Capítulo Um

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Zynaya...

Acordo sufocando, o suor corria pelo meu rosto. Toquei no meu pescoço, sentindo o pânico me dominar. Era um pesadelo, mesmo assim, aquela sensação, a pressão em volta da minha garganta tentando buscar o ar. Tudo aquilo era como meu próprio inferno. Há dois anos, tento sobreviver com meus pesadelos, mas toda vez que preciso me mudar, tudo volta com força total.
Eu acabei de chegar a Savannah, na Geórgia. Estava exausta e apesar da casa que havia alugado, não esta muito longe, acabei parando o carro para descansar. Passei a noite toda dirigindo, estava precisando de um banho e algo para saciar minha fome. Sem contar que dormir no carro, é muito suspeito, cidades pequenas, eram boas para se esconder, contudo, havia muita fofoca e especulações.
Decido dar partida e procurar a casa, eu sabia estar perto, só precisava procurar.
Passei pela mesma rua duas vezes, isso era frustrante e me recusava a parar e perguntar, eu queria me manter invisível aos olhos dos outros. Na minha terceira tentativa, estacionei minha camionete. Encostei minha testa no volante, resmungando. Levei um susto, quando alguém, começou a bater no vidro do carro. Ergui minha cabeça rapidamente, e me deparei com um cara, mas, caramba, penso que fiquei com a minha boca aberta por um longo tempo, sem conseguir reagir ou responder. Normalmente, eu daria partida no carro e arrancaria dali, mas fui surpresa pelo belo, alto, musculoso e terrivelmente "sexy" homem. Sua testa estava franzida agora, me encarando. Os olhos de um tom quase cinza, me observam sem piscar.

— Ei, moça, está perdida?

Droga! Respiro fundo tentando acalmar meu nervosismo. Era óbvio que ficar passando pela mesma rua, várias vezes, levantaria suspeita, mais do que parar e simplesmente pedir uma informação.

— Você está me ouvindo?

O cara, com cabelos com algumas mechas claras, ainda estava diante do vidro. Lentamente o baixei e tentei soar o mais natural possível.

— Hã! Desculpe, sou nova por aqui.

Ele curva seu lábio num meio sorriso.

- Você deixou isso, meio óbvio, já que essa é a terceira vez passando nessa rua.

Oh! Droga. Suponho que fiz um péssimo trabalho, tentando ser invisível.

— Eu sou o Jayce, se me disser o endereço, posso te ajudar.

Eu devia sorrir, e dizer não, infelizmente meu cérebro congelou, porque agora estava com o papel na mão, mostrando para esse estranho, lindo, "sexy", Deus... concentre -se mulher. O estranho estava olhando para o endereço e sorrindo.

— O que há, de tão engraçado?

Ele aponta para uma casa, logo ao lado de onde ele está.

— Creio, que você é minha nova vizinha. Está vendo essa casa?

Assenti.

— Eu moro aqui e aquela, é a casa que está procurando.

Sério! Eu havia passado por essa casa, três vezes, isso era mesmo um ótimo meio de recomeçar.

— Oh! Devo, um, obrigada!

— De nada!

Fico olhando o belo homem, indo em direção a varanda da sua casa. Eu estava hipnotizada pelo belo homem, demorei um pouco para entender, que ele seria meu vizinho.

Puta merda!

