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CAPÍTULO OITO
se conhecendo melhor




Draco nunca sonhava com o momento em que o fogo o atingiu. Ele não tinha certeza do porquê, só que aquilo nunca tinha acontecido e muito provavelmente nunca iria acontecer, um único estranho constante que ele nem sabia se era para o melhor ou se só era muito cruel.

Nos sonhos dele, Draco era pequeno. Muito mais pequeno do que ele tinha sido na vida real, se ele fosse ser 100% sincero, baixinho como se ele tivesse uns cinco anos. Ele olhava para cima e tudo e todos pareciam gigantes, até mesmo Dobby, cuja mão Draco estava segurando com força, com desespero e medo e suplica. As feições deles estavam distorcidas; alongadas e afiadas e cheias de sombras como os rostos de monstros, e até o cômodo parecia de alguma maneira mais sinistro do que deveria ser possível, todas as luzes desligadas, todas as janelas completamente pretas. Não haviam portas. Não havia como ele se libertar.

E na frente dele, virada para a parede, era Narcisa, o cabelo pálido como a lua, emanando um brilho branco e delicado que não era natural, que era uma das únicas fontes de luz no lugar.

A segunda era o fogo por todo o corpo dela.

Ele não podia sentir o cheiro de carne queimando que Draco se lembrava tão bem de como tinha sido. Na verdade, não havia nenhum sinal de que Narcisa estava sentindo ou sabia que estava pegando fogo. Os dedos dela, cobertos por chamas que crepitavam bem baixinho, tocavam a parede branca, deixando uma trilha de cinzas que eram levadas pelo ar. Ela se virava para as observar, mas quando ela via Draco, ela sempre ficava distraída.

Ela levantava uma sobrancelha. Lucius dizia alguma coisa que Draco não conseguia entender, a voz dele soando estranha como se ele estivesse tentando falar de baixinho d'água. Parecia que ele estava mandando Draco parar.

E aqui estava a cruel ironia nos sonhos de Draco, um reflexo quebrado do que realmente tinha acontecido na vida real – Narcisa sorria para ele, tão grande e com o rosto tão errado, e ela começava a se aproximar, abrindo os braços. Dobby sua correndo, tentava puxar Draco, e Draco tinha toda a oportunidade para se mover. Ele tinha toda a escolha, todo o poder.

Narcisa iria o queimar. Draco sabia disso e ele tinha tempo para sair de perto dela. Mas Narcisa iria o abraçar. E então Draco deixava ela se aproximar. Ele se aproximava também, abria os braços e praticamente pulava em direção ao fogo no corpo dela.

Ele acordava antes das chamas o atingirem.

Era um constante nos sonhos de Draco, apesar de realmente não ter sido o caso na vida real.



Draco ficou sentado na calçada.

As mãos dele seguraram o isqueiro com força e firmeza, o fechando e o abrindo bruscamente, deixando o agradável clic que ele fazia o distrair e o impedir de pensar direito. Clic, clic, clic. Haviam pássaros cantando em algum lugar, o sol batendo nos olhos cerrados de Draco. Ele continuou olhando para baixo, nem olhando para cima nem se encolhendo quando um carro passou bem na rua na frente dele, tão perto que fez o cabelo de Draco se bagunçar um pouco.

Clic, clic, clic.

"Você não vai entrar?" uma voz atrás dele disse. "Duda tá te esperando, pelo que eu ouvi, e ele não é exatamente paciente."

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