Almas da Escuridão

#02 - O demônio no garoto de capuz

— Mas que droga... — Eram seis da manhã. Nesse horário, ressoava por todo um cômodo o som ensurdecedor do despertador programado pelo celular do jovem Akuma, o mesmo que passou a madrugada fora de casa resolvendo seus "problemas de vigilante". — Não é possível que já são seis horas... Eu não dormi nadinha!

— Problema seu se você tem insônia Jhon. — Um pré-adolescente dois anos mais novo que Akuma dialoga com o mesmo naquele quarto apertado de um jeito informal, demonstrando uma relação de proximidade entre os dois indivíduos. Já era de se esperar algo desse nível, pois ambos eram irmãos, afinal. — Levanta logo se quiser tomar café, ou a gente vai se atrasar de novo.

— Só mais cinco minutinhos Eli... — O garoto ignora as palavras do irmão e sai do quarto acendendo a lâmpada, preenchendo todo o cômodo de luz num único instante. Isso irrita os olhos de Jhon (O mesmo que agia como Akuma na noite passada), que cobre o rosto com a manta que usava para dormir. — Certo, acho que agora eu consigo levantar.

Ao despertar, ele senta na beirada de sua própria cama, se alongando no processo, isso tudo depois de dormir apenas quatro horas após ter finalmente chegado em sua casa. Ele se levanta ainda bocejando, enquanto se desloca lentamente para a cozinha, onde começa à preparar um café. O mesmo esperava que o café despertasse-o, já que não seria fácil acompanhar a sua aula matinal com poucas horas de descanso como as que ele teve. Sem a máscara no rosto, Akuma é apenas um jovem de quatorze anos chamado Jonathan, sendo que seus amigos e família o apelidaram de Jhon ou Jonny para que fosse mais simples e rápido chamá-lo. O garoto vive com sua mãe Mariana e seu padrasto Valdeci, que o mesmo trata como pai, já que desde que ele nasceu, essa é a única figura paterna conhecida. Juntos, Mariana e Valdeci tiveram mais dois filhos, Cícero Elias e Maria Luiza, aos quais Jhon apelidou de Eli e Malu pelo simples fato da sonoridade de ambos os apelidos ser mais agradável aos ouvidos humanos do que seus nomes reais. Ao término do café, Jhon abre a torneira da cozinha e lava seu rosto ali mesmo, finalmente conseguindo enxergar as coisas normalmente, isso além do fato de que lavar o seu rosto o ajudava à recobrar sua consciência depois de uma pequena noite de sono. Eli sai do banheiro e vai direto ao quarto para se trocar, vestindo seu uniforme enquanto organiza também seus materiais para que ambos pudessem sair.

— O banheiro tá livre agora, Jonny! — Eli anuncia sua saída para que o irmão pudesse finalmente realizar sua higiene matinal normalmente.

— Tá bom, já vou usar ele. — Jhon entra no banheiro e começa à se higienizar, como de costume. Após "tirar a água do joelho", o mesmo pega sua escova e a pasta dental no armário em cima da pia, se preparando para escovar seus dentes, mas é interrompido por uma intromissão deveras peculiar...

— Tá com sono né? Isso que dá passar a noite acordado. — A voz em sua cabeça que anteriormente havia feito uma breve aparição surge novamente, dessa vez alertando-o sobre seus problemas sérios de "insônia".

— Calado Ira, você deveria tá com sono também não é? Ou demônios não sentem cansaço? — A revelação surpreendente é feita com uma serenidade anormal. O ser misterioso chamado Ira é um demônio que, aparentemente, possui uma conexão mental com Jonathan.

— Eles sentem, mas não quando estão na forma espiritual garoto. — Com um leve tom de deboche, o demônio responde ao seu receptáculo numa forma de descontrair com ele, apenas para quebrar esse clima segundos depois. — Mas e aí, o que vai fazer com a garota?

— Eu não sei ainda qual a resposta definitiva dela, por isso eu não posso fazer nada, pelo menos por enquanto...

— E se ela recusar a oferta de se unir à você, o que faria, ó grande Akuma? — Ira zomba do nome escolhido por Jhon para sua figura de vigilante enquanto o mesmo estava concentrado na sua higiene bucal que infelizmente não poderia ser interrompida naquele momento apenas para responder Ira.