CAPÍTULO QUATRO
a aberração
Quando Draco era mais novo, através de uma revelação e uma série de escolhas e um acidente, ele acabou aprendendo que o amor dos pais dele não era incondicional, e que Draco não tinha aquele amor mais, e ele nunca iria conseguir fazer por merecer de novo.
Quando aquilo aconteceu, ele era jovem e ingênuo e ainda mais mimado, preparado para receber tudo na mão e nunca ter nem que se estender um pouco para frente. A descoberta que o atingiu veio sem nenhum aviso, o pegando de surpresa tanto quanto um tapa ou uma explosão ou uma queimadura, e ele não tinha tido nem um segundo para se acostumar com aquela nova vida dele. Ele tinha deixado de ser um pequeno tesouro, basicamente, rapidamente, e virado algo que mal era humano, algo inferior e completamente indesejado. Só um segredinho sujo para ser mantido atrás de quatro paredes ou no mínimo longe das pessoas que realmente importavam.
Draco gostava de acreditar que ele tinha se adaptado rápido.
Depois de todos os gritos e os "eu não sei se eu consigo chamar ele de meu filho" e o fogo que não parava e os "ninguém precisa saber o que realmente aconteceu", os pais de Draco contrataram tutores para ele. Eles passaram tanto tempo quanto podiam fora de casa, tentando se esquecer da existência de Draco. Draco, sem um aviso, sem poder dizer tchau para toda a felicidade que ele nem tinha percebido que tinha antes, se adaptou a sair da cama na hora sem Narcisa ter que o acordar, a se vestir sozinho, a comer todas as refeições dele com Dobby, na cozinha.
Ele se adaptou a conhecer os tutores novos dele. A os assustar e os irritar e os observar indo embora com um sorriso e um aceno que quase pareciam angelicais, mas que tinham um brilho demoníaco lá no fundo. Havia uma época, bem no começo, em que ele trocava de tutores mais de cinco vezes toda semana. E ele se adaptava a cada novo homem que era jogado na direção dele, descobria as fraquezas deles, os fazia chorar e gritar e desistir de todo o dinheiro que estavam recebendo.
Havia uma época, bem no começo, em que ele achava que se distanciasse o suficiente daquelas pessoas, os pais dele não iriam ter escolha a não ser se aproximar dele de novo. Draco tinha se adaptado para esquecer aquelas esperanças de criança também.
Ele ainda era mimado pra caralho. Não havia nenhuma dúvida. Mas depois de tudo, ele tinha aprendido, e bem rapidamente, como pegar o que ele queria sem ter que ser dado e destruir tudo que aparecia no meio do caminho dele sem sentir remorso.
Draco se orgulhava do quão forte ele tinha se tornado. Ele se orgulhava do quanto conseguia assustar todo mundo, do quanto ninguém tinha coragem de o machucar a não ser Lucius e Narcisa.
Ele era inabalável. Tinha sido assim desde o dia em que acordou com aquela cicatriz na mão dele.
Agora, as mãos de Draco apertaram as cortinas do novo quarto dele, tremendo um pouco. Ele nunca tremia. Ele tinha colado fogo naquele campo de futebol e observado as chamas quase tocando os pés dele sem se retrair ou tentar correr para o seguro, sem sentir um pingo de medo. Ele tinha sorrido enquanto fazia isso tudo, firme e frio e inabalável como sempre.
E agora ele estava tremendo. Ele não podia explicar porque.
Bem, não. Ele podia. Porque aquele vizinho dele, a aberração de quem Duda tanto falava, tinha olhado bem nos olhos de Draco. Não só isso. Ele tinha olhado e segurado o olhar de Draco, não tinha desviado depois de ver como os olhos dele realmente eram. Ele tinha parecido pego de surpresa, chocado e sem saber o que fazer, mas não com medo. Não com nojo.
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black sheep, DRARRY ✔️
FanficConcluída. Draco Malfoy vinha andando com a "gangue" de Duda Dursley desde o começo do ano. Ele não se importava com nenhum daqueles meninos, não de verdade, mas eles eram uma boa distração. O primo misterioso de Duda só acontecia de ser ainda melho...