*********
A única casa próxima à minha, era do vizinho lindo. Isso era perigo. Pior que morar perto de uma fofoqueira, era ter um homem que possuía uma beleza tão intimidadora como a dele. Olhei em volta da sala pequena, a cozinha era dividida por um balcão, toda compactada, por mim, tudo perfeito. Era apenas eu e o Rex, meu buldogue.
Eu já havia desempacotado parte das caixas que trouxera, só o essencial. Agora precisava encontrar um mercado. Minha dispensa estava vazia e não parei para comprar nada.
Rex estava deitado, na sua pose de rã, estava tão exausto quanto eu, fugir de uma cidade para outra, era cansativo. Eu nem podia fincar laços, ter um emprego ou me permitir ter amigos, sabia que a qualquer momento, teria que sair correndo, sem olhar para trás. Se não fosse o dinheiro que minha amiga me deu, com o da minha mãe. Eu retirei toda poupança que havia guardado, não fazia ideia, de como Ricky havia conseguido tanto dinheiro, contudo, fiquei feliz por te-lo, estava me ajudando alguns anos.
Subo até o quarto, era pequeno, mas o que me chamou a atenção, foi a vista. A janela era grande e ficava na direção da janela vizinha.
Reviro meus olhos. O destino estava tentando me sacanear, de novo. Ouvi um cortador de grama sendo ligado. Eu não queria, nem deveria, mas foi algo maior, não pude controlar o impulso de olhar.
Eu definitivamente, não devia ter olhado. O vizinho lindo, estava sem camisa, usava apenas um jeans casto. Aquele homem parecia ter sido esculpido por anjos. Fiquei hipnotizada pelos músculos dele, cada movimento. Corri meus olhos por seu corpo e notei algumas tatuagens na lateral. Uma em volta do seu braço. Eu estava ali, parada a um bom tempo, porque fui flagrada. Ele parou e desligou a máquina, abriu um sorriso na minha direção. Não sabia como agir, então simplesmente cumprimentei com um aceno. Uma última olhada em seu abdômen, notando aquele V, descendo pelo cós da sua calça.
Rapidamente corro. Isso era muito errado.
Rex me segue, conforme desço a escada. Eu realmente precisava ir ao mercado, mas primeiro, precisava descobrir onde havia um.
*********
Eu havia tomado um banho, o clima estava escaldante. Estava pondo o pé na calçada, quando me assustei com o som daquela voz grave. Atrapalho-me e acabo derrubando minhas chaves.

— Vizinha?

— Deus!

Olho para Jayce, está com um sorriso divertido nos lábios e uma sobrancelha arqueada. Ah! Mencionei que ele está lindo e cheira muito bem. Eu precisei me controlar para não inspirar com força, tentando absorver seu cheiro.

— Errou, sou eu, o Jayce.

Reviro meus olhos, parece algo ofensivo, já que ele foi tão solícito comigo.

— Você me assustou!

Ele muda a expressão, parece sentir culpa.

— Desculpe.

Eu sei, parece drama, a culpa por ter esse medo paranoico, sempre apavorada, também não era dele, mesmo assim, era mais forte que eu.

— Tudo bem, eu exagerei.

Ele franze a testa, agora confuso.

— Vai as compras?

Ergo uma sobrancelha o encarando, ele volta a sorrir.

— Não fique assustada, não estou te espionando, vizinha, só deduzi, porque acabou de se mudar, então é meio óbvio.

Ok, eu tinha que tentar controlar minha paranoia, ou isso seria motivo para desconfianças e eu não queria isso.

— Preciso ir ao mercado, mas não conheço nada por aqui.

Ele torce o lábio. Como alguém podia ficar "sexy", com apenas um gesto.

— Eu poderia acompanhar você, mas não saio com estranhos.

Franzo a testa, surpresa, ele volta a sorrir.

— Você não me disse seu nome.

Oh! Ótimo, agora se eu me recusar, aí sim! Será motivo para suspeitas.

"Pensa rápido Zynaya"

— Zinn

Esperava que isso ajudasse.

— Zinn? Parece nome de Gênio da lâmpada.

Fecho minha cara.

— Gostei, quem sabe não posso fazer três pedidos...

Mordo meu lábio, tentando disfarçar o sorriso.

— Vamos, não precisa de carro, Zinn. O mercado fica virando aquela rua, podemos ir a pé.

Eu nunca caminhava pelas ruas, sempre me locomovia de carro, mesmo assim com os vidros erguidos. Mas agora, tinha que controlar minha ansiedade.

— Tudo bem.

Jayce gesticula para que eu vá à frente, mesmo sentindo o nervosismo tentando me controlar, respiro fundo e me movo.

********

Lágrimas De SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora