Jayce...
Eu chego em casa, pego um copo e me sirvo de uísque, sempre repetia o mesmo ritual, mas hoje, as palavras do meu amigo, ficaram rondando minha mente, a culpa se instalou, fazendo meu peito queimar.
"Au"
Olho para Rex que me encara, seus olhos sempre fixos em mim, era como se pudesse sentir tudo que eu estava vivendo.
— Tenho sido péssimo.
"Au"
— Eu sei, você sente falta dela?
Ele se deita, sua cabeça descansa entre as patas, seus olhos parecem tristes. Eu tinha certeza que ele sentia tanto quanto eu. Levanto-me e deixo o copo vazio sobre a bancada. Eu o encaro por um momento e respiro fundo. Eu estava evoluindo após um ano, em outros dias, eu continuaria bebendo e no final, quebraria esse copo em mil pedacinhos, mas hoje, consegui parar no primeiro copo. Movo-me até o banheiro, ligo a ducha e paro sob a água quente. A sensação do choque contra a minha pele, me lembrava que ainda havia alma dentro de mim, enterrada em meio ao vazio.
Limpo o vapor do espelho e encaro a figura pálida. Havia marcas escuras em volta dos meus olhos cansados. Uma barba por fazer, esconde parte do meu rosto. Os olhares na minha direção, carregados de pena, agora eu entendo. Pego o barbeador e faço uma limpeza, quando termino, consigo ver parte do Jayce que fui um dia.
Tudo que me resta, é jogar sobre minha cama e tentar apagar, amanhã, ainda será amanhã, sem ela.
No decorrer da semana, me forço a criar coragem para ir até o batizado. Eu era o padrinho e até no último minuto, Frédéric me lembrou que estaria me aguardando e que sabia que não o decepcionaria. Ele ainda tinha fé em mim, mesmo durante esse tempo todo.
Olho-me uma última vez e tento limpar a expressão vazia do meu rosto. Pego minhas chaves e olho para Rex, que abana o rabo, com esperanças de leva-lo.
— Lamento amigão, mas não posso leva-lo.
Ele murcha de imediato.
— Eu prometo, que o levo no lago.
Ele se anima e eu sorrio. A cabana no lago, era um dos lugares preferidos dele, sempre que ia até lá para me isolar, Rex fazia a festa. Eu comprei aquela cabana, com uma grande esperança, afinal, era o canário perfeito, onde vivi momentos, único com ela.
Respiro fundo e sigo até meu carro.*******
Parei em frente a Capela pequena, olhei em volta, o sol cintila no céu azul, distribuindo seus raios solares para todo canto, um dia atípico de calor. Tudo parece normal, exceto pelo meu nervosismo, enquanto sigo até a entrada, eu não pretendia fazer o menor ruído, não queria todos aqueles olhos sobre mim, mas como tudo na minha vida, falho miseravelmente. A droga da porta, estava seca, foi impossível empurra-la, tentando abrir passagem, sem que ela rangesse escandalosamente.
Todos erguem seus olhos curiosos na minha direção, penso em me virar e voltar, mas já era tarde. Anne estava sorrindo e Frédéric, meu amigo, estava com um brilho esperançoso nos olhos.
"Respire fundo e se mova"
Eu repeti isso por vários minutos até que finalmente minhas pernas, resolvem obedecer.
Paro diante do casal de amigos, aqueles que têm sido minha família desde sempre.
— Eu sabia que meu amigo estava aí, em algum lugar.
Forço um sorriso. Eu queria que fosse fácil, porém, toda vez que curvo meu lábio num meio sorriso, algo dentro de mim, afunda.
— Essa é a Grace, sua afilhada.
Anne segura Grace, uma menininha linda de olhos verdes e cabelos cor de fogo, uma mistura perfeita dos pais.
— Oi, princesa!
Uau, as palavras saem da minha boca com tanta facilidade. Talvez fosse os olhinhos desse pequeno Anjo, o fundo verde, aquele que remete a esperança.
Quando o batizado termina, penso em sair sem que ninguém note, mas meu amigo não me deu chance.
— Você não vai embora, temos um almoço e contamos com você.
— Frédéric, não é uma boa ideia.
Ele cruza os braços e me lança um daqueles olhares, desafiador.
— É melhor pensar numa desculpa muito melhor, do que essa autopiedade que costuma usar.
Eu deveria manda-lo a merda, mas sabia que não podia.
— Ok, vou passar e ficar alguns minutos.
Isso já é motivo suficiente para ele sorri.*******
Ficar cercado por pessoas sorrindo, cheias de vida, enquanto tento segurar minha própria mágoa, era enlouquecedor. Frédéric mau havia brindado, eu já queria correr para longe de tudo ali.
Quando tive chances, tento me afastar, eu estava quase conseguindo, pelo menos, foi o que pensei, até ouvi-lo me chamar.
— Então, vai ser assim?
Paro e solto um longo suspiro.
— Estou cansado, Fred.
— Mentira! Está só fugindo, como tem feito todo esse tempo.
Fecho meus olhos e expiro.
— Eu vim, isso deveria contar como algo.
Eu sabia estar sendo um covarde.
— Jayce, já faz um ano, comece a agir como um ser humano vivo.
Uau, aquilo sim, foi a faísca que faltava.
— PARE!
Meu peito subia e descia com tanta pressa, o grito saiu um pouco mais alto do que pretendia, porque agora, eu tinha olhos na minha direção, pior, eu tinha Anne com a expressão triste, observando Fred e eu nos encarando.
— Não vou parar, porque quero o meu amigo de volta e não esse Zumbi.
Ele bate no meu peito, aquilo me enfurece.
— A Zinn, não aprovaria isso, ela nunca iria gostar, de vê-lo assim.
— PARE DE FALAR, COMO SE ELA ESTIVESSE MORTA. PORRA!
Meu amigo balança a cabeça, Anne corre parando no meio.
— Meu Deus! Qual é o problema com vocês?
Sinto aquele nó familiar, começando a apertar em volta da minha garganta, não conseguia respirar, meu peito doía e meus olhos queimam com as lágrimas.
— Jayce, sabemos o que está passando, mas somos seus amigos, nunca desejaríamos seu mau ou da Zinn.
Esfrego meu rosto.
— Preciso ir, desculpe...Eu não devia.
Viro-me e saio apressado, só havia um lugar onde meu coração pudesse se aquietar e nesse momento, sinto que ele vai explodir, a qualquer minuto.
Entro no carro e dou partida, meu corpo convulsiona enquanto as lágrimas jorram.
Eu havia prometido a ela, faria de tudo para cumprir essa promessa.
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Lágrimas De Sangue
RomanceTentar recomeçar, quando vive fugindo do passado, é difícil, assustador. Eu ainda acordo assustada, sentindo as mãos dele, em volta do meu pescoço, apertando até me sufocar. Meu nome é Zynaya, pelo menos, fora um dia. Para escapar, tive que renuncia...