Capítulo 7

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Vou me virando devagar, como se isso fizesse o encosto do Alfredo sumir da minha sala. Mas, é só um sonho.

Ele continua ali, vestindo suas roupas e, aleluia, escondendo aquela cueca horrorosa.

Quando fico cara a cara com quem acaba de falar, sinto meus batimentos cardíacos se normalizarem e minha respiração sair mais leve.

É apenas a Daniele, uma das modelos, e por sorte uma das que mais gosto. Estou salva!

- Ei Dani, não esta atrapalhando nada. O Alfredo só veio me pedir opinião sobre uma coisa, mas ele já esta de saída, não é mesmo Alfredo?

Daniele olha de um para o outro, mais perdida que cega em tiroteio. Alfredo termina de se vestir, resmunga qualquer coisa e sai da sala sem olhar pra trás.

- Hum... Me desculpe Flore, pensei que você estivesse desocupada, não queria te incomodar.

Mal sabe a Dani, que ela acaba de me livrar de uma situação mais embaraçosa ainda.

- Que isso Dani, esta tudo bem. O que posso fazer para te ajudar?

Dani abre um sorrisão, aqueles de orelha a orelha.

- Florence, queria convidar você para ser minha madrinha de casamento!

Fico tão surpresa, que demoro uns 2 segundos pra processar o convite.

- Dani, isso é serio?

-Claro que sim! Quando vim nessa revista pela primeira vez, sei que Madame G. não queria me contratar. E um passarinho me disse que você intercedeu por mim. Então, como forma de agradecimento, quero você ao meu lado em um dos momentos mais importantes da minha vida. Diz que sim Flore!

Fico envergonhada, não sabia que a Dani tinha conhecimento da minha “ajudinha” pra garantir que ela iria ser contratada. Sempre pensei que fosse um segredo.

- Olha Dani, por mais que eu esteja lisonjeada com o convite, não posso aceitar. Ainda mais, por algo que eu fiz porque sabia do seu potencial, jamais fiz por querer alguma coisa em troca.

Dani me olha, me da um sorriso e pega minhas mãos nas suas.

- Eu sei, querida. Isso é o que mais conta aqui. Você me ajudou, quando nem mesmo me conhecia. Muitissimo obrigada por isso, Florence. Eu não vou aceitar um "não" como resposta.

Juro que estou com lágrimas nos olhos. Estou super feliz pela Daniele, ela realmente é uma garota de talento.

- Muito bem, Dani. Eu aceito.

-*-

Estou sozinha na minha sala, Dani já saiu a tempos, e ainda continuo sentindo a felicidade que ela largou pra trás.

Não costumo ser uma “romanticazinha”, mas assumo que isso me agrada. Não sou uma sortuda no quesito “amor”, muito pelo contrario, costumo me apegar aos que mais vão me fazer sofrer. Não consigo entender o porque.

Estou no meio dessa questão super importante, quando um perfume caro chega as minhas narinas.

Madame G. abre a porta como se fosse dona do lugar, e ela é mesmo. Anda em direção a minha mesa, me lança um olhar afiado, confere minha roupa, faz um barulhinho com a língua e sai.

Ela mal fecha a porta e o meu telefone toca.

- Florence, quero você no 20º andar em 10 minutos, você vai ajudar a Cintia a selecionar os melhores modelos e vai me entregar os currículos, para eu dar meu aval.

Eu não tenho tempo nem mesmo para concordar e ela já encerrou a ligação.

-*-

Não aguento mais ver costelas, clavículas, vértebras e afins! Estou exausta de “selecionar”!

E a Cintia, sendo a nojenta que é, não fez a situação ser nenhum pouco melhor. Sempre jogava indiretas pra mim, sobre como eu deveria ser bonita magra, que eu deveria fazer uma redução de estomago, uma lipoaspiração, uma abdnoplastia ou optar pela dieta mesmo.

Juro, de pé junto, que quis partir pra cima daquela idiota umas duzentas vezes! Ensinar pra ela que quem anda precisando de um regime pra língua é ela, aquela bocuda!

Estou apitando de tanto ódio! Aposto que Mocréia G. me colocou na seleção junto com ela, como forma de castigo pra me ensinar uma lição. A lição de que ela é quem manda e ponto final.

Odeio a Cintia, odeio a Mocréia. Odeio até mesmo o Alfredo e sua falta de percepção!

O cara me apronta a loucura da cuequinha prata, que foi engraçado e tal, mas poderia ter me colocado em maus lençóis. E durante a seleção, onde todos os modelos ficam e ajudam a vistoriar, ele fez o favor de me mandar bilhetes com coraçãozinho, convite pra sair e tudo mais. Um chato! Vou dar uma prensa nesse mala, quero ver ele me encher o saco de novo.

Meu horário de trabalho chega ao fim e estou livre pra ir pra minha casa.

No caminho, me lembro da Lady, e minha irritação diminui um pouco.

-*-

Chego em casa, brinco com a Lady. Essa cadelinha foi o melhor presente que alguém poderia ter me dado. Ela é tão carinhosa, que qualquer estresse, que tenha surgido durante o dia, vai embora.

Estou alimentando a Lady, quando ouço minha porta bater.

E ali, no meio da minha sala esta a Cecí, toda serelepe.

- Floreeeenceee! Me desculpa ter sumido esse fim...- Ela nem termina a frase, vê a Lady, da um gritinho de animação e vem que nem um trem de carga em direção a minha pobre cadelinha.

- Que coisinha mais linda! Florence, quando ia me dizer que arrumou um anjo de quatro patas?! Ela é tão linda. Você não é linda, bebê? Own, que cute- cute! A tia Cecí vai dar carinho pra você, amorzinho.

Cecí esquece completamente de mim e se empolga, enquanto bate um papo, com a igualmente empolgada, Lady.

Saio rindo e vou em direção a cozinha, parece que tem um pedreiro vivendo no meu estomago, estou morta de fome.

Faço o jantar e Cecí ainda continua a mimar a Lady. Essa cadelinha vai ficar mal acostumada, já vejo isso. Mas, é melhor que meus dois amores se deem bem, sinal de que a felicidade será garantida.

E nessa vibe de paz, tranquilidade e muito, mas muito carinho mesmo, minha segunda chega ao fim. E estou muito aliviada com isso. 

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