Grávida?

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O som da campainha ecoou pelo apartamento.

Uma loira ainda sonolenta abre a porta ficando de frente com uma mulher que tinha cara de poucos amigos.

Irina: A senhora aqui? Que surpresa! (Diz tentando manter um ar amigável)

Victoria: Acredito que não seja tão surpresa assim, afinal foi você que teve o atrevimento de me deixar algumas fotografias como presente. Decidi vir aqui pessoalmente saber qual o seu intuito com esse ''presente''. (Deu ênfase para essa última palavra)

Irina: Oh, por favor, eu lhe explico tudo, mas primeiro, entre. Sinta-se a vontade.

Victoria adentrou o apartamento e não pode deixar de perceber a bagunça em que o imóvel se encontrava. Havia algumas garrafas de cerveja e restos de comida espalhados pela sala. Seu olhar de repreensão logo se fez perceptível.

Irina: Sente-se, por favor. Me desculpe por isso... (Fala constrangida pela desorganização) A senhora sabe que cheguei a pouco tempo na cidade e algumas amigas resolveram fazer uma reuniãozinha. 

Victoria: Imagino... Antes que estranhe, pedi seu endereço para Raquel. (Senta em um sofá) Mas agora o que me interessa é saber o por que dessas fotografias. Por qual razão queria tanto que eu as visse?

Irina: Sabe, senhora... (Victoria revira os olhos só de ouvir a voz dela) Desde o princípio sempre soube que podia contar com sua ajuda para reconquistar um grande amor. Fernando foi e continua sendo o grande amor da minha vida. Como deve saber, sou russa, mas meu pai veio para o México para trabalhar em uma construtora local. Construtora essa, em que o pai de Fernando também trabalhava. Sendo assim, os nossos caminhos se encontraram pela primeira vez. Éramos muito amigos, mas depois de um tempo, precisamos voltar para a Rússia e fiquei anos sem vê- lo, até que já adolescente, voltei para terminar meus estudos aqui. E foi assim que nos reencontramos, já mais velhos e mais experientes. Vivemos uma linda história de amor, tínhamos muitos planos, sonhos, desejos, nosso amor era tão grande e intenso... Chegamos ao ponto de noivarmos e por pouco não casamos.

Victoria: Se era um amor tão lindo, por que chegou ao fim? O  que aconteceu para mudar tudo tão drasticamente?

Irina: Eu tive medo. Medo de estar me precipitando, medo de me arrepender.

Victoria: Você não acabou de dizer que o amava imensamente ?

Irina: E amava. Mas todos ao meu redor estavam querendo curtir a vida, aproveitar. E eu teria que abrir mão da minha liberdade tão cedo, para casar? Não era justo. Mas quando falei com ele sobre isso, ele não gostou muito. Disse que uma coisa não tinha nada haver com outra. Que jamais ele me privaria de sair para me divertir, de passear com minhas amigas, de aproveitar a vida, só por ser casada com ele. Mas eu não quis, por um momento pensei que não podia me prender a alguém se eu já não tinha tanta certeza se ele era o amor da minha vida. Só que Fernando é muito cabeça dura...

Victoria: Isso é verdade... (Diz quase que em um sussurro)

Irina: Quando dei por mim, já estávamos separados e por mais que eu tenha visto que o amo com todas as minhas forças, já era tarde demais. E eu percebi isso quando descobri que estava grávida. 

Victoria: Grávida? (Se espanta) Você e Fernando tiveram um filho? Ele nunca me contou isso. (Se levanta e vai até uma grande janela que dava para uma vista de parte da cidade, mantendo seu olhar fixo para fora do apartamento)

Irina: Sim, eu estava grávida, mas só descobri depois que nos separamos. Planejei inúmeras formas de contar para ele do nosso filho que estava em meu ventre. Queria que ele ficasse tão emocionado quanto eu fiquei quando soube. Mas então, comecei a sentir fortes dores na barriga e.... Bom, perdi nosso filho sem nem ter tempo de contar para ele. (A essa altura, ambas já estavam visivelmente emocionadas) Perder um filho, é uma dor que nenhuma mãe deveria sentir. (Victoria se arrepiou completamente nesse momento) Depois, voltei para Rússia e comecei a trabalhar lá. Não tinha coragem de contar para Fernando. Não queria que ele carregasse essa dor que EU carrego. Não queria que ele sofresse. Ficamos anos sem nos vermos, até que o reencontrei naquele restaurante.

