Capítulo treze

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Jayce...

— Você tá louco, só pode.

Frédéric estava possesso comigo, ele nem tentou me ouvir.

— Fred, tem algo de muito podre nessa história, você também achou estranho, leu o arquivo, tem muita informação evasiva.

— Isso eu sei, mas, não difere no fato, que ela matou o marido. Jayce, um policial, que até então era muito respeitado no seu distrito.

Esfrego meu rosto.

— Ela possui marcas, Fred, no corpo todo. Eu nunca imaginei que pudesse ser um alerta, a maioria, é quase impossível de se notar, mas há uma, na lateral do seu corpo, aquela, me provoca arrepios.

— Jayce, não podemos fingir, que ela, não está aqui, ao seu lado.

— Podemos investigar.

— E, o que diremos, se o tal Dominic ligar e você sabe que vai ligar.

Eu já pensei nisso, não tinha uma solução certa, teria que improvisar, recusando suas chamadas.

— Eu vou enrolando.

— Ok, e ela?

— Ela não vai fugir, ela me prometeu.

Ele esfrega o rosto.

— E, você confia nela?

Ainda era a Zinn, não conseguia ver nela, alguém fria e calculista.

— Eu confio.

Ele ergue as mãos, irritado.

— Ok, primeiro, precisamos ficar de olho nela. Segundo, você não pode, está me ouvindo Jayce, não pode ter nada com ela.

Aquilo era doloroso, sabia exatamente onde ele queria chegar, sabia também, que ele estava certo.

— Quando me refiro a nada, sabe que estou falando sobre qualquer relacionamento, nada de dormir com ela, isso poderia ser o seu fim e agora o meu. Porra!

Eu nunca imaginei, que pudesse arrastar meu amigo, para algo extremamente arriscado, contudo, eu não tinha mais ninguém, eu não podia nem tê-la.

— Ok, precisamos manter os olhos nela, obviamente terei trabalho em dobro, tendo que manter meus olhos em você.

Jogo-me no sofá da minha sala.

— Fred, está exagerando.

Meu amigo me lança um olhar capcioso. Eu odiava o jeito que ele conseguia me lê.

— Jayce, espero de verdade, que isso, seja exagero, porém, eu o vi ontem, o jeito que está péssimo por causa dela e não me venha dizer, que isso mudou. Está explícito em seus olhos, o quanto, está apaixonado por ela.

Respiro fundo, sentindo o impacto real daquelas palavras. Eu estava tão perturbado com toda essa história, que não parei para sentir o peso sobressaindo em mim.
Frédéric percebe minha expressão, porque a dele agora, era preocupação genuína, estampada.

— Desculpe cara, sei que isso deve está sendo difícil de digerir.

Jogo minha cabeça para trás, fechando meus olhos eu pude sentir um desconforto, esmagando minha garganta.

— É, uma merda...

Ouço Fred se mover, sentando ao meu lado.

— Você merece ser feliz, Jayce.

Deixo um sorriso amargo surgir de canto.

— Eu estava feliz, pela primeira vez em anos, fui feliz, Fred.

Ele toca no meu ombro, mas não quero abrir meus olhos, tenho certeza que ao abri-los, deixarei que as lágrimas escapem.

— Preciso ir, a gente se ver a noite.

Assenti, mas mantive imóvel, mesmo quando o ouço se afastando. Só reabri meus olhos, quando ouvi a porta se abrindo e logo em seguida fechando.

Soltei um longo suspiro, libertando minha dor. A vida era injusta, traiçoeira, às vezes penso que ela é como uma madrasta má, sempre pronta para destilar seu sofrimento.

*********

Antes de ir para o plantão, parei em frente a sua casa, eu sabia que não devia, porém, era mais forte do que eu.
Ela demorou um pouco para abrir a porta, mas quando abriu, meu coração se despedaçou. Zinn, estava com os olhos inchados e seu rosto, havia um rastro de lágrimas recém secada.

— Ainda estou aqui, Jayce.

Isso doeu mais ainda. Ela acreditava, que eu estava ali, para vigia-la.

— Eu só passei, para ver como você está.

Ela desvia o olhar. Estava tão abatida, tive que me controlar para não puxa-la para um abraço, Fred, com toda certeza não aprovaria.

— Claro, agora, será sempre assim.

— Zinn, não estou aqui como o policial, estou como um amigo.

Ela abre um sorriso, negando com a cabeça.

— Então, somos amigos?

Eu queria beija-la, me perder nela, mas não podia, tinha que me lembrar disso.

— Ainda sou eu, Zinn.

Ela morde o lábio, que treme de leve.

— E, eu sou uma procurada.

— Vamos investigar, Fred está me ajudando.

Outro sorriso melancólico.

— Tanto, faz.

Ela se vira e entra.

— Está desistindo?

Entro e fecho a porta, ela se joga no sofá.

— Estou aceitando, deveria ter aceitado antes.

Ela fecha os olhos, lágrimas escorrem. Aquilo era demais para mim, me sentei perto o suficiente para olhar em seus olhos.

— Jayce, não tenho nada, perdi tudo, Ricky destruiu tudo, minha vida, meu corpo, minha alma, meu útero nunca poderá gerar um filho. Você, não faz ideia do quanto sonhei em ser mãe.

A lembrança dela, no chá de bebê, fez com que a culpa me corroesse.

— Me desculpe, deve ter sido difícil, está naquele chá.

Ela sorri, com lágrimas lavando seu rosto. Minha mão assumiu o controle quando resolveu tocar no seu lindo rosto.

— Sempre será difícil, a dor nunca passará.

Ela abre seus lindos olhos e me encara.

— Eles sempre, tiram tudo de mim, primeiro Ricky, agora Dominic, seu irmão me caça incansavelmente. Ele nunca vai parar, Jayce.

— Você não está sozinha, vamos descobrir, há algo de errado nisso tudo.

— O dinheiro, Ricky devia está envolvido em algo podre e Dominic, não passou longe do irmão.

Eu não queria deixa-la, mas precisava trabalhar. Fico de pé ainda relutante em me mover. Ela percebe minha inquietação, então fica de pé.

— Jayce!

Ficamos parados, eu lutando contra a vontade de beija-la e ela, implorando que eu ceda, mas não posso, então faço o percurso mais difícil daquela noite.

— Preciso ir, boa noite, Zinn.

Apresso-me, até está distante da casa dela.

Quando chego ao distrito, Frédéric já está a minha espera.

— Está atrasado!

Revirando meus olhos expressivamente, para que ele notasse o meu descontentamento.

— O que é isso? Vou ser vigiado também?

Ele coça o queixo me analisando com seus olhos de raposa.

— Bem, eu diria que se esse fosse o caso, já teria falhado por hoje.

Lanço um olhar de alerta para ele. Minha cabeça começava a doer, ultimamente tudo doía e hoje, estava sufocando ao me lembrar dos olhos dela.

— Frédéric, podemos começar nossa ronda, quero aproveitar algumas horas para voltar analisar o caso da Zinn.

— Ok, vamos, mas antes, preciso de uma dose de cafeína.

Lágrimas De SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora