mais problema. Tudo bem, eu não queria mesmo.
Ainda estou contemplando o nada, quando o telefone toca. Eu dou um pulo de susto, fico indecisa se atendo ou não o telefone. Então, minha mão se estica em direção a ele.
- Alô?
Há um chiado na outra linha.
- Florence? É você?
Meu coração para, não pode ser!
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Freedom
RomanceJá observou como ser acima do peso, uma grama a mais que seja, afeta a vida das pessoas ao seu redor? Note que disse “das pessoas ao redor”, não a sua vida. Por que é justamente o que ocorre. Se você veste uma roupa que gosta e se sente confortável...