Victoria: Eu nem sei o que dizer.

Irina: Eu lhe mandei aquelas fotos porque queria que visse o quanto combinamos. O quanto somos perfeitos juntos. Só de olhar aquelas fotos, já percebe que fomos feitos um para o outro. E é por isso que quero sua ajuda. Sei que Fernando é muito amigo do seu filho Alessandro e sei que ele lhe considera como uma mãe. (Victoria fica incomodada com essa última frase) Quero sua ajuda para reconquistar o amor da minha vida. Estou disposta a tudo para ter Fernando de volta na minha vida.

Algum tempo depois....


Felipa: Senhora Victoria, que bom que voltou. Já estava ficando preocupada. A polícia ligou. Queriam falar com a senhora. (Victoria passa rapidamente por ela e sobe as escadas) Eles querem falar sobre a menininha. Parece que encontraram alguma pista sobre os pais, inclusive a senhora Maria José e a senhorita Paula levaram ela para dar um passeio no jardim. Aquela preciosidade precisava tomar um ventinho fresco. (A patroa para no topo da escada)

Victoria: Felipa, depois conversamos, tá bem? Estou morrendo de dor de cabeça e não quero ver ninguém. Absolutamente NINGUÉM. (Vai para seu quarto)

Felipa: Mas o que será que aconteceu com ela ? (Se questiona)

Ao chegar no quarto, Victoria se deita em sua cama e coloca para fora toda a tristeza, medo e ressentimentos que estava sentindo. Chorava como a muito tempo não o fazia. Ela estava confusa. Se sentia perdida. Desolada. Sozinha. 

Sua conversa com Irina a fez parar para repensar em muitas decisões que já estavam tomadas ou quase tomadas  em sua vida.

Ela como mãe de três, não consegue nem imaginar o que seria dela, se algo de ruim acontecesse com um de seus filhos. 

Apesar de tudo, ela estava segura de sua decisão. Agora, apenas lhe restava ser firme e aguentar as consequências de seus atos.

Mais tarde na Mansão Lombardo

Felipa: Doutor Hernan, que bons ventos lhe trazem? (Fala o recebendo na porta)

Hernan: Boa tarde, Felipa! Vim para conversar com Victoria. Desde que ela chegou de viagem não conversamos ainda.

Felipa: Mas creio que não será possível. Ela não está disposta a receber visitas.

Hernan: O que aconteceu? Ela está se sentindo mal?

Felipa: Creio que seja apenas uma dorzinha de cabeça misturada com cansaço. 

Hernan: Por isso mesmo tenho que conversar com ela. Tenho uma ótima proposta para fazer. Sei que ela irá se animar depois de ouvir.

Felipa: Não sei. Ela disse que não queria receber ninguém.

Victoria: E continuo não querendo. (Fala no topo da escada) Estou cansada e com dor de cabeça, espero que entenda que esse não é um bom momento. (Fala descendo)

Hernan: Minha querida... (Beija a mão dela) Você precisa sair para se distrair um pouco. Precisa esquecer dos problemas, nem que seja por algumas horas. Abriu um restaurante tão lindo aqui perto e dizem que a comida é maravilhosa. Venha comigo. Prometo fazer dessa noite, uma noite inesquecível para nós dois.

Victoria relutou um pouco, mas no fim aceitou o convite.

Mal sabia ela, que naquela noite sua vida tomaria um novo rumo. 

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