Almas da Escuridão

#13 - A noite em que as trombetas soaram

— O que diabos são vocês!? — disse, desesperado, o próprio Pereira. O único ali que não havia encarado nada paranormal ou mágico na vida, nem tinha alguma familiaridade por livros e puro fanatismo juvenil.

— Escute senhor, nós não somos — antes de sequer terminar sua sentença, Eva foi surpreendida por uma seta translúcida lançada contra a testa do policial, que calou o homem logo após se fincar na mente dele.

Enquanto balbuciava incoerências em um canto isolado do búnquer secreto, suas mãos trêmulas lentamente caiam de seu rosto, onde as unhas que perfuravam a carne e liberavam sangue das bochechas lentamente perdiam força, deixando o corpo moribundo estático no chão. Alguns poucos impulsos surgiam, mas em geral, estava quieto, praticamente inconsciente, praticamente morto. Da trajetória do tiro, era possível confirmar que foi Jonathan o culpado pelo ato, obviamente provocando sua parceira.

— Você só pode estar louco, Akuma! — era Dream Catcher, completamente irritada com mais um assassinato, ao menos de sua perspectiva, vinda das mãos de seu aliado, outro sangue inocente que manchava as mãos daquele que ela tentava ajudar. — Que tipo de idiota atira contra o cara que quer ajuda?

— Só se acalma aí, eu não matei ele — disse, buscando uma cadeira próxima — É apenas uma paralisia temporária, o cara precisa se acalmar, antes de tudo.

— Se você diz que vai ficar tudo bem então... Bom, acho que não tenho escolha né? Vou ter que confiar em você — deixando que a exaustão tome conta de teu corpo, a garota senta-se frente ao único computador do cômodo, procurando algo que a distraísse — E então, o que planeja fazer sobre "aquilo"?

— Não quero falar sobre com ele se estrebuchando no chão — o garoto leva a cadeira que havia pegado até aquele canto esquecido da sala, erguendo com facilidade o pobre louco, colocando-o sentado em uma posição menos vergonhosa — Antes, vamos resolver "este" problema que está na nossa frente.

A seta começa a se desfazer, e o rosto cru de Pereira começa a tomar novas expressões, retornando ao horror inimaginável de alguém que não entende o que acabara de presenciar. A simples ideia de ver os monstros que invadiram o galpão já lhe assustava, quem dirá ter a confirmação empírica de que aquilo era real. Sua mente estava em um turbilhão de confusões, porém, algo lhe prendia a realidade, uma voz dentro de sua consciência que acalmava-o, que o segurava na existência em que queria acreditar: todos eram demônios, e portanto, por mais que existissem realmente, não poderiam feri-lo. Sua fé lhe salvaria.

— O que vocês são? Demônios também!? — era Pereira, que falava gaguejando, pois a única outra coisa que conseguia fazer era balbuciar qualquer incoerência sem sentido. Em contrapartida, na consciência de Jhon, Ira gargalhava pelo incrível palpite do homem que, mesmo sem nenhum pingo de lógica na fala, acertou a origem do vigilante sem conhecer as tradições mágicas.

— Por enquanto, só se acalme e me ouça, tudo bem? — quase soletrando de tanta calma e lentidão no diálogo, o garoto encapuzado tentava diminuir a euforia do convidado com palavras calmas e gestos simples. — Eu vou lhe explicar tudo que precisa saber.

E assim foi, durante uma longa noite, onde segredos mágicos de tradições milenares foram desvendados como uma conversa de boteco entre um jovem e seu perseguidor desacreditado. Pereira ouviu pacientemente enquanto bebericava uma xícara de café e comia alguns petiscos gordurosos, talvez por pura pressão de seus "professores". Explicaram-lhe sobre o básico da magia, o fato de sua existência e presença no mundo "real", a provável confirmação da tese anterior do policial e claro, alguma parte do que era Akuma, já que nem mesmo ele sabia disto por completo. Por fim, a tremedeira foi deixando as velhas mãos de Pereira, e ele aos poucos passou a acreditar e entender tudo que havia acontecido. Havia absorvido tudo que era necessário, e então, conseguiu recobrar a ordem de sua mente.